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Meknes, a cidade do sultão que teve 888 filhos com mais de 500 mulheres

Meknes, a cidade do sultão que teve 888 filhos com mais de 500 mulheres

HAROLDO CASTRO, DE MEKNES, MARROCOS (TEXTO E FOTOS)
22/11/2013 - 06h30 - Atualizado 02/11/2016 16h08
Bab El Mansur, em Meknes, é considerada como a porta mais bela de todo o Marrocos (Foto: Haroldo Castro/ Época)

O Reino do Marrocos possuiu várias capitais imperiais. Além da renomada Marrakech, da cultural Fes e da política Rabat, a pequena Meknes também faz parte desta coleção de cidades onde muros e mosaicos vibram com a História do país que possui milênios de realizações humanas.

Meknes foi capital durante pouco mais de meio século (entre 1672 e 1727), fruto da decisão do temível Moulay Ismail, o mais cruel dos soberanos marroquinos. Para intimidar seus adversários, o segundo Sultão da dinastia Alauíta teria decorado a muralha de Meknes com 10 mil cabeças decapitadas. Mais de 30 mil pessoas foram assassinadas durante os primeiros 20 anos de seu governo. Outras 25 mil trabalharam como escravos para construir Meknes. Seu exército era formado por 150 mil negros trazidos do sul do Saara.

Mas não apenas de sangue viveu Moulay Ismail. Hoje, ele é mais conhecido por seu extenso harém e o alto grau de fertilidade de suas mais de 500 esposas. O sultão teria tido um total de 888 descendentes e é considerado pelo Livro de Recordes Guinness como o ser humano que teve, comprovadamente, o maior número de filhos no mundo – o livro considera a marca de 867 descendentes, a lenda prefere o cabalísitico 888.

Moulay Ismail também era um amante das artes. Contemporâneo do rei Luís XIV da França, o sultão tinha grande admiração pela corte francesa e chegou a pedir a mão da bela Marie Anne, filha bastarda (e mais tarde legalizada) de Luís XIV. Obviamente, ao saber que ela teria de compartilhar o sultão com centenas de mulheres, Marie Anne não aceitou o convite para fazer parte do harém. Mas ambos monarcas trocaram embaixadores e o marroquino inspirou-se nos palácios franceses para construir Meknes, dita como a Versailles do Marrocos.

Uma das mais belas obras arquitetônicas de Meknes é Bab El Mansur, concluída em 1732 (foto acima). Suas proporções majestosas fazem dela uma joia da cidade imperial e é considerada como a porta mais bonita do país.

Em frente, está a Praça Lahdim ou das ruínas, fazendo alusão ao fato que a esplanada foi demolida e redesenhada diversas vezes. Durante a época do sultão, a praça era usada como local de julgamento, onde o soberano pronunciava as sentenças de morte, e também como espaço para receber, com toda pompa, embaixadores e enviados do estrangeiro. Depois da morte de Moulay Ismail, a praça virou um grande mercado a céu aberto. O aspecto atual data de 2007, quando a praça foi demolida e remodelada novamente.

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A Praça Lahdim sofreu diversas modificações durante os últimos três séculos; hoje é um dos principais pontos de encontro para locais e visitantes (Foto: Haroldo Castro/ Época)

Com um exército tão extenso, Moulay Ismail foi obrigado a dar muita atenção aos seus cavalos utilizados nas guerras. Ao lado de um lago artificial, o sultão mandou construir estábulos para seus 12 mil animais. Além da água disponível em abundância, os cavalos contavam com o feno estocado em celeiros imensos de 120 metros de extensão. Diz uma lenda que o sultão dava maior importância a seus cavalos do que aos humanos – com exceção, é claro, de suas mais de 500 concubinas.

Os estábulos de Moulay Ismail hospedavam cerca de 12 mil cavalos, usados em suas batalhas (Foto: Haroldo Castro/ Época)
Uma carruagem com habitantes locais passa por um trecho da muralha de 40 km de extensão que ainda protege Meknes (Foto: Haroldo Castro/ Época)

Várias edificações em Meknes usaram grandes blocos de pedras provenientes da antiga cidade romana Volubilis, situada a 25 km de distância. A Porta Bab El Mansur, por exemplo, é ornada com belas colunas de mármore retiradas de lá. A cidade romana serviu como capital administrativa da província Mauritânia Tingitana, nos limites do império, e seu auge aconteceu entre os séculos I e III DC.

Volubilis estava (e ainda está) situada em vale fértil que, desde a antiguidade, era destinado à plantação de oliveiras. Graças a uma farta produção de azeite de oliva, Volubilis foi uma cidade rica e chegou a abrigar 20 mil habitantes. Uma classe próspera mandou construir cerca de 50 casas luxuosas, quase todas ornadas com mosaicos – alguns ainda podem ser vistos.

Hoje, Volubilis tornou-se, além de um ponto obrigatório de visita para o estrangeiro de passagem no Marrocos, um lugar de passeio para os habitantes locais. Famílias árabes e berberes vão a Volubilis para entender um pouco mais o passado glorioso destas terras marroquinas que possuem milênios de História.

Uma senhora marroquina, com um bebê nos braços, não hesita em fotografar o Arco de Caracala ou Arco do Triunfo, construído no ano 217 (Foto: Haroldo Castro/ Época)
As paredes e os arcos da Basílica de Volubilis, são um belo exemplo da arquitetura romana na África. Em primeiro plano, oliveiras ainda fornecem a matéria prima do azeite de oliva (Foto: Haroldo Castro/ Época)

Haroldo Castro viajou no voo inaugural da Royal Air Maroc entre São Paulo e Casablanca
 

   

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