21/10/2013 16h13 - Atualizado em 21/10/2013 17h09

Entrada de Total e Shell em consórcio de Libra surpreende, dizem analistas

Consórcio formado por Petrobras e 4 empresas venceu o leilão de Libra.
Inexistência de concorrência é ruim para o país, diz Alexandre Pires.

Gabriela GasparinDo G1, em São Paulo

A participação das petroleiras Shell e Total no consórcio que venceu o leilão de exploração do Campo de Libra realizado pelo governo na tarde desta segunda-feira (21), no Rio de Janeiro, surpreendeu especialistas do setor ouvidos pelo G1. Isso porque o leilão do pré-sal foi o primeiro em regime de partilha - em que parte do petróleo extraído fica com a União - o que é visto por alguns analistas como desvantajoso em relação ao modelo de concessão.

O consórcio formado pelas empresas Petrobras, Shell, Total, CNPC e CNOOC arrematou o campo de Libra e foi o vencedor do leilão. Único a apresentar proposta, contrariando previsões do governo, o consórcio ofereceu repassar à União 41,65% do excedente em óleo extraído do campo – percentual mínimo fixado pelo governo no edital.

“Já era esperado que teria só um consórcio e que a Petrobras entraria. Eu acho que a única surpresa é a Shell e a Total terem entrado, porque num  primeiro momento as pessoas achavam que elas não entrariam”, disse ao G1 o ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn.

“É um modelo que nunca vai permitir competição. O fato de ter sido ofertado o mínimo [de 41,65% do óleo produzido] também não é surpresa, porque o modelo não ocorre a competição e vai dar sempre o mínimo desse jeito.”

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, também disse, em entrevista à GloboNews, ter ficado surpreso com a entrada das duas empresas no consórcio. Ele também avaliou que o fato de ter apenas uma proposta é ruim para o Brasil.

"Era esperado o repasse mínimo. Quando não tem concorrente, você dá uma oferta mínima, porque teria a certeza que não haveria concorrente, o que é ruim para o país. Se tivesse concorrência, teria um excedente para a união maior do que 41,65%."

"Já estava na expectativa de ser um único consórcio e por isso já se sabia de antemão que iria se oferecer o mínimo estabelecido pelo governo", avaliou Zylbersztajn.

"O interessante é que a Petrobras tem 40% ,ela ficou com a maior parcela do consórcio", avaliou Pires. O que significa que a estatal brasileira terá que colocar 40% dos R$ 15 bilhões do bônus do campo de Libra, pago na assinatura do contrato, fixado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).

u tive uma impressão muito positiva do resultado, foi muito promissor que se obtivesse uma resposta tão diversificada para o consórcio vencedor"
Segen Estefen, professor de engenharia oceânica da UFRJ

'Resulado foi positivo'
O professor de engenharia oceânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Segen Estefen, por sua vez, analisou como positivo o resultado do leilão. "Eu tive uma impressão muito positiva do resultado, foi muito promissor que se obtivesse uma resposta tão diversificada para o consórcio vencedor. Tivemos aí a Petrobras que vai ter 40%, as europeias com outros 40% [Shell e Total] e as chinesas com 20%", disse.

De acordo com ele, a participação das duas empresas europeias também surpreendeu, principalmente a entrada da Shell. "A Shell é iminentemente privada, surpreendido um pouco mais o que dá um tempero".

Na opinião dele, o consórcio alia a experiência da estatal brasileira com duas empresas europeias detentoras de alta tecnologia, o que dá mais segurança para a exploração.

Estefen não viu de forma negativa o fato de não ter tido concorrência. "Certamente nenhuma empresa vai entrar numa aventura num leilão como esse (...). O resultado é fruto de meses de conversa", avaliou, acrescentando que foi um teste importante para o modelo de partilha. "É um jogo de xadrez não é um jogo de roleta. Quem entra no jogo tem que estar muito bem estudado, muito bem apoiado, não é nenhuma surpresa só ter uma proposta, mostra a maturidade dessa proposta."

Participação de estatais
Zylbersztajn ressaltou, ainda, o fato de grande parte do consórcio estar nas mãos de estatais, isso porque a Petrobras tem parcela de 40%, as duas chinesas (CNPC e CNOOC) ficam com 20% (10% cada). A Total (20%), com sede na França, tem participação estatal. Apenas a Shell (20%) é totalmente privada.

No total, 11 empresas foram habilitadas para participar da rodada. Entretanto, na manhã desta segunda, poucas horas antes da sessão, a espanhola Repsol, uma das maiores empresas do setor de petróleo no mundo, anunciou que, apesar de habilitada, não faria oferta por Libra.

A previsão inicial da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíves (ANP) era que até 40 empresas poderiam participar do leilão de Libra – gigantes do setor como as norte-americanas Exxon Mobil e Chevron e as britânicas BP e BG nem chegaram a se inscrever.

No dia 10 de outubro, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que esperava entre dois e quatro consórcios na disputa, envolvendo as 11 empresas habilitadas.

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