Rio

Marido suspeita que mulher arrastada por carro da PM tenha sido executada

Segundo ele, policiais teriam atirado em Claudia de propósito
Parente de Cláudia Silva Ferreira, atingida por um tiro durante operação da PM, na comunidade Congonha, em Madureira, chora durante velório no Cemitério de Irajá Foto: Márcia Foletto / O Globo
Parente de Cláudia Silva Ferreira, atingida por um tiro durante operação da PM, na comunidade Congonha, em Madureira, chora durante velório no Cemitério de Irajá Foto: Márcia Foletto / O Globo

RIO — O vigia Alexandre Fernandes da Silva, de 41 anos, viúvo de Cláudia da Silva Ferreira, de 38 anos, baleada durante uma operação no Morro da Congonha, em Madureira, na manhã de domingo, acredita que a mulher foi vítima de execução. Segundo ele, os policiais teriam atirado em Claudia de propósito.

- Trataram minha mulher que nem bicho. Nem o pior traficante do mundo merece esse tratamento que ela teve - disse Alexandre, acrescentando que viu o corpo dela, no hospital, em carne viva.

O irmão de Claudia, Júlio César da Silva Ferreira, também acredita que os policiais mataram sua irmã.

- Foi uma execução mal sucedida. Depois disseram na delegacia que estava com quatro armas, mas isso é mentira. Ela só estava com um copo de café na mão e seis reais para comprar pão. Ela levou três tiros de curta distância. Isso é uma execução. Não queremos que essa história fique impune. Se não ela será só mais um Amarildo.

No fim da manhã desta segunda-feira, o relações-públicas da Polícia Militar, tenente-coronel Cláudio Costa, lamentou a tragédia que ocorreu com Cláudia. Retirada da favela por PMs, ela foi transportada dentro do porta-malas do camburão e acabou caindo do carro. Presa pela roupa, foi arrastada por cerca de 250 metros.

— A PM tem salvado vidas com o transporte de feridos, mas essa é uma medida que não toleramos. O correto é fazer o transporte no banco traseiro do carro. Dificilmente uma ambulância chegaria ao local — afirmou o tenente-coronel Cláudio Costa, que lembrou ainda que os policiais envolvidos foram autuados e serão levados para uma unidade prisional.

Em entrevista ao telejornal RJTV, da TV Globo, o tenente-coronel, afirmou que a mala do carro da PM foi periciada para saber se foi um problema mecânico ou apenas imperícia. De acordo com o site do jornal Extra, no entanto, a perícia constatou que a tranca da mala do veículo não estava com defeito. A informação foi dada pelo comandante do 9º BPM, tenente-coronel Wagner Moretzsohn.

Nesta segunda-feira, foram divulgados os nomes dos três policiais militares do 9º BPM (Rocha Miranda) que estão presos, por terem participado do socorro de Claudia Ferreira Silva, de 38 anos, cujo corpo ficou pendurado na viatura, e foi arrastado por 250 metros. São eles os sub-tenentes Adir Serrano Machado e Rodney Miguel Archanjo, e o sargento Alex Sandro da Silva Alves.

Cláudia foi enterrada no Cemitério do Irajá

O corpo de Cláudia foi enterrado no início da tarde desta segunda-feira, no Cemitério de Irajá. Cerca de 200 pessoas acompanharam a cerimônia e, no momento do sepultamento, pediram justiça. Parentes e amigos da vítima estavam revoltados. Júlio disse que a família deverá processar o Estado pela forma como policiais socorreram a vítima. Segundo ele, Cláudia foi baleada quando saía de casa, com R$ 6 para comprar pão e mortadela.

— O socorro foi completamente equivocado. É difícil explicar meu sentimento hoje. Aconteceu com ela e amanhã será com outro. Só muda a comunidade, e a PM chega atirando e matando o trabalhador. Ela foi jogada no carro de qualquer maneira.

Irmã de Cláudia, Juçara da Silva Ferreira, de 39 anos, disse que os policiais colocaram armas ao lado do corpo de um homem que também foi baleado na comunidade:

— Vou sentir falta dela. Ela gostava de viver a vida. Era uma pessoa muito animada.

Auxiliar de serviços gerais do Hospital Marcílio Dias, Cláudia era casada com o vigia Alexandre da Silva, de 41 anos, tinha quatro filhos e cuidava de outros quatro sobrinhos. Ela completaria 20 anos de casada em setembro.