06/08/2013 14h38 - Atualizado em 06/08/2013 17h26

Avançar rumo a Doha é possível, diz novo diretor-geral da OMC

'Rodada de Bali viabilizará início dessa conversa', disse Roberto Azevêdo.
Embaixador afirma que após 2008, emergentes são vistos como pares.

Lilian QuainoDo G1, no Rio

Roberto Azevêdo entre representantes da Firjan e da Amcham (Foto: Lilian Quaino/G1)Roberto Azevêdo entre representantes da Firjan e da Amcham Rio (Foto: Lilian Quaino/G1)

O avanço nas negociações para a Rodada de Doha é possível, mas é preciso ainda muito diálogo, o que deverá acontecer na  Rodada de Bali, na Indonésia, em dezembro, disse nesta terça-feira (6) o novo diretor-geral da Organização Mundial do comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo, que toma posse no cargo em setembro.

"Bali é para viabilizar o início dessa conversa. Desde 2008, nunca houve uma tentativa de conversar sobre o impasse de Doha. É hora de começar a ter esse diálogo", disse sobre a Rodada de Doha, iniciada em 2001, e suspensa em 2008.

Criatividade não é commodity abundante"
Roberto Azevêdo

Em evento da Amcham Rio e da Firjan, Azevêdo disse a empresários que a Rodada de Bali não vai resolver todos os problemas, mas vai preparar o terreno e dar uma injeção de ânimo ao sistema multilateral. "Há 20 anos não tem um acordo negociado multilateralmente", disse.

O embaixador ressaltou que a OMC decide por consenso, e, no momento em que isso acabar, perde a relevância. Ele afirma que o impasse em relação a Doha  está no núcleo das negociações, no acesso aos mercados.

"Em 2008, antes dos emergentes, havia dinâmica de negociação, que caminhava relativamente bem. Aí, chegou o impasse. Os emergentes passaram a ser vistos como pares, em igualdade de negociações. Isso mudou a dinâmica", explicou.

Ele ressalta que  problema é na área de negociações:

"Falta a horizontalização das conversas, que acontecem de forma independente e não comunicante. A conversa sobre um assunto se esgota ali. É preciso olhar para as negociações de forma mais abrangente e estratégica".

Azevêdo ressaltou que é preciso ser criativo para dar continuidade à rodada, e "criatividade não é commodity abundante".

"É preciso confiança. Para  ter essa conversa é preciso de um sinal de que o sistema  multilateral ainda responde", disse.

Azevêdo afirmou que na Rodada de Genebra foi tomado o cuidado de não se prometer nada. "Foi um momento negociador para dar margem de manobra para finalizar negociações. Essas negociações não vão sair do que está sobre a mesa: facilitação do comércio, segurança alimentar em agricultura, adminstração de cotas tarifárias, conversas sobre subsídios à exportação na área agrícola", disse.

O embaixador afirmou que o cenário de expansão do comércio fica atrelado ao ritmo do crescimento da economia mundial, em que momentos de desaceleração levam à disputa mais acirrada pelos mercados.

"A competição entre os agentes privados aumenta, por isso, a busca de competitividade é importante, principalmente para o Brasil, que vive um momento de transição importante à luz da variação cambial", disse o embaixador.

Ele afirmou ainda que não haverá uma solução sistêmica para o câmbio no âmbito da OMC ou de qualquer organismo internacional.

A OMC anunciou oficialmente no início de maio a escolha de Roberto Azevêdo para dirigir a organização a partir de 1º de setembro por um período de quatro anos.

Roberto Azevêdo, em imagem feita em 14 de março de 2013 (Foto: Reuters/Luke MacGregor)Roberto Azevêdo, em imagem feita em 14 de março de 2013 (Foto: Reuters/Luke MacGregor)

Azevêdo substituirá o francês Pascal Lamy, que está no cargo desde 2005.

A disputa final ficou entre o brasileiro, que contou com o apoio dos países emergentes e em desenvolvimento, e o mexicano Hermínio Blanco, visto como candidato dos países ricos.

 De acordo com a OMC, a escolha de Azevêdo levou em conta dois fatores: o candidato foi o que teve o maior apoio dos membros na rodada final, o que ocorreu também de forma consistente em cada uma das rodadas; e ele contou com o apoio de membros de todos os níveis de desenvolvimento e de todas as regiões geográficas, tendo feito isso ao longo do processo de escolha.

Desde sua fundação, em 1995, nunca um brasileiro ocupou a presidência da OMC, responsável por conduzir as rodadas que visam à liberalização do comércio mundial.

Um dos grandes desafios do novo chefe da OMC será reativar as negociações da Rodada Doha para liberalizar o comércio mundial, em ponto morto há anos.

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PERFIL DO DIPLOMATA

Nome

Roberto Carvalho de Azevêdo

Idade

55 anos

Local de nascimento

Salvador (BA)

Formação

Engenheiro civil

Estado civil

Casado

Principais cargos

Chefe do Departamento Econômicodo MRE

Subsecretário geral de assuntos econômicos, financeiros e tecnológicos do MRE

Desde 2008, é representante permanente do Brasil junto à OMC em Genebra

Currículo do brasileiro
Azevêdo é diplomata de carreira, tem 55 anos e está no Itamaraty desde 1983.

Em nota divulgada em dezembro, na ocasião do lançamento do nome do diplomata, o Itamaraty destacou que "a candidatura brasileira representa a importância atribuída pelo país ao fortalecimento da OMC e procura contribuir para o progresso institucional da Organização e para o desenvolvimento econômico e social mundial".

O Itamaraty também chamou a atenção para a Rodada de Doha, em que o Brasil negocia para derrubar subsídios agrícolas em países desenvolvidos como forma de dar mais competitividade às mercadorias do país.

No comunicado, o ministério mencionou como objetivos da OMC a "melhoria dos padrões de vida, à garantia do pleno emprego e da renda, à expansão da produção e do comércio de bens e serviços, bem como ao uso dos recursos disponíveis em conformidade com o desenvolvimento sustentável".

A nota também lista as qualificações de Azevêdo para o cargo. Desde 2008, ele é o representante do Brasil no órgão e atua como "negociador-chave". Antes, ocupou diversos cargos relacionados a assuntos econômicos no Ministério das Relações Exteriores, tendo atuado em contenciosos como os casos de Subsídios ao Algodão (iniciado pelo Brasil contra os Estados Unidos), Subsídios à Exportação de Açúcar (iniciado pelo Brasil contra as Comunidades Europeias) e Medidas que Afetam a Importação de Pneus Reformados (litígio iniciado pelas Comunidades Europeias), além de chefiar a delegação brasileira na Rodada Doha.

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