Economia

Dilma: 'incrédulos terão um dia de amargura', com privatização de aeroportos

Presidente disse que quem esperava e torcia contra teve um ‘dia de amargura’. Oposição critica demora

BRASÍLIA E FORTALEZA - Assim que o martelo foi batido na Bovespa e foram anunciados os vencedores do leilão do Galeão e de Confins, a presidente Dilma Rousseff e os ministros da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e da Fazenda, Guido Mantega, comemoraram o resultado. Em declarações e comentários no Twitter, eles destacaram a arrecadação obtida e a entrega dos dois aeroportos aos maiores operadores do mundo. Enquanto anunciava investimentos em mobilidade urbana em Fortaleza (CE), a presidente alfinetou os “incrédulos”, dizendo que eles teriam um dia de “amargura”.

- Eu tenho certeza que as próximas licitações não vão dar errado. Hoje os incrédulos vão ter um dia de amargura porque não deu errado, no Brasil, as pessoas torcem para dar errado. (...) Vão ser arrecadados R$ 20 bilhões, o que demonstra um enorme interesse dos investidores no Brasil e continua sendo uma das grandes oportunidades. Temos que ter orgulho do que temos e do que podemos ter - disse.

Para a presidente, o consórcio foi muito bem sucedido, a expansão da capacidade foi um ganho extraordinário. Ela relembrou que a questão dos aeroportos tem uma longa trajetória, e frisou que a licitação representa não só o crescimento e expansão dos aeroportos em si (dando ênfase ao eixo Sudeste que terá expansão de capacidade) , mas também ganhos para a gestão aeroportuária.

- Nós conseguimos uma combinação que a gente considera fundamental, entre os grandes operadores de aeroportos do mundo e os grandes construtores de aeroportos no Brasil. Essa licitação de hoje foi muito bem sucedida porque ganhou o aeroporto do Galeão e o de Confins.

A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, considerou o resultado do leilão surpreendente, embora o governo já tivesse uma boa expectativa em relação à licitação, segundo ela. A ministra destacou que os novos concessionários terão retorno garantido porque são dois aeroportos de referência, em termos de distribuição de rotas internacionais e domésticos.

- Com certeza, o resultado foi muito bom! O leilão superou as nossas expectativas em termos de oferta, participação e resultado - disse a ministra ao GLOBO, acrescentando: - Mais do que arrecadação, trouxe qualidade.

A ministra destacou que a Infraero (sócia minoritária com 49% de participação) terá que conviver com dois grandes operadores aeroportuários e poderá replicar novas práticas em todo o sistema para melhorar a qualidade do serviço prestado ao usuário.

Infraero ficará com 60 aeroportos

Com a privatização dos cinco principais aeroportos do país, somando a primeira rodada (Brasília, Viracopos e Guarulhos) e do terminal de Campos (Rio), que foi municipalizado, ficaram na rede administrada pela estatal 60 terminais. Gleisi disse que a Infraero perderá mais receitas ao repassar Galeão e Confins para a iniciativa privada, mas “nada que comprometa a sua gestão”. Os três primeiros correspondiam a 35% da receitas da empresa e os dois últimos, 24%, de acordo com a Infraero.

- A Infraero sempre precisou de aportes para investir, e o governo não vai faltar com isso - disse a ministra, lembrando que no futuro a estatal passará a receber dividendos.

Para a ministra, o sucesso do leilão foi resultado de um amplo trabalho de acompanhamento do governo, de diálogo com investidores, com o Tribunal de Contas da União (TCU) e demais órgãos envolvidos. Gleisi é coordenadora do programa de privatizações do governo e ficou monitorando o leilão, de Brasília, onde presidia uma reunião sobre os investimentos da Copa. Suspendeu as conversas por duas vezes para acompanhar os lances iniciais e de viva-voz e vibrou muito, segundo interlocutores, sobretudo com a disputa por Confins.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também considerou que o leilão dos aeroportos do Galeão e de Confins foi muito bem-sucedido. Segundo ele, o fato de o governo ter conseguido arrecadar R$ 20,8 bilhões com a operação mostra que os investidores estão interessados no programa de privatizações brasileiro.

- O leilão foi muito bem-sucedido. Significa que há apetite dos investidores para entrar no programa de concessões brasileiro. Quando você oferece um produto rentável, você atrai competição, você atrai mais investidores. São R$ 19 bilhões (apenas para o Galeão). Não é um leilão pequeno, é grande. Em breve, o viajante brasileiro vai ter condições muito melhores em praticamente todos os principais aeroportos do país - disse.

A oposição também reconheceu que o certame foi bem-sucedido, mas criticou a demora do governo em tomar a iniciativa e tocar o cronograma de concessão.

- Por um lado, ficamos felizes em ver o PT consolidar o programa de privatizações, tal qual o PSDB realizou durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, apesar de enfrentar todas as injustas críticas vindas desse mesmo PT. Entretanto, lamento que, como os concessionários assinarão os contratos apenas em março, as únicas alterações que veremos durante a Copa do ano que vem serão as placas dos novos administradores dos nossos maiores aeroportos, além do caos que já se anuncia, como os usuários queixam-se diariamente - disse o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP). (Colaborou Cristiane Jungblut)