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Campeã na casa de Guga busca vaga em R. Garros aos pés da Torre Eiffel

Maior promessa do Rio, Maria Clara, de 17 anos, disputa triangular, neste domingo, que vale vaga na chave juvenil. Gabriel Décamps representa o Brasil no masculino

Por Rio de Janeiro

Maior promessa do tênis do Rio de Janeiro, Maria Clara Silva, de 17 anos, já teve a sorte de ser campeã literalmente dentro da casa de Gustavo Kuerten e agora está próxima de disputar, na categoria juvenil, o torneio em que o maior ídolo do tênis nacional foi tricampeão profissional. Campeã do "Rendez-Vous à Roland Garros", torneio realizado em abril, em São Paulo, a jovem carioca disputa, neste domingo, um triangular com rivais da China e da Índia. A campeã garante um lugar na chave principal juvenil do Grand Slam francês. Um "detalhe" chama a atenção, menos da brasileira: a disputa será numa quadra montada aos pés da Torre Eiffel, o principal ponto turístico de Paris.

tênis Maria Clara Silva (Foto: Matheus Tibúrcio / GloboEsporte.com)Maria Clara Silva terá a oportunidade de jogar bem perto da Torre Eiffel (Foto: Matheus Tibúrcio / GloboEsporte.com)

Maria Clara conquistou o direito de participar do triangular por ter vencido a chave feminina do "Rendez-Vous à Roland Garros", torneio que englobou 32 tenistas da nova geração, criado pela Confederação Brasileira de Tênis (CBT) e pela Federação Francesa de Tênis (FFT) como parte da parceria entre as duas entidades firmada em abril.

O mesmo tipo de seletiva foi feito na China e na Índia. Como campeã do evento brasileiro, Maria Clara, 980ª do ranking mundial juvenil e 14ª melhor brasileira na lista, garantiu uma vaga no triangular deste domingo. Vai enfrentar a chinesa Shuyue Ma (137ª, 15 anos) e a indiana Sathwika Sama (326ª, 15 anos) na primeira vez em que atua na França. A tenista que levar a melhor se classifica para a chave principal juvenil de Roland Garros. Com tanto em jogo, Maria Clara quer evitar ao máximo pensar que está jogando diante de um cartão-postal da capital francesa.

tênis quadra Torre Eiffel (Foto: Rendez Vous à Roland Garros/Divulgação)Quadra montada aos pés da Torre Eiffel (Foto: Rendez-Vous à Roland Garros/Divulgação)

- Quando eu entro na quadra, esqueço o ambiente externo, onde estou, a torcida, tudo. Isso é algo que me ajuda muito. Se a pessoa está gritando ou falando alto no telefone, por exemplo, isso não me atrapalha. Estou indo para jogar, então vou me concentrar ao máximo dentro de quadra. Quando acabar, aí tudo bem, comemora depois lá. Mas dentro da quadra nada pode me atrapalhar - enfatizou Maria Clara, que, apesar da idade, também se aventura nos torneios profissionais da ITF desde 2013.

tênis Maria Clara Copa Guga Kuerten 2011 (Foto: Arquivo pessoal)Maria Clara ganhou a Copa Guga Kuerten de 2011 na casa do ex-número 1 (Foto: Arquivo pessoal)

Maria Clara tem outra história curiosa para contar. Em 2011, conquistou um torneio dentro da casa de Gustavo Kuerten. Por conta da chuva no dia das finais da Copa Guga Kuerten, evento criado pelo ex-número 1 do mundo, Guga acolheu os tenistas em sua casa em Florianópolis, e as partidas foram disputadas na quadra coberta que ele possui no terreno.

- Foi até um pouco assustador na verdade. Eu estava prestes a fechar o jogo quando olhei para a tela e o vi assistindo. Aí deu aquela tremida. Fiquei um pouquinho nervosa. Mas depois consegui conciliar e fechar o jogo. É uma emoção sem explicação: você olhar e ver que um cara que ganhou milhões de títulos parou e está prestando atenção em você jogando. É uma coisa surreal - relembrou a carioca.

A carreira de Maria Clara: vontade de competir, viagens solitárias e sonho do pai

Roberto Silva, pai de Maria Clara, foi o responsável por ensinar o tênis à filha. A carioca começou a jogar aos cinco anos e surpreendeu a família ao pedir para competir já aos nove. Aos poucos, Roberto viu a filha a crescer e dominar as categorias no Rio de Janeiro a partir dos 11. Diante disso, ele montou uma equipe e passou a dedicar esforços para a carreira de Maria Clara dar certo.

Por conta dos altos gastos de viagem, a carioca viajava (e ainda o faz) muitas vezes sozinha para os torneios e ficava hospedada com pessoas de confiança da família, como aconteceu na Copa Guga Kuerten. Até vaquinha virtual já fizeram. Segundo Roberto, os custos de um atleta juvenil podem ir de R$ 3 mil, participando somente de torneios no Brasil, a R$ 10 mil por mês, com competições no exterior.

tênis Maria Clara Silva e técnico e pai Roberto Silva (Foto: Matheus Tibúrcio / GloboEsporte.com)Maria Clara ao lado do pai e técnico Roberto Silva (Foto: Matheus Tibúrcio / GloboEsporte.com)

- Os meus amigos sempre me ajudaram muito e bancavam. Nunca vou esquecer de um que, num torneio que a Clarinha não ia, ele disse: "ela não vai por causa de dinheiro? Dinheiro eu tenho. Clarinha, você vai, vou pagar tudo para você". Sempre tive a felicidade de quando faltava, eles completavam. Para falar a verdade, ela veio assim até agora, com o pessoal dando força - contou Roberto.

Atualmente, Maria Clara conta com o patrocínio de duas empresas, além das quadras e da academia do clube onde treina, no bairro da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Com um pouco mais de facilidades, Roberto acredita que a filha pode ir longe.

- Ela joga há muito tempo, mas a caminhada dela no tênis profissional está apenas começando. Ela ainda é juvenil e tem muita coisa pela frente. A nossa ideia é que ela, dentro de alguns anos, esteja entre as 50 melhores do mundo. Para isso, sem o suporte de uma empresa que apoie, que acredite no trabalho, a gente não consegue. Eu, só com as minhas aulas, não tenho condições de segurar esse custo todo. Mas acho que agora as coisas vão ficar mais fáceis.

Brasileiro de 15 anos está no triangular masculino

Também neste domingo será disputado o triangular masculino que vale vaga na chave juvenil de Roland Garros. O Brasil está representando por Gabriel Décamps, de 15 anos, vencedor do "Rendez-Vous à Roland Garros" em São Paulo. Ocupando atualmente o 168º posto do ranking mundial juvenil, o tenista paulista vai enfrentar o chinês Chengze Lu (286º, 16 anos) e o indiano Basil Khuma (619º, 17 anos).

- Vou ter que dar tudo e jogar concentrado para chegar à chave principal - afirmou Gabriel, logo após conquistar a seletiva brasileira.