28/07/2013 09h00 - Atualizado em 28/07/2013 09h00

Agricultores conquistam direito de vender produtos sem restrição no PR

Eles adaptaram a produção às regras da vigilância sanitária em Cianorte.
Produtos podem ser comercializados pelo município dentro da legalidade.

Do Globo Rural

Um programa desenvolvido em Cianorte, no Paraná, ajudou alguns agricultores da cidade a vender os produtos dentro da legalidade. Os produtores recebem orientações para que a mercadoria saia do campo com o SIM/POA, o selo de inspeção do município.

Na fachada está escrito Agroindústria Familiar. Por dentro do lugar, há uma estrutura limpa, onde se preza pela qualidade do que é produzido. Esse é o resultado de um projeto da Secretaria de Agricultura de Cianorte, no Paraná, que busca regularizar os produtos fabricados no campo.

Os agricultores Edison Catharino, Haroldo Luís Galdino e Zuleide Nunhez saíram da clandestinidade depois que se enquadraram às normas de produção e encontraram mercado para as vendas em um município como Cianorte, com 70 mil habitantes.

A Lei do Serviço de Inspeção Municipal de Cianorte existe desde 1995, mas apenas em 2009, técnicos agrícolas, agrônomos e veterinários contratados pela Prefeitura passaram a orientar os agricultores mais de perto, focados na regularização dos produtos de origem animal. Hoje, há nove agroindústrias que funcionam dentro da lei e quatro estão em construção.

Há dois anos, a agroindústria de mel da família Catharino ficou pronta. “Eu achava que eu não alcançaria o objetivo que eu queria. Eu tinha medo de fazer investimento. O investimento meu foi de R$ 60 mil”, diz o apicultor Edson Catharino.

A maior parte dos financiamentos vem do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que tem juros baixos e carência, ou de recursos dos próprios agricultores. O investimento do apicultor teve um reflexo direto no preço do mel, que subiu de R$ 3,50 para R$ 9,50 o quilo.

O secretário de Agricultura de Cianorte lembra que nem sempre as reações foram amistosas. “Nós íamos à propriedade e a pessoa estava lá fazendo sua transformação que não era legalizada. Nós apreendíamos ou fazíamos alguma sanção. Com isso, nós tivemos até produtores que levantaram o facão, faca para nós. Ele estava defendendo o pão dele. Mas nós fomos aprendendo que esse trabalho não dava efeito. Nós mudamos a forma de agir. Em vez de proibirmos o exercício ilegal, nós passamos a auxiliar aqueles que queriam se legalizar, a montar toda uma estrutura. Com isso, nós estamos tento mais resultado agora”, diz Valdilei José Domingos.

A ajuda é para que o agricultor consiga o selo do Serviço de Inspeção Municipal para Produtos de Origem Animal (SIM/POA), que torna a venda legalizada dentro dos limites de Cianorte. Só que é tanta papelada que a orientação dos técnicos faz toda a diferença.

“Não depende só da Secretaria Municipal de Agricultura. Depende também de outros órgãos, como da Saúde, do IAP, que é o Instituto Ambiental do Paraná. Se o produtor fosse fazer isso sozinho, ele ia demorar mais de um ano. A gente consegue reduzir isso até em quatro meses”, diz Júnior Charron, coordenador do SIM/POA em Cianorte/PR.

Além de romper a burocracia, o agricultor tem que respeitar uma série de requisitos para ter a agroindústria legalizada. “A cerca impede a entrada de animais, cachorro, gato e porcos. As portas têm que ser teladas. As janelas também devem ser teladas, com tela milimétrica para evitar a entrada de insetos. Tem que ter o pedilúvio para lavar as botas, com lavatório de mãos para a pessoa entrar com as mãos limpas e os pés limpos para não sujar a área de trabalho”, diz Jacimar Velozo, veterinário da Vigilância Sanitária de Cianorte.

As exigências continuam do lado de dentro da propriedade. “Um pé direito mínimo de 3,5 metros. As paredes revestidas de material impermeável. O piso de material liso, lavável e impermeável, com ralo para escoar a água servida para a rede de esgoto. A água tem que ser tratada”, completa Velozo.

Haroldo Galdino, que cria frango caipira desde 2007, já se escondeu muito da fiscalização. Hoje, o criador abate cerca de 400 frangos por mês. Antes de começar o serviço, ele se arruma para o trabalho na chamada área suja da agroindústria, espaço onde as aves são degoladas e têm as penas retiradas. Na sala ao lado, o trabalho é coordenado pela agricultora Neusa Pallaro Galdino, mãe de Galdino.

Embora seja familiar, a agroindústria dos Galdino segue normas rígidas, como, por exemplo, fiscalização, feita por um veterinário e um auxiliar, pagos pela Prefeitura, e refrigeração logo após o abate.

O casal José Carlos e Zuleide Nunhez foi o primeiro a receber o SIM/POA dentro do programa de Cianorte. Criadores de gado de leite há mais de 30 anos, eles sempre fizeram queijo para vender. Mas agora se especializaram na produção de muçarela.

Com o sucesso nas vendas, um dos filhos do casal acabou voltando de vez para o sítio. Glauber Nunhez, que por seis anos viveu na cidade trabalhando como motoboy e auxiliar de escritório, é o braço direito do pai nas duas ordenhas diárias. Enquanto pai e filho cuidam da criação, sogra e nora são as responsáveis pela labuta dentro da agroindústria. A família Nunhez vende algo em torno de 700 quilos de muçarela por mês.

A certificação dos produtos da família Nunhez promoveu no sítio uma melhora na qualidade de vida, que vai além do aumento da renda e da satisfação de ter o filho, a nora e o neto por perto. Entrar na legalidade é andar pela cidade oferecendo os produtos de cabeça erguida.

A prefeitura de Cianorte gasta entre R$ 600 mil e R$ 700 mil por ano para manter o programa de agroindústrias. Depois de legalizados, os produtos geram impostos e valorizam a mão de obra do agricultor local.

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