Os gritos dirigidos a Neymar por torcedores na porta no CT do
Barcelona no primeiro dia de treinos do brasileiro em 29 de julho eram de
euforia, entusiasmo e curiosidade para ver de perto o novo reforço do time,
protagonista da Copa das Confederações, então recém-conquistada pela Seleção. Mas, fora do ambiente do clube, havia também ceticismo em relação ao ex-jogador do Santos, e os questionamentos pareciam prontos a
atrapalhar a adaptação ao novo país, cultura e clube. Cem dias depois, os muitos dribles, as seguidas boas atuações e os ainda que poucos gols foram suficientes para fundir os dois lados, mudando o cenário (assista ao vídeo acima e veja as opiniões de alguns fãs catalães). As dúvidas desapareceram, e agora são poucos os que não têm a certeza absoluta de que o Barça fez um ótimo negócio.
Para os torcedores do Barcelona, o camisa 11 é o jogador em melhor forma do
time. O único ponto de questionamento é a dupla com Messi, que ainda não funcionou
tão bem quanto o esperado. Os dois jogadores têm brilhado individualmente,
sobretudo na ausência um do outro. Mas, juntos, pouco têm produzido.
Impressionados com os números e poder de decisão de Neymar, os torcedores
ouvidos em Barcelona pelo GloboEsporte.com defendem a presença do
camisa 11 até entre os três finalistas do prêmio da Bola de Ouro.
Muitos passes, poucos gols
Em quinze jogos oficiais pelo Barcelona, Neymar fez quatro gols, dois
deles nos principais rivais do time na Espanha: Real e Atlético de Madrid. O
gol contra a equipe treinada por Simeone foi decisivo na conquista do título da
Supercopa - o empate de 1 a 1 no jogo de ida, fora de casa, garantiu o troféu depois do 0 a 0 no Camp Nou. Nas assistências, o brasileiro lidera as estatísticas no Campeonato Espanhol com
sete passes decisivos: três para Messi e Sánchez e um para Pedro marcar. Os torcedores só
pedem que o craque continue jogando como tem feito até ao momento.
- Estou muito contente com
o rendimento do Neymar, esperava um pouco mais de gols, mas acho que isso nem é
o mais importante. Ele fez muitas assistências, ajudou o time e tem sido
decisivo. Está no bom caminho e no futuro, acho que pode igualar Lionel Messi -
comentou o engenheiro de 37 anos, Miguel Ferrer.
A adaptação de Neymar ao Barcelona foi tão rápida que
surpreendeu os europeus em geral. A seu favor, o ex-santista tinha um time
bem estruturado, um grupo unido e jogadores disponíveis para o acolherem. Do
outro lado da balança, pesava a difícil competição dentro do vestiário. A
concorrência era o grande desafio. Messi é o craque do time, ajuda, mas
é competitivo e sabem todos o que o rodeiam que perde a paciência facilmente
com falhas dos companheiros.
Pedro pode não ter os dotes de Neymar, mas é
eficaz. Sánchez estava no time há dois anos e recebera injeção de confiança de
Tata Martino. E ainda tem Fàbregas, jogador de classe, pretendido por meia
Europa durante a janela de transferências. A primeira missão de Neymar era
conquistar a titularidade e convencer Tata de que era imprescindível para o
time. A meta foi alcançada ao fim de um mês e meio no clube. Neymar começou jogando pela primeira vez contra o Ajax, na estreia na Liga dos Campeões, em 18 de setembro. Até agora, o
atacante disputou 12 de 15 partidas entre os 11 iniciais e apenas três como reserva.
Consciente da concorrência, driblou a pressão e impressionou os
companheiros.
- Ele é muito jovem, um
garoto, mas cresce a passos muito largos. Tem caráter e autoconfiança dos
craques. Seu jogo é muito bom e tem condições para ser um atacante muito
importante na história do Barcelona - elogiou Fàbregas numa entrevista ao
jornal "Marca" após fazer o gol da vitória sobre o Celtic por 1 a 0, pela Liga dos Campeões, em jogada iniciada por Neymar.
Neymar também recebeu elogios de Alexis Sánchez e dos rivais europeus. Casos
dos treinadores do Ajax e do Milan, que admitiram que Neymar era uma nova dor de
cabeça para os adversários.
- Com Neymar, o Barcelona melhorou no ataque, ele dá mais rapidez e
verticalidade ao time, afirmou Allegri antes do jogo da ida com o Milan.
