Economia Emprego

Desastres on-line: histórias de mau uso da tecnologia no trabalho

E-mail respondido de forma errada, orçamento encaminhado por engano ou fofoca sem cuidado podem acabar comprometendo as relações com os colegas e com os chefes

RIO - Situação 1: uma profissional manda um e-mail para o marido dizendo que o ama. Recebe uma resposta do chefe e se dá conta de que, na verdade, foi o superior que recebeu a declaração de amor. Sorte que ele sabia que é homônimo do marido da funcionária e levou a situação na esportiva. Situação 2: outro profissional, em vez de encaminhar o e-mail para a colega reclamando que “o cliente era muito chato”, respondeu, claro, para o próprio cliente. Só que esse não achou graça e mandou demitir o responsável pela mensagem antipática. Situação 3: a estagiária volta de férias animada para mostrar as fotos da viagem. Chama os colegas, que se reúnem em torno de seu computador. Mas ela se confunde na hora de abrir as pastas do pendrive e acaba mostrando fotos em que aparece em situações bem íntimas com o namorado. O que fez a jovem entrar para o rol de histórias legendárias da empresa.

Não faltam situações parecidas com essas acima, todas verídicas. Basta o tema surgir em uma roda de conversa para que apareçam relatos dos mais engraçados aos mais trágicos. Toda companhia, aliás, tem pelo menos alguma história envolvendo desastres on-line. A tecnologia, que na maioria das vezes facilita e agiliza o trabalho, também pode criar constrangimentos e até, em casos que são mais extremos, provocar demissões.

— Sob o calor dos ânimos ou premidos pela pressa, muitos desatentos acabam por cometer deslizes e até mesmo desastres on-line. Quem já não ouviu falar de alguém que, ao usar a opção “responder a todos”, não acabou provocando desdobramentos desastrosos? — questiona a coach de carreiras Waleska Farias.

Segundo uma pesquisa feita pelo site NWJobs, os e-mails do tipo “responder a todos” são os que apresentam maiores riscos de acabarem de forma desastrosa. O levantamento diz que, durante um dia de trabalho, um profissional que atua em escritório gasta cerca de 15% do dia com e-mail, sendo que 5% do total são mensagens com opções de “responder a todos”.

Ignorar não é o melhor caminho

Glaucio Binder, sócio da Binder Visão Estratégica, já passou por uma saia-justa por conta disso. Foi convidado a montar um projeto como freelancer. Desenvolveu a proposta e mandou por e-mail para várias pessoas darem opinião.

— O papo ficou extenso. Em determinado momento a conversa se concentrou em mim e mais um. Comentei que seria bom que a apresentação não fosse feita por uma pessoa específica, pois diziam que ela não apresentava bem. Exatamente a pessoa que me convidou para o trabalho. Só esqueci que, no primeiro e-mail, ela estava copiada e permaneceu na conversa o tempo todo. Inclusive quando eu o critiquei. Até hoje eu não sei se ele viu.

Para Waleska, ignorar o ocorrido não é, de forma alguma, o melhor a se fazer:

— A melhor opção é, sempre, assumir a responsabilidade, pedir desculpas e tentar redimir-se do mau jeito. O reconhecimento do erro suscita a percepção de decência e muitas vezes oferece a oportunidade de um recomeço.

A designer instrucional Danielle Lessa não conseguiu ter sangue frio quando foi copiada num e-mail em que três funcionárias falavam mal dela.

— Fiz questão de mostrar que eu havia recebido o e-mail. Respondi de forma bem irônica, mas tão irônica, que a menina que havia escrito o e-mail me enviou outro com pedido de desculpas, toda sem graça — lembra Danielle, que diz que, mesmo com o pedido de desculpas, a relação ficou estremecida. — Fiquei quase um ano sem mandar trabalho para ela, depois, percebi que quem estava misturando as coisas era eu e relevei. Fiquei com bastante receio, mas voltei a trabalhar com ela.

O mau uso da rede social também estragou o relacionamento da sócia de uma empresa, que prefere não se identificar, com o estagiário. Ele havia sido designado para acompanhar um show patrocinado por um dos clientes da companhia. E usou seu Twitter para falar que tinha ficado entediado assistindo à apresentação.

— O cliente ficou sabendo e tive que afastá-lo da conta, mas o clima acabou ficando ruim e ele saiu depois de dois ou três meses.

Novas tecnologias aumentam riscos de erro

A pressa e a distração podem provocar consequências nada agradáveis quando o assunto é comunicação por e-mail ou pelas redes sociais. E agora, com mais tecnologias surgindo, aumentam os riscos de erros.

— No WhatsApp são múltiplos os atropelos. Basta receber avisos de mensagem acumulados sem prestar a devida atenção para que o incidente se configure. Recentemente, um estagiário, tentando avisar o colega que o chefe tinha retornado de viagem e chegado à empresa antes do horário previsto, em vez de enviar a mensagem para o tal amigo acessou o WhatsApp do grupo do qual o tal chefe fazia parte — conta a coach Waleska Farias.

Caroline Cobiak, consultora da Across, empresa de recrutamento, diz que, especialmente os jovens, são muito ansiosos na hora de responder e mandar e-mails e mensagens.

— Mas é preciso pensar duas vezes antes de dar um retorno ou postar algo nas redes sociais — destaca Caroline, que recomenda, ainda, que o profissional peça para alguém reler o texto antes de enviá-lo, no caso de se tratar de alguma resposta muito importante. — Esse cuidado é primordial.

Agora, e quando a falta de cuidado acontece por parte do chefe? Como, por exemplo, no caso do sócio de uma agência que, sem querer, mandou para uma funcionária que estava para ser contratada a discussão que girava em torno do salário dela, incluindo duras críticas ao modo como ela vinha negociando o valor.

— O melhor a fazer é assumir o erro e não terceirizar a responsabilidade: não adianta pôr a culpa no estresse ou na própria tecnologia — acredita Villela da Matta, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching, que acrescenta que quando o chefe é a vítima ele deve avaliar até que ponto vale a pena repreender o funcionário por isso. — Se levar para o lado pessoal, pode haver desgastes e gerar mais problemas de comunicação no futuro.