Economia

Império X: antes da queda, ganhos de R$ 307 milhões

Executivos e conselheiros de OGX e OSX, hoje no centro da crise do grupo, prosperaram em três anos

Para Eike, política de remuneração do grupo visa a incentivar condução dos negócios com êxito e cultura empreendedora
Foto: Jonathan Alcorn / Bloomberg
Para Eike, política de remuneração do grupo visa a incentivar condução dos negócios com êxito e cultura empreendedora Foto: Jonathan Alcorn / Bloomberg

RIO — A derrocada do Império X não deixou apenas tristeza entre os investidores que amargaram prejuízos na Bolsa. Também houve gente que surfou na onda de aparente prosperidade das empresas e que embolsou alguns milhões de reais. Nos últimos três anos, executivos e conselheiros da OGX e da OSX — empresas de petróleo e do ramo naval de Eike Batista que estão no centro da crise — receberam R$ 307,2 milhões. A OGX pediu recuperação judicial no último dia 30 e a OSX decidiu na sexta-feira que fará o mesmo.

Os dados de ganhos constam dos formulários de referência arquivados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), xerife do mercado de capitais brasileiro, e incluem desde salários e pagamentos por participação em comitês à remuneração atrelada a ações. Se consideradas as cinco principais empresas do grupo — OGX, OSX, MMX (mineração), MPX (atual Eneva, energia) e LLX (logística) —, o valor sobe para R$ 533,3 milhões.

Como parte dessa remuneração está relacionada a opções de compra de ações, nem todo o montante foi de fato embolsado. Considerando a remuneração em dinheiro (salários, pagamento por participação em reuniões ou comitês e participação nos resultados), executivos e conselheiros da OGX e da OSX receberam R$ 35,8 milhões entre 2010 e 2012. Apenas em 2010 começou a valer uma resolução da CVM que determina a publicação da remuneração de diretores e conselheiros de companhias de capital aberto. Por isso, não há informações disponíveis sobre anos anteriores.

Não é possível saber ao certo quanto cada diretor ou cada conselheiro recebeu efetivamente, pois a rotatividade nas empresas X é grande, e alguns cargos ficaram vagos por meses. Mas sabe-se que foi um seleto grupo. O número de conselheiros variou entre oito e 12 por ano em cada empresa e o número de diretores foi mantido em cinco, em média. O próprio Eike é presidente do Conselho da OGX, da OSX e da MMX. Até pouco tempo atrás também presidia o Conselho da LLX e da ex-MPX. Seu pai, Eliezer Batista, também ocupa a vice-presidência do Conselho nas três primeiras.

No auge, R$ 10 milhões por diretor

A partir dos dados, no entanto, é possível estimar quanto cada executivo recebeu. Na OGX, por exemplo, a remuneração total dos diretores em 2010, auge do flerte da petroleira com a Bolsa, somou R$ 49,5 milhões, segundo o relatório informado à CVM. Como só há cinco cadeiras na diretoria, cada executivo recebeu cerca de R$ 10 milhões naquele ano. Excluindo a remuneração em ações, o valor cai para R$ 1 milhão, em média.

— A remuneração em ações é uma prática comum no mercado e faz parte da política de retenção de talentos das empresas. Em geral, o valor em dinheiro recebido pelos executivos corresponde a 10% do valor total da remuneração, quando esta inclui opção de compra de ações. É a forma que os empresários têm de reter funcionários por determinado período, que costuma variar de três a dez anos. Se o executivo sai antes do tempo, não leva as ações — diz Ylana Muller, sócia-diretora da consultoria de Recursos Humanos Yluminarh e professora do Ibmec.

A LLX frisou que desde 14 de outubro não faz mais parte do grupo (foi comprada pela americana EIG) e que sua “estratégia visa a atrair e reter administradores considerados estratégicos para o desenvolvimento dos negócios no médio e longo prazo”. Procuradas, as demais empresas não fizeram comentários.

A remuneração da administração das companhias do grupo X é composta por três categorias: remuneração fixa (salário e outros benefícios, estabelecidos anualmente em assembleia), uma parcela variável (sujeita ao cumprimento de metas) e uma parcela baseada em ações, cujas diretrizes foram estipuladas em dois planos. No documento que detalha a política de remuneração da OSX, por exemplo, fica claro o objetivo de Eike ao adotar essa prática. Os planos “visam a incentivar seus administradores e principais empregados e colaboradores a conduzir com êxito os negócios da companhia, estimulando a cultura empreendedora e orientada para resultados”.

‘Comportamento oportunista’

Para os críticos, ao atrelar ganhos de seus funcionários às ações da própria companhia, Eike teria criado um ambiente favorável a um otimismo excessivo, no qual a divulgação de boas notícias elevavam o preço dos papéis e, consequentemente, a fortuna dos executivos.

— É preciso criar mecanismos de governança que inibam o comportamento oportunista. A própria presença do pai de Eike nos conselhos evidencia falha na governança — diz Marco Túlio Zanini, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape/FGV).

Para 2013, a política de remuneração do grupo se mantém. A previsão de remuneração para conselheiros e diretores da OGX e da OSX é de R$ 30,8 milhões no total. Com os papéis em baixa, o peso das ações no bolo vai despencar. Em 2010, quando o papel da petroleira atingiu o pico de R$ 23,17, a remuneração com base nas ações respondia por 97% do total no caso dos conselheiros e 89% no caso dos diretores. A previsão para 2013 é que a parcela da remuneração em ações represente 21% do total no caso dos conselheiros e 27% no caso dos diretores. As ações vêm sendo negociada a centavos.