Economia

Vencedor do Galeão usou ‘estratégia Anderson Silva’, de levar no primeiro lance

Em entrevista exclusiva ao GLOBO, presidente da Odebrecht TransPort e futuro presidente do concessionário do aeroporto falam sobre os planos para operar o terminal, privatizado na sexta-feira por R$ 19 bilhões

Luiz Rocha, que comandará as obras do Galeão, e Paulo Cesena, presidente da Odebrecht TransPort (à direita)
Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Luiz Rocha, que comandará as obras do Galeão, e Paulo Cesena, presidente da Odebrecht TransPort (à direita) Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO - No fim de 2014, seis meses após a Copa, será possível sentir os efeitos da privatização do Galeão, dizem o presidente da Odebrecht TransPort, Paulo Cesena, e o futuro presidente do concessionário, Luiz Rocha. O grupo, que assina o contrato em março e começa a operar entre maio e junho, conta com a Changi (de Cingapura)

Foi caro pagar R$ 19 bilhões pelo Galeão?

Cesena: A gente estava muito seguro. O pessoal brincou que a gente teve a estratégia do Anderson Silva (risos), de liquidar no primeiro lance. Mas o mais importante é que temos um plano de negócios baseado na previsão de que, a longo prazo, o Galeão pode ser a grande entrada do Brasil. Nossa decisão está relacionada aos méritos do Galeão e suas perspectivas de crescimento.

Haverá competição com Guarulhos?

Cesena: Ela vai ocorrer talvez um pouco mais à frente. O que vai definir será o posicionamento das companhias aéreas. E teremos que ter um relacionamento extremamente ganha-ganha com as aéreas.

Luiz Rocha: Na época que eu estava no Galeão, a base dessas empresas era aqui, e elas foram, pouco a pouco, migrando pra São Paulo.

Cesena: Não acho que essas bases vão voltar ao Galeão, mas, em uma década, o país terá uma dimensão de passageiros que viabiliza dois grandes aeroportos.

É possível bater antes a previsão de 60 milhões de passageiros/ano, prevista no edital para o fim da concessão, daqui a 25 anos?

Cesena: Ela deve ser atingida em 15 a 20 anos. No fim da concessão, pode chegar a 80 milhões por ano.

E os planos para a nova pista? Há muitas pessoas morando no entorno.

Rocha: Vamos procurar fazer de tal forma que os efeitos na comunidade e os efeitos ambientais sejam mínimos. Podemos colocar a pista em outro local, desde que atendamos as condições do edital.

Quando esta pista será necessária?

Rocha: Por volta de 2020.

Cesena: Nos próximos cinco anos, o foco será atender a expectativa dos passageiros na qualidade do serviço, rapidez, conforto. Os investimentos até 2016 são, basicamente, o edifício garagem, pontes de embarque e o pátio. Quando você entra no Galeão, tem a sensação de que há espaço para caramba, mas isso é no check-in. Faltam pátio e portão. Quando pousamos e temos que esperar um tempão até descer do avião, é por falta de pátio. É o mesmo problema quando entramos no avião e ele demora a decolar. Estas obras previstas até 2016 vão desafogar o Galeão. Em paralelo, vamos focar na melhoria da qualidade dos serviços. As grandes obras vão acontecer a partir de 2020.

Como será a relação com as empresas aéreas?

Cesena: O que faz a força de um aeroporto como o Galeão é a combinação de várias empresas, grandes e dominantes. O que as companhias aéreas precisam é de aviões cheios. A nossa relação será ganha-ganha para atrair mais passageiros. Quando você coloca mais pátios, mais pontes de embarque, você aumenta o número de slots (autorizações para pouso e decolagem). Vamos procurar cada companhia para entender qual o seu plano de crescimento.

Vocês podem aproveitar a experiência da Changi para atrair companhias internacionais?

Cesena: Não tenha dúvida. E essa questão da geopolítica das companhias aéreas começa a mudar. Antes eram companhias americanas e europeias. Agora há empresas do Oriente Médio, da Turquia, da Ásia. E há a política de “céus abertos”, que são tratados entre países que permitem mais voos, mais slots, e a partir de 2015 ou 2016, vão levar a uma liberalização maior.

Quantas pessoas poderão vir de Cingapura?

Rocha: Deve ter uns três ou cinco de imediato. Há os que terão de se mudar para cá e há outro grupo que estará muito presente no período de transição. Temos que absorver a eficiência asiática e manter o estilo brasileiro.

O Galeão vai ter piscina, como no aeroporto de Cingapura?

Rocha: (risos) Quem sabe em uma segunda fase...

Cesena: (risos) Temos que ter o pé no chão. Quando o passageiro vai viajar de férias, quer entrar no aeroporto e achar que já começaram suas férias. Numa viagem a trabalho, você já está tenso, o aeroporto não pode te deixar ainda mais tenso. Não é a piscina que vai resolver nenhum destes dois problemas, mas um estacionamento seguro, um atendimento rápido, banheiro limpo, Wi-Fi, tomada para recarregar o celular...

E o entorno do aeroporto? O que é possível fazer?

Rocha: Nesse caso, os interesses são convergentes. Nós, Infraero, prefeitura do Rio, usuário, então é mais fácil a busca de uma solução, o próprio leilão é algo nesta direção.

Todo grande aeroporto tem ligação com a cidade por trilhos, até São Paulo está construindo uma ligação com Guarulhos. Há algum projeto para o Galeão, ainda mais que a Odebrecht TransPort também é a concessionária da SuperVia?

Cesena: O primeiro impacto será o BRT Transcarioca. Ele não chega ao Centro ou Zona Sul, mas hoje se você chega no (aeroporto) Charles de Gaulle, em Paris, você precisa fazer uma baldeação para ir até a Torre Eiffel. Todas as conexões que saiam do Galeão para a Zona Sul ou para o Centro pressupõem algum tipo de baldeação. Agora, se vai ter uma ligação por trilho, isso é objeto de planejamento futuro.

Quando vamos poder sentir as melhorias?

Rocha: A partir do fim de 2014, já há ações imediatas. Escadas rolantes, banheiros, esteiras e luz funcionando bem.

Cesena: Você tem que desestressar o passageiro. O Galeão tem uma concepção antiga, com lojas e restaurantes no terceiro andar. Na concepção mais moderna, as lojas têm que estar no caminho do passageiro. A área comercial vai passar de dez mil m2 para 30 mil m2 provavelmente em cinco anos e, depois, vai passar para 60 mil m2 no fim da concessão.

De onde virá o dinheiro?

Cesena: O mais importante é o financiamento para as obras. O BNDES será a principal fonte.