05/11/2013 07h30 - Atualizado em 05/11/2013 21h09

Com foco na economia, Nova York e Detroit elegem prefeitos nesta terça

Questões econômicas foram as principais nas duas campanhas.
Democratas lideram as intenções de voto nos dois pleitos.

Do G1, em São Paulo

Eleitores de duas das principais cidades dos Estados Unidos irão às urnas nesta terça-feira (5) para escolher seus prefeitos pelos próximos quatro anos. A economia tem sido o foco nas duas campanhas - em Nova York, centro financeiro do país, o fortalecimento dos negócios locais e o combate ao crime dominaram os últimos debates entre os candidatos. Já Detroit, berço da indústria automotiva norte-americana, enfrenta uma enorme crise financeira que levou o município a pedir proteção contra seus credores – assunto de muito interesse para a população local e o futuro prefeito.

Em ambas as cidades, as pesquisas indicam que os candidatos democratas (mesmo partido do presidente Barack Obama) lideram as intenções de voto com boa vantagem, com poucas chances de reversão do quadro por seus adversários. Em Detroit, cuja eleição não liga os candidatos a seus partidos, dois democratas ocupam as primeiras posições entre os eleitores.

Bill de Blasio (à direita) e Joe Lhota (à esquerda) durante o último debate de candidatos à prefeitura de Nova York no dia 30 de outubro  (Foto: Peter Foley/Reuters)Bill de Blasio (à direita) e Joe Lhota (à esquerda) durante o último debate de candidatos à prefeitura de Nova York no dia 30 de outubro (Foto: Peter Foley/Reuters)

Em Nova York, o democrata Bill de Blasio se encaminha para uma contundente vitória. Pesquisa divulgada pela Universidade Quinnipiac na última semana aponta que Blasio tem 65% das intenções de voto, contra 26% do republicano Joseph Lhota, seu principal adversário, que já foi braço direito do ex-prefeito Rudolph Giuliani e é ex-presidente da administração de Transportes de Nova York (MTA). A diferença, se confirmada nas urnas, poderá ser histórica.

A vitória do democrata caracterizaria uma grande mudança na Prefeitura de Nova York. Apesar de o número de democratas ser muito maior que o de republicanos na cidade, todos os prefeitos têm sido republicanos desde 1989.

Após elegerem o bilionário Michael Bloomberg por três vezes seguidas como prefeito, os nova-iorquinos agora se voltam para Blasio, um candidato progressista de esquerda cuja mulher, uma escritora negra, já declarou ser lésbica. Nesse contexto de família multiracial, o democrata parece estar mais conectado com a imensa diversidade do eleitorado. 

A campanha de Blasio vem sendo reforçada pelo otimismo de que ele irá levar mudanças à cidade e pela enorme desaprovação dos eleitores em relação ao Partido Republicano, segundo o jornal “New York Times” – que declarou apoio explícito ao democrata. Blasio trabalha atualmente como defensor público na cidade, e tem um histórico de defesa dos direitos dos mais pobres.

Ainda de acordo com o “New York Times”, durante a campanha Blasio não perdeu oportunidades para lembrar aos eleitores que Lhota é republicano – reforçando que apesar de ele apoiar os direitos em relação ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, além da legalização da maconha, ele é um simpatizante do Tea Party, o setor ultraconservador do partido. Nem mesmo a atuação de Lhota na área dos transportes durante o Furacão Sandy em 2011, que lhe rendeu elogios da população, tem aliviado sua percepção.

A rejeição ao partido é alta na cidade – cerca de três quartos dos eleitores e 40% dos próprios republicanos veem o partido de maneira negativa. Lhota tentou diversas vezes durante a campanha se posicionar como progressista em relação às questões sociais e conservador nos assuntos fiscais. Entretanto, as pesquisas indicam que poucos eleitores o viram como diferente de seus companheiros de partido.

O democrata Bill de Blasio fala a apoiadores na última sexta-feira (1) (Foto: Andrew Burton / Getty Images North America / AFP)O democrata Bill de Blasio fala a apoiadores na última sexta-feira (1) (Foto: Andrew Burton / Getty Images North America / AFP)

Entretanto, a filiação do democrata Blasio não é seu único trunfo. Seu foco nas disparidades de salários – ele promete aumentar os impostos sobre os mais ricos – e na necessidade de melhorar a educação atraíram os eleitores. Pesquisas indicam que os moradores da cidade apontam como sua maior qualidade a capacidade de entender seus problemas.

No ultimo debate entre os candidatos, realizado na última quarta-feira (30), o republicano tentou focar no que disse ser a "falta de capacidade" de Blasio manter suas promessas. Segundo a CNN, o democrata tem como um de seus planos tornar o ensino infantil antes da pré-escola universal, algo que dependeria de um aumento na arrecadação de impostos entre os mais riscos. Questionado se teria um plano B, Blasio respondeu que os eleitores teriam que confiar em sua visão, não em planos alternativos.

Foi a deixa para que Lhota questionasse a experiência em administração de Blasio. “Ele nunca gerenciou nada além de campanhas políticas e um escritório de defensoria pública. Verdadeiros líderes não apenas têm um plano B, mas um plano C. O que você realmente precisa saber é qual o seu objetivo e como você consegue alcançá-lo”, disse o republicano em um dos momentos mais acirrados do debate.

