Economia

Dólar fecha com leve alta a R$ 2,28, após Fed manter estímulos à economia dos EUA

Banco Central fez três leilões de dólares no mercado futuro, mas não conseguiu frear a alta da moeda americana

SÃO PAULO - Bastou o Federal Reserve (Fed), o banco central americano anunciar nesta tarde que manteve sua política de estímulo à economia, reafirmando a compra mensal de títulos em US$ 85 bilhões, para que o dólar reduzisse a alta frente ao real. Pela manhã, enquanto o mercado ainda tinha dúvidas sobre essa decisão, a moeda americana subiu até R$ 2,302 na máxima do dia, uma elevação de 0,92%. O Banco Central realizou três intervenções no câmbio, através da venda de dólares no mercado futuro, mas não conseguiu reverter a alta da do dólar.

Mas depois que no Fed anunciou que não haveria mudanças, a moeda americana começou a ceder. No fim do dia, encerrou negociada a R$ 2,280 na compra e R$ 2,282 na venda, uma alta de 0,08%, a maior cotação desde 31 de março de 2009, quando a divisa fechou a R$ 2,318. Na mínima do dia, o dólar foi negociado a R$ 2,275. No mês de julho, o dólar acumulou valorização de 2,27% frente ao real, pelo terceiro mês consecutivo.

Na Bolsa de Valores de São Paulo, o índice de referência, Ibovespa, também reduziu um pouco a queda verificada desde a abertura depois da decisão do Fed. No fechamento, o Ibovespa teve desvalorização de 0,67% aos 48.234 pontos e volume negociado a R$ 6,9 bilhões. Foi o terceiro pregão consecutivo de queda. Mas em julho, o Ibovespa teve alta de 1,64%. Foi o primeiro mês do ano em que o índice terminou positivo.

A última vez em que o BC fez três leilões de swap tradicional num mesmo dia foi em agosto de 2002. São operações que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. Segundo operadores, a pressão altista sobre a moeda americana nesta quarta veio do mercado futuro, já que os investidores estrangeiros começaram o dia ‘comprados’ em 221 mil contratos de dólar futuro, o equivalente a US$ 11 bilhões. Na prática, eles apostaram na alta da moeda americana.

- Com o fim do mês, aumenta a pressão dos comprados para a Ptax (a taxa média do dólar que liquida os contratos) subir. Foi o que aconteceu hoje. Isso fez a Ptax fechar em alta, a R$ 2,2903. Depois que a decisão do Fed foi anunciada essa posições compradas começaram a ser desmontadas e o dólar começou a ceder - diz o sócio-diretor da corretora de câmbio Pionner, João Medeiros.

Nas três intervenções feitas hoje, o BC vendeu US$ 2,247 bilhões em 45,3 mil contratos, com vencimentos em 2 de janeiro e 3 de fevereiro do próximo ano. Na primeira intervenção, o BC informou que vendeu 30 mil contratos, o equivalente a US$ 1,49 bilhão de dólares. No segundo leilão do dia, foram vendidos US$ 757,5 milhões em 15,3 mil contratos. Na terceira oferta, quando foram oferecidos mais US$ 750 milhões em contratos, o BC não aceitou nenhuma proposta, mostrando que não vai vender dólares a qualquer preço. Segundo um analista, a oferta de dólares no mercado futuro serve como proteção (hedge) aos bancos já que o fluxo cambial está negativo em julho, até o dia 26, em US$ 2,04 bilhões.

Para Fernando Bergallo, gerente de câmbio simplificado da Tov Corretora, as atuações do BC tiveram como objetivo evitar que a cotação saísse de controle. Para ele, com as reservas internacionais em mais de US$370 bilhões, o BC tem ‘muita munição’ para derrubar a cotação se quiser, inclusive atuando no mercado à vista

- O BC quis evitar oscilações muito bruscas. Se quisesse, atuaria vendendo dólares no mercado à vista, o que poderia provocar mais nervosismo. Pelo comportamento do BC, a interpretação é que a autoridade monetária considera que o dólar nesse nível ainda pode melhorar a competitividade das empresas e ajudar a manter o nível de emprego. São benefícios que neste momento superam o impacto do câmbio na inflação - avalia Bergallo.

Além da pressão no mercado doméstico, o anúncio de que a economia americana cresceu mais do que o esperado no segundo trimestre colocou mais lenha na fogueira do câmbio. O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA se expandiu 1,7% a uma taxa anualizada no segundo trimestre na comparação com os primeiros três meses do ano. Analistas previam alta de 1,1%. Além disso, o setor privado americano criou 200 mil vagas em julho. O resultado também ficou acima do estimado por especialistas, que esperavam a criação de 183 mil a 185 mil postos. Esses números foram anunciados justamente no dia da reunião do Fed para decidir sobre a taxa básica de juro do país.

