Economia

Dólar fecha em alta após Moody’s alterar perspectiva de rating do Brasil

Ações da OGX apresentam alta após divulgação de estimativa de consultoria para o campo de Tubarão Martelo

RIO - O dólar comercial fechou em alta de 0,41%, a R$ 2,203 para venda, no pregão desta quinta-feira. Foi a primeira sessão depois do rebaixamento da perspectiva do rating soberano do Brasil, de “positiva” para “estável”, pela agência Moody’s. A nota da dívida do país permanece em “Baa2”, considerado grau de investimento. Na quarta-feira, a moeda americana tinha terminado o dia em R$ 2,194, na primeira vez abaixo de R$ 2,20 desde 18 de setembro.

Operadores avaliam que a alta do dólar foi uma reação ao alerta da Moody’s sobre a situação fiscal brasileira. É a segunda agência de rating a revisar a perspectiva do Brasil neste ano. Em junho, a Standard & Poor’s tinha alterado a perspectiva da nota “BBB” da dívida soberana, de “estável” para “negativa”. O movimento das duas agências indica que o Brasil pode ter o rating efetivamente rebaixado nos próximos meses.

— Se o Brasil perder grau de investimento, o país se torna mais arriscado para o investidor. Entrariam menos recursos externos, o custo da dívida pública aumentaria e o país seria considerado grau especulativo, um perfil mais arriscado para agências de risco. Investidores demandariam juro maior para aplicar no país — disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil.

A revisão da perspectiva foi divulgada no fim da noite de quarta-feira. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), encerrou em queda de 1,15%, aos 52.489 pontos, e R$ 5,3 bilhões negociados. O índice foi arrastado pelos temores em relação ao impasse nas negociações para elevar o teto da dívida americana. Para Pedro Galdi, analista-chefe da corretora SLW, investidores preocupados com as consequências da falta de acordo entre Congresso e o presidente Barack Obama engatou vendas de ações em países emergentes com o Brasil.

Outra notícia aguardada pelos investidores que afeta o mercado é o laudo de certificação das reservas do campo de Tubarão Martelo da OGX Petróleo, do empresário Eike Batista, divulgada no começo da manhã desta quinta-feira. Relatório da consultoria DeGolyer & MacNaughton estimou que o campo possuía 87,9 milhões de barris de óleo equivalente (boe) em reservas prováveis (2P). Se consideradas as reservas possíveis juntas com as prováveis (3P), a estimativa é de 108,5 milhões de barris de óleo equivalente para a área. Mas, de acordo com o relatório da consultoria, as reservas consideradas provadas (1P) eram zero.

Pela estimativa de reservas prováveis divulgada nesta quinta-feira, a quantidade de 87,9 milhões de barris de óleo equivalente é quase três vezes menor que a estimativa feita pela própria OGX na declaração de comercialidade do campo em abril de 2012. Em 25 de abril do ano passado, a petrolífera estimou um volume recuperável de 285 milhões de barris para Tubarão Martelo. Um analista, que preferiu não se identificar, lembrou ainda que o sucesso na exploração de Tubarão Martelo não é suficiente para alterar o rumo à recuperação judicial da companhia.

De acordo com os critérios adotados pela DeGolyer & MacNaughton, deve haver pelo menos 90% de probabilidade de que vai ser extraída quantidade igual ou superior da reserva para que esta seja considerada provada. Se a probabilidade de extração comercial for de pelo menos 50%, a reserva é considerada provável. Se for de 10% a chance de recuperação do óleo, a reserva é considerada possível. As ações ordinárias (ON, com voto) da OGX fecharam em estabilidade, mas chegaram a ser negociadas em alta de 9,09%, a R$ 0,24, depois de bater na menor cotação da história do ativo no dia anterior. Mas, na prática, na máxima do dia, a cotação avançava apenas dois centavos em comparação ao fechamento do pregão anterior.

Entre as ações mais negociadas da Bolsa, papéis preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras fecharam em queda de 1,27%, a R$ 18,54. Já Vale PNA recuou 1,16%, a R$ 31,45.

Um dia depois de anunciada a proposta de fusão entre Portugal Telecom e Oi, as ações PN da operadora brasileira de telefonia recuaram 13,28%, a R$ 3,85. Para Pedro Galdi, analista-chefe da corretora SLW, depois de uma impressão inicialmente positiva, investidores voltaram a avaliar o negócio, com receio de que a fusão não seja o bastante para melhorar a situação da Oi. Investidores que compraram o papel em baixa também aproveitaram para vender e embolsar ganhos, o que derrubou as cotações nesta quinta-feira, ou para sair da empresa para evitar ter o patrimônio diluído após a capitalização com a emissão de novas ações na criação dos papéis da CorpCo, companhia que surge da fusão da Oi com a PT.

A piora da perspectiva do rating do Brasil também impactou o mercado de juros futuros. Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil, a declaração do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de que a inflação está “sob controle” também contribuiu para a queda das taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI). A agência destacou que uma elevação na Taxa Selic para controlar a inflação não só abalaria o crescimento do país como também subiria o custo de rolagem da dívida pública. Com esse espaço limitado para aumento da Selic, operadores apostam em juros menores nos contratos DI. A taxa do contrato DI com vencimento em janeiro de 2014 caiu de 9,390% na véspera para 9,382% nesta quinta-feira, enquanto o contrato com vencimento em janeiro de 2015 recuou de 10,27% para 10,17%.

— O governo enfrenta um dilema para segurar a inflação e ao mesmo tempo evitar o rebaixamento do rating — disse Rostagno.