Coluna
Artigo Armando Castelar, coordenador do Ibre/FGV e professor do IE/UFRJ

Melhor que o esperado

Queda na poupança a 13,9% do PIB é prenúncio de fortes ajustes

O PIB divulgado ontem trouxe boas notícias, ainda que não boas o suficiente para melhorar as expectativas para 2014. No quarto trimestre de 2013 o PIB cresceu 0,7%, mais que o dobro do 0,3% previsto pelo mercado. No ano, a expansão foi de 2,3%, ante previsão de 2,2%. Mas nem tudo foram flores: a poupança caiu a apenas 13,9% do PIB, prenunciando um forte ajuste à frente.

Ano passado foi o ano da agropecuária, que cresceu 7%, expandindo a produção de caminhões e máquinas agrícolas, transportes e armazenagem, que escoam a safra, e o comércio atacadista. A extrativa mineral foi o ponto negativo: queda de 2,8%, devido ao petróleo.

Pelo lado da demanda, o investimento se destacou, com alta de 6,3%, com expansão de 10,2% em máquinas e equipamentos. A alta de 0,3% no investimento no quarto trimestre superou as projeções de contração. A notícia ruim foi que o setor externo não contribuiu para a expansão.

O consumo das famílias desacelerou. No ano, cresceu 2,3%, a menor alta desde 2003 e menos da metade da expansão média em 2004-12. Foi o terceiro ano seguido de queda no crescimento.

Três fatores explicam isso. Primeiro, a piora no mercado de trabalho: em 2013 a massa salarial real subiu apenas 2,6%, contra 6,3% em 2012. Segundo, o crédito ao consumo das famílias aumentou apenas 0,3% acima da inflação em 2013, contra 2,1% em 2012. Por fim, caiu a confiança do consumidor, devido à piora do mercado de trabalho, da elevada inflação e da percepção de que haverá um tarifaço após as eleições, para corrigir os preços de gasolina e diesel e tarifas.

O bom desempenho do investimento não se repetirá em 2014. Somando a alta em 2013 com a queda de 4% em 2012 vê-se que esse cresceu apenas 1% ao ano na média do último biênio. A expansão do investimento em 2014 deve ser daí para baixo. A produção de bens de capital não repetirá 2013, pois não se precisará de tantos caminhões novos; e a confiança dos empresários está em queda. Resta torcer para que a política econômica melhore e se vislumbre como se resolverão os vários desequilíbrios de hoje.

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