Para o jornalista catalão Jordi Grau, da "TV3", o segredo da rápida
adaptação de Neymar foi a própria qualidade do camisa 11. O repórter destaca a
gestão realizada por Tata Martino, mas atribuiu o mérito ao brasileiro (assista ao vídeo ao lado e veja as opiniões do espanhol).
- A vinda do Neymar para o
Barcelona se transformou na melhor notícia da temporada. Para além dos números,
ele resolveu problemas, sobretudo esse atual, que é a queda de rendimento de Lionel Messi. O mérito é todo dele, que é um futebolista extraordinário. Acho
que a Copa das Confederações o ajudou a amadurecer. A gestão do Tata Martino
também foi muito boa, porque primeiro lhe concedeu alguns minutos e lhe deu
responsabilidade aos poucos - afirmou o jornalista, que segue diariamente a
atualidade do Barcelona.
candidato a bola de ouro
As boas atuações de Neymar, sobretudo na segunda metade do ano, garantiram a sua presença na lista dos 23 melhores jogadores do
mundo. No dia 9 de dezembro serão conhecidos os três finalistas da Bola de Ouro, prêmio dado ao melhor jogador do ano. Na ótica dos torcedores do Barcelona, o brasileiro merece entrar no pódio. Cristiano Ronaldo e Lionel Messi parecem ter dois lugares "praticamente" garantidos, como acontece desde 2008. Mas a
terceira cadeira ainda está livre. Eleito o craque europeu da temporada passada, Ribéry é o mais cotado para ocupar a vaga, mas as chances de o camisa 11 entrar na lista vêm ganhando destaque nos principais veículos de comunicação do continente.
- Acho que ele merece pela
boa temporada que fez no Santos, pela grande exibição na Copa das Confederações
e por tudo aquilo que tem feito no Barça. Globalmente, ele é sim um dos três
melhores do mundo e merece essa distinção - afirmou David Casas, operador de som
de 24 anos.
- Atualmente, Neymar é o
melhor jogador do Barça, ele poderia entrar na lista junto a Cristiano Ronaldo
e Messi - opinou a estudante Laura Reinfrande de 22 anos.
O repórter Jordi Grau também defende a presença de Neymar na lista e exclui
Cristiano Ronaldo da corrida.
- Os três jogadores que este ano têm méritos para estar na final da Bola de Ouro
são o Ribery, que ganhou o “triplete” com o Bayern de Munique, Lionel Messi,
porque venceu o Campeonato Espanhol com mais de 100 pontos, e o terceiro é
Neymar, pelo salto de qualidade que deu na Europa e pela conquista da Copa das
Confederações. O quarto, em minha opinião, seria Cristiano Ronaldo, porque,
apesar de ter conseguido um número de gols brutal, nada venceu essa temporada
com o Real Madrid e a com a sua seleção, que ainda nem garantiu a qualificação
para a Copa do Mundo do Brasil.
dupla sem sincronia
O único senão dos primeiros 100 dias de Neymar na
Catalunha é a funcionalidade da dupla com Lionel Messi. Apesar dos três passes
para gols do argentino, é precisamente nos jogos em que o camisa 10 não está que
o brasileiro brilha mais. Foi assim contra o Celtic pela Liga dos Campeões, diante do
Valladolid, no Campeonato Espanhol, e no jogo da ida da Supercopa da Espanha, frente ao
Atlético de Madrid, quando o melhor do mundo foi substituído por lesão.
Na presença de
Messi, nos últimos jogos, contra Real Madrid e Espanyol, Neymar
também se sobressaiu, com gol e assistência, e foi o argentino que não esteve nos
seus dias. Em contrapartida, quando a estrela do camisa 10 brilha, como aconteceu contra
Ajax e Milan pela Champions, a atuação do brasileiro é menos reluzente. Para Jordi
Grau, o tema não é preocupante e está pendente das lesões que esta temporada
afetam o melhor do mundo.
- A relação entre os dois é
boa. Por culpa dos problemas físicos do Messi, ainda não conseguimos ver os dois
juntos no máximo rendimento. Já construíram alguns gols, já fizeram grandes
jogos individuais, mas falta ver uma grande partida dos dois jogando juntos - afirmou o jornalista.
Contra o Milan, uma de suas vítimas preferidas, Messi chega motivado para se recuperar de uma sequência de lesões que o atrapalharam
nas últimas semanas. O argentino
fez seis gols em sete jogos contra os italianos. Neymar ainda tenta balançar a rede pela primeira vez na Liga dos Campeões. Mas, mesmo que não marque, o brasileiro tem seus trunfos para se sair bem. E crédito sobrando.