Economia

Eike, do céu ao inferno

Empresário teve queda tão vertiginosa quanto sua ascensão
No auge: Eike faz pose ao receber a presidente Dilma na celebração do início da produção de petróleo da OGX, em abril do ano passado Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
No auge: Eike faz pose ao receber a presidente Dilma na celebração do início da produção de petróleo da OGX, em abril do ano passado Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO - Solitário e exótico. Um vendedor sem igual, que dizia aos investidores o que queriam ouvir. Assim é descrito Eike Batista por muitos que, profissionalmente, conviveram com o empresário desde o início de sua carreira, nos anos 80. O empresário já admitiu com naturalidade que tinha a ambição de ser o mais rico do mundo. Há três anos, sua fortuna havia passado do 142⁰ para o sétimo lugar na lista da “Forbes”. Era o mais rico do Brasil. Conhecido pelo faro empreendedor, costumava afirmar que o segredo do sucesso era ter o olhar atento a oportunidades. Por esse caminho, Eike construiu uma imagem de sucesso, deixando para trás uma identidade vinculada à ex-mulher Luma de Oliveira e ao pai, Eliezer Batista, ex-presidente da Vale e ex-ministro de Minas e Energia de João Goulart.

A voracidade por explorar oportunidades talvez explique a diversificação das empresas X: energia, logística, mineração, carvão, infraestrutura e indústria naval. E tal apetite seduziu investidores. De 2005 a 2012, captou US$ 26 bilhões para as empresas do grupo EBX. Mas reconhecia como seu pior erro os “negócios paralelos”. Investiu em companhia de cosméticos, hospital, hotel e catering, entre outras iniciativas.

Nascido em Governador Valadares (MG), em 3 de novembro de 1956, Eike viveu sua juventude na Alemanha, onde vendeu apólices de seguro de porta em porta.

De volta ao Brasil, Eike foi para a Amazônia, onde iniciou seu primeiro negócio no país: a exploração de ouro. Depois, criou empresas de mineração, associou-se a canadenses para explorar ouro e, sem os resultados prometidos, vendeu sua participação.

Supersticioso, Eike tem um forte lado místico: escolheu o X da multiplicação para batizar suas empresas e adotou o símbolo do sol inca para seu grupo, considerado “um bom augúrio”. O empresário chegou a explicar a atual má fase por meio de conspirações cósmicas. Insone, mandava mensagens aos executivos do grupo de madrugada.

Fez parte da construção de sua imagem a “missão” de ajudar o Rio. Chegou a financiar a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e a dar suporte financeiro à instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), apoio que foi encerrado com a crise do grupo. Essas iniciativas, chamadas pelos críticos de “filantropia de resultados”, aproximaram Eike do governo federal e do ex-presidente Lula, que o apontava como modelo de empresário. No mês passado, o governo adotou outro tom. Em evento em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a crise do grupo EBX atrapalhou o desempenho da economia brasileira e arranhou a reputação do país.

A autoconfiança era a marca do empresário. Eike lançou um livro sobre sua trajetória de sucesso, “O X da questão”, escrito pelo amigo e jornalista Roberto D’Ávila, com dicas para ganhar dinheiro. Dizia que seus ativos eram à prova de idiotas, e que sua função era lapidar diamantes brutos. Vaidoso, disse ao GLOBO não ter problema com sua exposição na mídia.

- Por que só jogador de futebol, dupla sertaneja (podem aparecer)?... Sou empresário transparente, tem que mostrar mesmo.

Outras frases marcantes foram: "Deus deixou o item 'saber fazer dinheiro' para o meu pote", "Tenho que concorrer com o senhor Slim (o bilionário mexicano Carlos Slim). Não sei se vou passá-lo pela esquerda ou pela direita, mas vou ultrapassá-lo" e "Tenho um pacto com a Mãe Natureza. Eu perfuro e acho coisas".

Antes assíduo membro do Twitter, Eike postou pela última vez em 25 de junho. Agradeceu a um internauta que perguntara sobre o nascimento de seu filho Balder, fruto do relacionamento com a advogada Flávia Sampaio. Em 21.686 tuítes, deu conselhos sobre negócios, comentou informações de suas empresas e comemorou conquistas. Hoje, não é mais bilionário, com patrimônio estimado até o início do mês em US$ 75 milhões, pela Bloomberg.

Otimismo excessivo favoreceu derrocada

Reconhecidamente temperamental, segundo os colaboradores mais próximos, sua personalidade singular e o humor volátil influíram no sucesso e no fracasso de seus negócios. Tiveram inclusive um papel importante nas recentes negociações com credores.

Depois de um crescimento espetacular, os ventos começaram a mudar em junho do ano passado, quando a OGX, sua empresa do setor petrolífero, refez as contas do potencial de exploração da área de Tubarão Azul (Waimea), na Bacia de Campos. De acordo com as novas estimativas, o poço explorado pela OGX tinha capacidade de gerar cinco mil barris diários de óleo, em vez dos 20 mil barris previstos originalmente. A notícia, divulgada no dia 26 daquele mês, foi um banho de água fria nos investidores que acompanharam o otimismo excessivo de Eike. Naquele dia, as ações da companhia despencaram 25,32%.

Ao mesmo tempo, a estimativa equivocada acendeu a luz amarela e chamou a atenção para as fragilidades de Eike. Críticos e principalmente investidores começaram a examinar com lupa o comportamento das companhias “X” e o modelo de gestão do empresário. Apontaram, por exemplo, o altíssimo patamar dos bônus pagos aos executivos de suas empresas. Disseminou-se no mercado a noção de que as empresas de Eike enriqueceram apenas os seus executivos, sobretudo aqueles que compartilhavam o otimismo do “chefe”.

O otimismo de Eike se mostrou exagerado e é ele que explica uma boa parte de seu fracasso, marcado por uma queda tão vertiginosa como fora sua ascensão.