Dados mais fortes do PIB reforçaram a expectativa do mercado que o banco central americano poderia começar a reduzir os estímulos. Esse cenário acabou não se confirmando e o Fed ainda manteve a taxa de juro entre zero e 0,25% ao ano. O Fed não deu pistas de quando a redução dos estímulos deve começar, mas chamou a atenção dos analistas o comunicado divulgado após a reunião. O Fed trocou o termo ‘moderado’ por ‘modesto’ para descrever o crescimento da economia americana no primeiro semestre.

- A economia americana está se recuperando. Na minha avaliação, o Fed poderá começar a reduzir os estímulos de US$ 85 bilhões para algo como US$ 65 bilhões ou na reunião de setembro ou novembro. O desemprego ainda está muito elevado e a inflação mais baixa do que se esperava, para que os membros tomassem essa decisão hoje. Mas o mercado sabe que a liquidez e a taxa de juro atuais da economia americana não são reais - avalia o economista Álvaro Bandeira, da Órama Investimentos.

Bandeira acredita que a moeda americana deve terminar o ano oscilando entre R$ 2,25 e R$ 2,20.

Os principais índices acionários americanos amplificaram a alta após a decisão do Fed, mas acabarm fechando sem tendência definida: o S&P 500 caiu 0,01%; o Dow Jones se desvalorizou 0,14% e o Nasdaq teve alta de 0,27%.

Ambev: ações sobem após divulgação de balanço

Entre as ações mais negociadas, Vale PNA caiu 0,74% a R$ 28,22; Petrobras PN recuou 1,03% a R$ 16,29; OGX Petróleo ON subiu 3,12% a R$ 0,66, a segunda maior alta do pregão; Itaú Unibanco PN reduziu 0,27% a R$ 29,15 e Bradesco PN teve queda de 1,59% a R$ 27,70. A maior alta foi apresentada pelas ações PN da Ambev, com valorização de 4,73% a R$ 85,98, após a empresa divulgar um lucro líquido de R$ 1,8 bilhão no segundo trimestre, uma queda de 2,2% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o lucro chegou a R$ 1,9 bilhão.

Em assembleia, os acionistas da Ambev aprovaram o plano de reestruturação da empresa. A companhia informou que serão tomadas as providências necessárias para concluir o processo de aprovações regulatórias no Brasil e nos Estados Unidos de forma a possibilitar a listagem de suas ações ordinárias na BM&FBovespa e na New York Stock Exchange.

O plano de reestruturação inclui a incorporação da subsidiária da InBev pela Interbrew International BV, subsidiária da Anheuser-Bush InBev. Com a incorporação, acionistas da AmBev receberão ações ordinária da InBev. A AmBev reduzirá de três para duas as subsidiárias diretas, todas apenas com ações ordinárias.

Em relatório, analistas do Bank of America (BofA) Merrill Lynch avaliaram que a reestruturação ainda não está totalmente refletida nos preços das ações da companhia e reiteraram a recomendação de compra. "Vemos que no médio prazo o principal benefício da reestruturação é o potencial aumento do pagamento de juros sobre o capital próprio”.

Taxas dos contratos de juros futuros sobem com alta do dólar

As taxas no mercado futuro de juros começaram o dia em alta, acompanhando a valorização do dólar, que traz mais pressão sobre a inflação. Mas encerraram o dia quase estáveis, após o Fed manter os estímulos à economia e o dólar ceder. O contrato com vencimento em janeiro de 2014 terminou com taxa de 8,85% frente aos 8,84% de terça. O papel com vencimento em janeiro de 2015 tinha taxa de 9,59%, a mesma da véspera e o contrato com vencimento em janeiro de 2017 tinha taxa de 10,76% frente aos 10,77% de ontem.

Europa: desemprego fica estável

Na Europa, os principais pregões fecharam em alta. O índice Dax, da Bolsa de Frankfurt, subiu 0,06% e o índice Cac, do pregão de Paris, teve alta alta de 0,15%, enquanto o FTSE, da Bolsa de Londres, avançou 0,76%. Na zona do euro, a taxa de desemprego ficou estável em 12,1% em junho. Também foi divulgada a prévia da inflação ao consumidor referente a julho, que permaneceu inalterada em 1,6%, no acumulado em doze meses, na comparação com o mês anterior.

"Não há, portanto, sinais de pressão sobre a inflação europeia no curto prazo. Com isso, e em conjunto com a estabilização do mercado de trabalho, acreditamos que a necessidade de novos cortes de juros pelo Banco Central Europeu (BCE) foi, por ora, foi afastada", avalia em relatório o economista-chefe do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octávio de Barros.