Economia

Apesar de inflação e PIB, mercado de trabalho vai bem, obrigado

Índice que mede desde renda e desigualdade até escolaridade tem avanço
Emprego. O atuário Caio Caldeira foi admitido este ano numa multinacional Foto: Gustavo Stephan / Gustavo Stephan
Emprego. O atuário Caio Caldeira foi admitido este ano numa multinacional Foto: Gustavo Stephan / Gustavo Stephan

RIO - Inflação alta e baixo crescimento não roubaram a qualidade do mercado de trabalho este ano. Apesar de tudo indicar que a taxa de desemprego vá ficar estacionada e de a geração de vagas estar agora num ritmo mais lento, o mercado de trabalho está em uma situação melhor do que em 2012, segundo índice calculado pelo economista João Saboia, do Instituto de Economia da UFRJ. O indicador, feito a partir da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, mede nove variáveis, como o desemprego de longa duração, baixa remuneração, desigualdade e escolaridade dos trabalhadores, entre outros. Ele está em 0,823 este ano, acima de igual período do ano passado, quando era de 0,804 (quanto mais perto de 1, melhor).

O atuário Caio Caldeira, de 27 anos, foi admitido neste ano na Mercer Consultoria de Recursos Humanos. Trabalha prestando assessoria para empresas que querem implantar planos de previdência complementar fechada. Apesar da rotina intensa, com muitas horas de trabalho, acredita que atuar em uma multinacional pode lhe abrir portas.

- Vim para uma grande multinacional disposto a ter mais chances de crescer profissionalmente. Ter passado por uma universidade pública contou muito na hora de ser contratado - afirma ele, que é formado na UFRJ.

Pelos cálculos do economista João Saboia, do Instituto de Economia da UFRJ, em setembro, a posse da carteira de trabalho teve maior contribuição para a qualidade da ocupação, responsável por 45% da melhora em comparação com o mesmo mês do ano passado. A remuneração veio em segundo lugar, com 33% do avanço do índice. Isto reflete maior qualidade no trabalho, apesar de a taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país ter ficado em 5,4% em setembro, praticamente igual aos 5,5% registrados em igual período do ano passado, segundo o IBGE.

- A renda continua crescendo, a desigualdade de rendimentos não aumentou e a sub-remuneração é muito baixa - diz Saboia. - As pessoas conseguem negociar aumento real, e quem está entrando obtém mais do que quem entrava ano passado.

O economista da Unicamp Claudio Dedecca pondera que, apesar da melhora na formalização, o mercado de trabalho ainda convive com alta rotatividade:

- Estamos num momento crítico para a tomada de decisão. Se não resolvermos o problema do crescimento econômico, esses indicadores vão sofrer reversão.

Pastore: perdendo força

Para Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central e professor da USP, um dos principais entraves para o mercado de trabalho em 2013 continua sendo a inserção de trabalhadores em segmentos menos produtivos, como o de serviços:

- Apesar de a taxa de desemprego estar baixa, o quadro não é tão bom quanto há dois anos. Estamos perdendo força e velocidade na geração de emprego com salários mais compensadores. Os trabalhadores com mais nível educacional têm crescimento salarial mais lento dos que os com menos educação.

Entre os fatores que colaboram para a melhora do emprego está a menor pressão da força de trabalho, consequência do menor crescimento vegetativo. Isso faz com que o desemprego permaneça baixo, mesmo sem geração substancial de vagas. O economista José Marcio Camargo, da gestora de recursos Opus, vê pouca alteração no quadro geral do mercado de trabalho em 2013.