Economia

Na crise, especialistas sugerem aplicações conservadoras

Poupança, LCI e títulos públicos são apostas para enfrentar turbulência

Gabriela Lobo vendeu títulos prefixados, que caminhavam para rendimento negativo, e passou a aplicar em produtos com rendimentos estáveis
Foto: André Coelho / O Globo
Gabriela Lobo vendeu títulos prefixados, que caminhavam para rendimento negativo, e passou a aplicar em produtos com rendimentos estáveis Foto: André Coelho / O Globo

RIO - Bolsa em queda no ano, dólar instável, fundos de renda fixa no vermelho, juros em alta e inflação corroendo os ganhos das aplicações financeiras. Normalmente, neste cenário em que os indicadores econômicos apontam rumos opostos, o pequeno investidor fica perdido. Por isso, O GLOBO consultou seis especialistas em finanças com a seguinte pergunta: onde aplicar o dinheiro de forma conservadora para cruzar com mais segurança a turbulência?

Com as fortes oscilações do câmbio, especialistas não recomendam aplicar na moeda americana. Eles sugerem aplicações em poupança, Letras de Crédito Imobiliário (LCI), investimentos com rendimento atrelado à Selic e, sobretudo, diversificação de apostas para evitar perdas. No curto prazo, as ações devem ficar de fora ou ocupar um espaço pequeno das carteiras.

Para Alexandre Espírito Santo, professor do Ibmec-Rio e economista da Simplific Pavarini, os investidores devem manter seus recursos aplicados principalmente na caderneta de poupança até o fim da crise. Ele lembra que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve elevar os juros básicos da economia, a taxa Selic, para 9% ao ano na reunião desta semana. E, com isso, a caderneta de poupança voltará a render pela regra antiga, de 0,5% ao mês mais a TR (Taxa Referencial).

— Com a facilidade de acesso e isenção de Imposto de Renda, a poupança é uma opção para uma carteira conservadora, principalmente para quem tem pouco a investir. Quando os mercados melhorarem, se o investidor se sentir mais seguro, pode migrar para outras aplicações — afirma Espírito Santo.

Longe dos prefixados

Flavio Lemos, da Trader Brasil Escola de Investidores, concorda que a poupança é uma opção segura para cruzar a crise. Mas avalia que existe outra opção confiável com rendimento superior: as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), oferecidas nos bancos de varejo e corretoras. Também sem Imposto de Renda, as LCI oferecem rendimento acima de 80% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

— A LCI têm risco muito baixo, já que em caso de quebra do banco que a emitiu, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) garante o pagamento de até R$ 200 mil para o investidor — explica o especialista, que sugere diversificar os investimentos.

Foi o que fez a administradora Gabriela Lobo. Ela vendeu semanas atrás seus títulos públicos prefixados, que caminhavam para um rendimento negativo, e passou a aplicar em produtos com rendimentos estáveis, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e Letras de Crédito Imobiliários (LCI).

— Com a instabilidade, a gente acaba sofrendo com essas oscilações fortes. Tento não colocar o meu dinheiro todo numa mesma aplicação. Se ela cair muito, é horrível. E tento também acompanhar os mercados todos os dias para ir adequando meu dinheiro aplicado — explica Gabriela.

Para William Eid Júnior, professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas, para quem pretende aplicar um montante de R$ 30 mil a R$ 50 mil, o ideal é concentrar 100% em Certificados de Depósito Bancário (CDBs), ou Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) vendidas no Tesouro Direto ou Letras de Crédito Imobiliário (LCIs).

‘Proteção contra cenário de volatilidade’

Outro especialista que elege produtos vinculados à Selic é Fábio Colombo, administrador de investimentos. Ele recomenda que 80% dos recursos sejam aplicado em LFTs ou fundos DI com no máximo 1% de taxa anual de administração. Mas o restante poderia até mesmo ser alocado em papéis como as NTNs-B, desde que mantidos até o vencimento. Ele faz a ressalva, no entanto, que esse volume aplicado (R$ 30 mil a R$ 50 mil) não deve ser retirado por pelo menos dois anos, o que significa que o investidor precisa ter uma reserva de emergência.

Já Fernando Meibak, sócio-diretor da Moneyplan consultoria, recomenda que 60% dos investimentos fiquem concentrados em fundos DI ou CDBs. Ele pondera que uma pequena parcela pode ser investida em produtos mais arriscados, como 25% em fundos multimercado multiestratégia, que tentam obter ganhos com a volatilidade em juros futuros, câmbio e ações.

— A lógica da carteira é se proteger de cenário de alta volatilidade e maior risco. Mas multimercados têm bom índice de acerto nestes momentos de volatilidade — diz Meibak.

O único consenso entre os especialistas consultados é que, no momento, é melhor ficar fora de títulos prefixados. Papéis como Letras do Tesouro Nacional (LTNs) vendidos no Tesouro Direto com vencimento em janeiro de 2014 eram vendidos na semana passada com rendimento de 9,5% ao ano, mas com a elevação de juros dada como certa até o fim do ano e o risco de inflação em alta, o investimento pode se tornar menos atraente.