Outro tema que foi bastante abordado durante a campanha, entrevistas e debates é o procedimento adotado pela polícia de Nova York de abordar cidadãos para questionar sobre a posse de armas e drogas ilícitas. Apesar de boa parte dos abordados não ser presa, e de o procedimento estar previsto em uma lei, a grande maioria dos alvos da polícia são latinos ou negros, o que expõe um problema racial na cidade.

Os dois candidatos apoiam mudanças no procedimento, mas têm ideias diferentes sobre como alterá-lo, segundo a CBS. Enquanto Blasio deixa claro que não pode haver um sistema de quotas em relação a raças e origens dos abordados, Lhota afirmou que é preciso manter um treinamento constante dos policiais. O republicano aproveitou o assunto diversas vezes para afirmar que caso o democrata seja eleito, as baixas taxas de criminalidade registradas na cidade nos últimos anos podem ser prejudicadas.

Apesar de todos os prognósticos apontarem uma vitória avassaladora de Blasio, Lhota disse à “CBS” ainda ter esperanças de reverter o quadro. “Estou otimista. Vou gastar todas as horas até a eleição espalhando minha mensagem, qual é a minha visão para a cidade de Nova York, e há uma enorme diferença em relação ao meu oponente”, afirmou. “Ele faz promessas que não pode cumprir. Não é isso que precisamos em um prefeito.”

Detroit
Berço da indústria automotiva norte-americana, Detroit vem enfrentando uma forte crise nos últimos anos. A população da cidade "encolheu" para 700 mil habitantes, frente ao 1,8 milhão que chegou a ter em seu auge, em 1950. O governo municipal tem sido alvo de casos de corrupção, e os reduzidos investimentos em iluminação e serviços de emergência deixaram a cidade com dificuldades de policiamento.

Mike Duggan durante campanha eleitoral neste sábado (2) (Foto: Rebecca Cook/Reuters)Mike Duggan, favorito para ganhar a eleição para prefeito de Detroit, durante campanha eleitoral neste sábado (2) (Foto: Rebecca Cook/Reuters)

Em julho, a cidade entrou com pedido proteção à lei de falências, se tornando a maior "quebra" de um município no país. O capítulo 9 da lei de falências dos EUA é aplicável apenas a municípios. O objetivo, segundo a corte de falências, é fornecer proteção à cidade contra seus credores, enquanto a mesma desenvolve e negocia um plano para ajustar seus débitos.

A eleição municipal quase quatro meses após o pedido ocorre neste contexto. O líder nas pesquisas é o democrata Mike Duggan, que segundo sondagem divulgada no dia 29 de outubro pela Detroit Free Press tem 50% dos votos, contra 26% de seu principal rival, Benny Napoleon.

A legislação eleitoral da cidade não lista os candidatos por partidos. Com isso, os dois líderes nas pesquisas são filiados ao partido Democrata.

Duggan pode ser o primeiro prefeito branco da cidade – que tem uma população majoritariamente negra – desde 1974. A questão racial não tem sido um fator muito relevante entre os eleitores – pesquisas indicam que os eleitores o veem como a melhor chance para tirar a cidade da crise financeira que levou a uma maior criminalidade e casas vazias. Duggan é visto como um candidato independente do “antigo regime”, uma esperança para os eleitores.

No ultimo debate televisionado entre os dois candidatos estas questões foram discutidas.

Benny Napoleon, xerife do condado de Wayne, é o segundo colocado nas pesquisas para a prefeitura de Detroit (Foto: Reprodução/Facebook/Benny Napoleon)Benny Napoleon, xerife do condado de Wayne, é o
segundo colocado nas pesquisas para a prefeitura
de Detroit (Foto: Reprodução/Facebook/Benny
Napoleon)

Benny Napoleon, xerife do condado de Wayne, guardou seu maior ataque para o final do debate, quando acusou Duggan – ex-CEO do Centro Médico de Detroit e ex-promotor do mesmo condado – de manter funcionários fantasma e contratos com problemas durante seu período na promotoria. “Ele não é certo para Detroit”, disse Napoleon.

Já Duggan relembrou seu trabalho à frente do Centro Médico e na promotoria para alegar que tem a experiência necessária para corrigir os problemas financeiros da cidade. “Eu posso pegar minha experiência nos negócios de seguros, que aprendi no hospital, e aplica na cidade”, afirmou.

Seu plano é criar um grupo de seguros que possa aumentar a competição entre os já existentes e baixar as taxas na cidade.

A religião também tem ocupado um papel importante na campanha. No último fim de semana os dois candidatos fizeram um último apelo por votos visitando igrejas locais.

Segundo o jornal “Detroit News”, enquanto Napoleon, negro filho de um pastor, recebe o apoio de diversos grupos religiosos e mais de 150 ministros, Duggan, branco, é apoiado por pelo menos 36 ministros. A visita dos candidatos às igrejas neste domingo segue uma tradição na cidade, quando eles tentam persuadir os eleitores ainda indefinidos a dar seu voto nesta terça.

As igrejas têm influência na política de Detroit, mas o menor apoio religioso recebido por Duggan não tem impedido que ele fique à frente nas pesquisas.

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