Rio

Na região do Batalhão do Leblon, número de jovens detidos é maior que o de adultos

Adolescentes são 57% do total, enquanto no estado o índice é de 25%. Área comprende a Lagoa, onde ciclista foi esfaqueado
Patrulha da PM na altura da Curva do Calombo, onde médico morreu ao ser esfaqueado por assaltantes Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Patrulha da PM na altura da Curva do Calombo, onde médico morreu ao ser esfaqueado por assaltantes Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

RIO — O número de adolescentes detidos em abril na área do 23º BPM (Leblon), que compreende a Lagoa, foi maior que o de adultos presos. No mês, foram 40 jovens apreendidos na região em flagrante pelos crimes de roubo e tráfico, contra 30 adultos levados para a cadeia. Ou seja, eles representaram 57% do total de 70 casos. A proporção é maior que em todo o estado, onde, no mês passado, adolescentes representaram 25% da soma de pessoas detidas e presas. Em 2005, quando esses números passaram a ser divulgados separadamente, de acordo com a idade dos acusados, os jovens foram 11,04% do total.

Em relação ao mesmo período de 2014, o número de adolescentes detidos em abril passado também subiu em todo o estado, e bastante: foram 899 casos contra 555, um acréscimo de 62%.

— Infelizmente, essa é a nossa realidade. Aumentou muito o envolvimento de adolescentes de 15, 16 anos nesse tipo de crime (roubo). E o que assusta é a agressividade. Eles primeiro esfaqueiam a vítima para depois roubar. Por isso, aumentamos o número de apreensões, mas também de inquéritos por abandono de incapaz, com o objetivo de responsabilizar os pais — afirmou a delegada Monique Vidal, da 14ª DP (Leblon).

Segundo ela, sabendo que não poderão ser detidos apenas por estarem carregando facas, adolescentes estão usando armas brancas para cometer crimes.

No caso do atleta de 14 anos da equipe de remo do Flamengo esfaqueado há quase um mês na Lagoa, os quatro adolescentes que praticaram o crime agrediram a vítima antes de anunciar o assalto.

— Havia um mandado de apreensão contra um dos adolescentes que esfaquearam o atleta de remo — disse o procurador Márcio Mothé. — Ele havia sido apreendido em outubro passado e já estava na rua cometendo um crime mais grave. Agora, mais essa tragédia (o médico esfaqueado na Lagoa). O Ministério Público travou uma luta contra a liberação desenfreada de menores das unidades de internação e ainda foi criticado. Um mutirão despejou dezenas de infratores nas ruas, sem o mínimo de ressocialização, em razão da suposta precariedade das unidades. O efeito do mutirão já era esperado. Temos recorrido dessas liberações indevidas e agora esperamos a resposta do Judiciário.

PROMOTOR DEFENDE MUDANÇAS EM ESTATUTO

Para Mothé, está mais do que na hora de os parlamentares discutirem mudanças urgentes no Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como no Estatuto do Desarmamento:

— Os parlamentares precisam ficar atentos a essa realidade. Como pode alguém portar uma faca e isso não configurar infração penal? Os menores que antes furtavam agora roubam e, pior, praticam latrocínio, que é o roubo seguido de morte. Por trás, uma lei retrógrada que favorece isso tudo. Até quando? — disse Mothé, que defende o aumento do prazo de internação para traficantes, entre outras medidas.

Também nesta quarta-feira, o Instituto de Segurança Pública divulgou que o número de homicídios caiu 24,7% em abril passado, em comparação com o mesmo mês de 2014: foram registrados 338 casos contra 449. Segundo o ISP, foi o menor índice para o mês de abril desde que os dados começaram a ser disponibilizados pela Polícia Civil, em 1991.