Economia

Dólar fecha em alta de 1,49%, a R$ 2,307, após ata do Fed e com questão fiscal brasileira

Membros do banco central americano se mostraram favoráveis à redução da compra de ativos, que mensalmente despeja US$ 85 bilhões na economia

RIO - O dólar comercial fechou em alta nesta quinta-feira, um dia após o feriado do Dia da Consciência Negra - quando o pregão do câmbio foi mais curto e de poucos negócios. A moeda americana terminou o dia cotada a R$ 2,305 na compra e R$ 2,307 na venda, uma alta de 1,49%. O mercado reagiu principalmente à ata da reunião de outubro do Federal Reserve (Fed, banco central americano), divulgada no fim da tarde de ontem, que sinalizou uma possível redução dos estímulos à economia dos EUA nos próximos meses. Uma parte do mercado também apontou a influência da aprovação no Congresso brasileiro, na noite de ontem, do projeto que permite o abatimento dos investimentos de estados e municípios da meta de superávit primário, reduzindo o esforço fiscal.

Na máxima do pregão, o dólar chegou a ser negociado a R$ 2,318, uma alta de 1,98%. O movimento no Brasil acompanhou a tendência da moeda americana pelo mundo, só que, novamente, a oscilação foi mais intensa por aqui . O real se desvalorizou mais do que outras 16 principais moedas do mundo acompanhadas pela Bloomberg News, superando o dólar australiano (-1,68%), o peso mexicano (-1,32%) e o euro (-0,39%).

Segundo Eamon Aghdasi, estrategista sênior de mercados emergentes do Société Générale, o real volta a ter uma desvalorização maior do que seus pares estrangeiros por fatores internos brasileiros.

- O Fed é a grande notícia do dia. E o real acaba com um movimento mais intenso porque o mercado ficou fechado na quarta-feira, o que represou uma desvalorização que deveria ter ocorrido ontem, e também porque existem outras questões, de longo prazo, que permanecem sem resposta, como a política fiscal e o controle da inflação - explicou o estrategista.

A ata do BC dos EUA mostrou que alguns de seus membros consideraram a possibilidade de reduzir o programa de compra de ativos de US$ 85 bilhões nas próximas reuniões. O corte dos estímulos reduzirá a quantidade de dólares injetada na economia dos EUA mensalmente. Além disso, existe a expectativa de que os juros subam após o corte dos estímulos, o que vem atraindo para os EUA parte do fluxo de dólares que irrigava os países emergentes. Isso também pressiona o dólar.

Juros futuros também sobem com EUA e política fiscal

No mercado futuro de juros, os contratos de DI apresentam alta nesta quinta-feira. Os papéis com vencimento em janeiro de 2015, mais negociados do pregão, sobem de 10,77% para 10,87%. Os com vencimento em janeiro de 2017 avançam de 11,84% para 12,04%. Segundo Luiz Eduardo Portella, sócio gestor da Modal Asset, o aumento está ligado à ata do Fed, o que provocou aumento da taxa de juros dos títulos do Tesouro americano, os treasuries, e também à questão da política fiscal brasileira.

- A votação sobre o abatimento dos investimentos de estados e municípios do esforço fiscal já estava na mesa e era conhecida pelo mercado, mas foi uma notícia ruim. Tivemos também o engavetamento do projeto de lei que muda os índice de correção das dívidas de estados e municípios com a União. Isso foi bom, mas não compensou essa afrouxamento fiscal porque pode ser desengavetado daqui a algum tempo - explica o sócio gestor da Modal Asset. - Menos esforço fiscal pode levar a mais inflação, o que significa juros maiores. Isso sobrecarrega a atuação do Banco Central e também afeta o câmbio.

Para Rogerio Braga, gestor de renda fixa da Quantitas, a questão fiscal brasileira exerce um papel de segundo plano no comportamento do mercado financeiro nesta quinta-feira.

- O principal é o que estão acontecendo nos EUA. Mas a piora de percepção dos investidores sobre a situação fiscal brasileira costuma afetar o mercado, piora a perspectiva das agências de rating — afirma Braga.

O dólar sobiu mesmo após o Banco Central (BC) ter realizado um novo leilão de swap cambial tradicional nesta manhã, com oferta de 10 mil papéis, o equivalente a US$ 497 milhões em contratos com vencimento em 5 de março e 2 de junho de 2014. A autoridade monetária vai realizar, ainda hoje, um leilão de rolagem de 20 mil contratos de swap cambial.

- O dólar tinha caído na semana passada com a discurso da futura presidente do Fed, Janet Yellen, no Senado americano. E agora vemos a recuperação. Mas sem a atuação do BC brasileiro nos últimos meses, o câmbio, sem dúvida, estaria muito acima do que está agora, talvez acima de R$ 2,50. São US$ 500 milhões injetados no mercado quatro dias por semana e mais US$ 1 bilhão na sexta-feira, entre leilões de swap e de linha. Isso é muita coisa - Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora.

Bovespa tem dia de perdas

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a ata do Fed provocou aversão a risco. O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, abriu em queda e, após 13 minutos de pregão, já se desvalorizava 1,57%. Mas a abertura dos mercados americanos em terreno positivo aliviou a tensão dos investidores. O índice fechou com uma queda menor, de 0,65%, aos 52.688 pontos.

Além da ata do Fed, o mercado reage a números piores sobre as indústrias chinesas. A pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do país, realizado pelo Markit/HSBC, mostrou queda de 50,4 em novembro para 50,9 em outubro da atividade das indústrias do país. O índice permaneceu, contudo, acima do número 50 que separa expansão de contração pelo quarto mês seguido.

Entre os destaques do índice, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras chegaram a cair mais de 2% durante o pregão, após a empresa confirmar, em comunicado, que a reunião do Conselho de Administração da estatal foi adiada da próxima sexta-feira para 29 de novembro. Segundo o ministro da Fazenda Guido Mantega, que é o presidente do Conselho, o objetivo seria fazer uma discussão mais profunda da nova metodologia de cálculo de reajuste do preço dos combustíveis. Os papéis PN fecharam em queda menor, de 0,99%, a R$ 20,90.

Fernando Goes, analista da Clear Corretora, explica que o mercado ainda acredita que a Petrobras vai conseguir um reajuste de 5% a 6% do preço da gasolina. Segundo ele, o problema seria a política de reajuste dos combustíveis no médio prazo.

- O adiamento da reunião deixa a dúvida sobre qual o modelo que vai ser adotado depois desse próximo reajuste. Se o modelo for o que saiu no fato relevante da Petrobras, quando o balanço da empresa foi divulgado, existe espaço para mais 10% de reajuste pela frente, conforme a variação do dólar e do petróleo - explica Goes.

As ações ordinárias da BR Properties apresentam a maior alta do pregão, com ganho de 7,56% a R$ 19,33, após a empresa anunciar a venda de 100% dos ativos imobiliários de galpões industriais e de logística para a WTGoodman. O valor do negócio foi R$ 3,18 bilhões e envolve 34 imóveis. A compradora é uma joint venture formada entre a Goodman, grupo australiano que atua no mercado de imóveis industriais e na gestão de fundos especializados, e a construtora WTorre.

Em Wall Street, o Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, apresenta alta de 0,64%. O S&P 500, das maiores empresas americanas, sobe 0,77%. Já o Nasdaq, referência para o setor de tecnologia, tem valorização de 1,12%. O pregão por lá é de recuperação após três dias seguidos de perdas.