O avanço nas negociações para a Rodada de Doha é possível, mas é preciso ainda muito diálogo, o que deverá acontecer na Rodada de Bali, na Indonésia, em dezembro, disse nesta terça-feira (6) o novo diretor-geral da Organização Mundial do comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo, que toma posse no cargo em setembro.
"Bali é para viabilizar o início dessa conversa. Desde 2008, nunca houve uma tentativa de conversar sobre o impasse de Doha. É hora de começar a ter esse diálogo", disse sobre a Rodada de Doha, iniciada em 2001, e suspensa em 2008.
Em evento da Amcham Rio e da Firjan, Azevêdo disse a empresários que a Rodada de Bali não vai resolver todos os problemas, mas vai preparar o terreno e dar uma injeção de ânimo ao sistema multilateral. "Há 20 anos não tem um acordo negociado multilateralmente", disse.
O embaixador ressaltou que a OMC decide por consenso, e, no momento em que isso acabar, perde a relevância. Ele afirma que o impasse em relação a Doha está no núcleo das negociações, no acesso aos mercados.
"Em 2008, antes dos emergentes, havia dinâmica de negociação, que caminhava relativamente bem. Aí, chegou o impasse. Os emergentes passaram a ser vistos como pares, em igualdade de negociações. Isso mudou a dinâmica", explicou.
Ele ressalta que problema é na área de negociações:
"Falta a horizontalização das conversas, que acontecem de forma independente e não comunicante. A conversa sobre um assunto se esgota ali. É preciso olhar para as negociações de forma mais abrangente e estratégica".
Azevêdo ressaltou que é preciso ser criativo para dar continuidade à rodada, e "criatividade não é commodity abundante".
"É preciso confiança. Para ter essa conversa é preciso de um sinal de que o sistema multilateral ainda responde", disse.
Azevêdo afirmou que na Rodada de Genebra foi tomado o cuidado de não se prometer nada. "Foi um momento negociador para dar margem de manobra para finalizar negociações. Essas negociações não vão sair do que está sobre a mesa: facilitação do comércio, segurança alimentar em agricultura, adminstração de cotas tarifárias, conversas sobre subsídios à exportação na área agrícola", disse.
O embaixador afirmou que o cenário de expansão do comércio fica atrelado ao ritmo do crescimento da economia mundial, em que momentos de desaceleração levam à disputa mais acirrada pelos mercados.
"A competição entre os agentes privados aumenta, por isso, a busca de competitividade é importante, principalmente para o Brasil, que vive um momento de transição importante à luz da variação cambial", disse o embaixador.
Ele afirmou ainda que não haverá uma solução sistêmica para o câmbio no âmbito da OMC ou de qualquer organismo internacional.
A OMC anunciou oficialmente no início de maio a escolha de Roberto Azevêdo para dirigir a organização a partir de 1º de setembro por um período de quatro anos.
Azevêdo substituirá o francês Pascal Lamy, que está no cargo desde 2005.
A disputa final ficou entre o brasileiro, que contou com o apoio dos países emergentes e em desenvolvimento, e o mexicano Hermínio Blanco, visto como candidato dos países ricos.
De acordo com a OMC, a escolha de Azevêdo levou em conta dois fatores: o candidato foi o que teve o maior apoio dos membros na rodada final, o que ocorreu também de forma consistente em cada uma das rodadas; e ele contou com o apoio de membros de todos os níveis de desenvolvimento e de todas as regiões geográficas, tendo feito isso ao longo do processo de escolha.
Desde sua fundação, em 1995, nunca um brasileiro ocupou a presidência da OMC, responsável por conduzir as rodadas que visam à liberalização do comércio mundial.
Um dos grandes desafios do novo chefe da OMC será reativar as negociações da Rodada Doha para liberalizar o comércio mundial, em ponto morto há anos.
Nome | Roberto Carvalho de Azevêdo |
Idade | 55 anos |
Local de nascimento | Salvador (BA) |
Formação | Engenheiro civil |
Estado civil | Casado |
Principais cargos | Chefe do Departamento Econômicodo MRE Subsecretário geral de assuntos econômicos, financeiros e tecnológicos do MRE Desde 2008, é representante permanente do Brasil junto à OMC em Genebra |
Currículo do brasileiro
Azevêdo é diplomata de carreira, tem 55 anos e está no Itamaraty desde 1983.
Em nota divulgada em dezembro, na ocasião do lançamento do nome do diplomata, o Itamaraty destacou que "a candidatura brasileira representa a importância atribuída pelo país ao fortalecimento da OMC e procura contribuir para o progresso institucional da Organização e para o desenvolvimento econômico e social mundial".
O Itamaraty também chamou a atenção para a Rodada de Doha, em que o Brasil negocia para derrubar subsídios agrícolas em países desenvolvidos como forma de dar mais competitividade às mercadorias do país.
No comunicado, o ministério mencionou como objetivos da OMC a "melhoria dos padrões de vida, à garantia do pleno emprego e da renda, à expansão da produção e do comércio de bens e serviços, bem como ao uso dos recursos disponíveis em conformidade com o desenvolvimento sustentável".
A nota também lista as qualificações de Azevêdo para o cargo. Desde 2008, ele é o representante do Brasil no órgão e atua como "negociador-chave". Antes, ocupou diversos cargos relacionados a assuntos econômicos no Ministério das Relações Exteriores, tendo atuado em contenciosos como os casos de Subsídios ao Algodão (iniciado pelo Brasil contra os Estados Unidos), Subsídios à Exportação de Açúcar (iniciado pelo Brasil contra as Comunidades Europeias) e Medidas que Afetam a Importação de Pneus Reformados (litígio iniciado pelas Comunidades Europeias), além de chefiar a delegação brasileira na Rodada Doha.