Economia

Inflação dá uma trégua temporária em julho e fica perto de zero

Com queda em transportes e alimentos, preços sobem 0,03% em julho, menor alta em 3 anos

Dona de casa Sandra Carvalho notou a queda dos alimentos: “O tomate até que baixou o preço”
Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
Dona de casa Sandra Carvalho notou a queda dos alimentos: “O tomate até que baixou o preço” Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo

RIO - A inflação deu uma trégua temporária em julho e ficou perto de zero. Com deflação em alimentos e transportes, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,03% no mês passado, a menor variação em três anos, desde julho de 2010 (-0,01%). Em 12 meses, a alta acumulada é de 6,27%, ainda considerada elevada, mas que voltou a ficar abaixo do teto da meta de inflação do governo, de 6,5%. Em junho, o acumulado em 12 meses chegou a 6,70%.

Economistas alertam, porém, que a taxa deve voltar a acelerar nos próximos meses, com a saída de cena de fatores atípicos que determinaram o resultado de julho e com a influência da alta do dólar. A notícia positiva virá dos desempenhos acumulados em 12 meses, que devem desacelerar, sugerindo um cenário melhor para a inflação no segundo semestre do que foi no primeiro.

Sem ônibus, IPCA teria subido 0,13%

Com a redução das tarifas de ônibus, metrô e trem urbano após os protestos populares do fim de junho, houve deflação de 0,66% no grupo transportes, a queda mais intensa desde junho de 2012 (quando tinha sido de 1,18%). Das 11 regiões pesquisadas pelo IBGE, em sete ocorreu redução na tarifa de ônibus.

O item ônibus urbano, com queda de 3,32%, foi o maior impacto individual no IPCA para baixo, de 0,09 ponto percentual. Estimativa da LCA Consultores é de que, sem a revogação dos aumentos das tarifas de ônibus, o IPCA teria subido 0,13% em julho e não o 0,03% registrado.

— Na média, os preços para as famílias ficaram praticamente estáveis em julho. Alimentação e transportes trouxeram o índice para muito perto de zero, mas as pessoas continuam pagando mais por alimentação que no ano passado. De janeiro a julho, os alimentos acumulam alta de 5,67% no ano. Em 12 meses, o aumento é de 11,42% — afirmou Eulina Nunes, gerente do índice de preços do IBGE.

Depois de serem o vilão da inflação no início do ano, os alimentos agora ajudaram a segurar os preços. No grupo alimentos e bebidas, houve deflação de 0,33% em julho. O destaque foi o grupo de alimentos in natura , que mais subiram no início do ano, e que agora tiveram queda de 7,1%.

A dona de casa Sandra Carvalho, de 74 anos, percebeu o recuo nos alimentos:

— O tomate até que baixou bastante. A cebola e a batata também estão com preços um pouco melhores.

O grupo vestuário também deu sua contribuição para a inflação baixa do mês passado. As liquidações dessa época do ano levaram a uma queda de 0,39% nos preços do grupo.

em agosto, Alta de até 0,35%

Se alimentos, transportes e vestuário puxaram os preços para baixo, o item empregado doméstico pressionou o custo das famílias, com alta de 1,45%, e impacto de 0,06 ponto percentual, a maior influência individual no mês. O grupo despesas pessoais, no qual o item está incluído, teve alta de 1,13%.

— Com a nova legislação, muitas pessoas valorizaram as próprias empregadas, e passaram a pagar mais. E as faxineiras também ficaram mais caras. Além disso, a oferta está reduzida — disse Eulina.

A alta nos preços deve voltar a acelerar em agosto, com projeções de analistas de até 0,35%, como é o caso do HSBC. Para o resultado fechado do IPCA em 2013, as estimativas estão abaixo de 6%.

— O IPCA deve acelerar para 0,32% em agosto, mas devemos ter um segundo semestre melhor que o primeiro — explica Fabio Romão, da LCA Consultores.

Apesar de concordar que o perfil da inflação será melhor no segundo semestre, o economista da Rosenberg & Associados Fernando Parmagnani diz que a inflação de 6,27% em 12 meses ainda é alta.

Pela primeira vez desde agosto de 2010, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para as famílias com rendimento entre um e cinco salários mínimos, registrou deflação, de 0,13%. Em agosto de 2010, a deflação tinha sido de 0,07%.

— Alimentos e transportes pesam mais no orçamento das famílias de mais baixa renda — disse Eulina.

Economistas não acreditam que o Banco Central (BC) vá mudar sua estratégia de alta de juros.

— A combinação de crescimento fraco com inflação baixa pode trazer mais pressão para uma interrupção prematura da alta dos juros, mas não acredito nisso. Os últimos comunicados do BC reconhecem a necessidade de uma inflação declinante — diz o economista e estrategista de Brasil para o Barclays, Guilherme Loureiro.

(Colaboraram Bruno Villas Bôas e João Filipe Passos)