Economia

As tribos do BC brasileiro: Fraldinhas, Dinossauros e Forasteiros

Apesar da unanimidade nas decisões do Copom, apelidos indicam origens distintas de cada um dos membros
Foto: André Mello/O Globo
Foto: André Mello/O Globo

BRASÍLIA - A maioria das decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) são tomadas por unanimidade. A voz uníssona dos diretores do Banco Central (BC) esconde uma profunda divisão do colegiado. Nada tem a ver com ortodoxia ou heterodoxia, direita ou esquerda, jazz ou bossa nova.

A diferença é de ordem trabalhista. As carteiras de trabalho dos integrantes da cúpula da autoridade monetária revelam a forma como cada um entrou no serviço público. O alto escalão da autarquia está milimetricamente dividido em três tribos: fraldinhas, dinossauros e forasteiros.

Apesar de parecer o mais café com leite, o grupo que domina o Copom é o dos “fraldinhas”, porque conquistou o cargo mais alto da hierarquia. O termo nasceu em meados dos anos 90, quando o BC voltou a fazer concursos públicos, depois de ficar mais de 20 anos sem contratar. Os novos técnicos foram apelidados assim. Inclusive, o novato Alexandre Antonio. Hoje, conhecido pelo sobrenome Tombini, atual presidente do BC.

Os calouros deram o troco. Batizaram a antiga geração do concurso anterior, de 1977, de "dinossauros".

Diferentemente do que ocorria no passado, quando os cargos de diretores eram ocupados por economistas do mercado financeiro, o Copom é loteado entre funcionários de carreira do BC. Até mesmo os “forasteiros” são funcionários públicos de carreira.

Apenas dois diretores vieram de fora. Mas um dele abocanhou nada menos do que duas diretorias e equilibrou o jogo para os forasteiros entre as tribos do Copom. A brincadeira recorrente na autarquia é que Luiz Awazu Pereira precisa da parede de duas diretorias para pendurar o enorme número de diplomas, já que tem o maior currículo entre os colegas.

Awazu e o outro forasteiro do Copom, o diretor de Política Monetária, Aldo Mendes, foram os que racharam a decisão na antepenúltima reunião do comitê. Eles queriam esperar mais para começar o processo de alta dos juros. Foram voto vencido. E nesse caso, nem adiantaria Awazu votar por dois (o que não acontece).

Na época, venceram os dinossauros e os fraldinhas. De lá para cá, todos entraram numa eloquente unanimidade orquestrada pelo presidente Tombini, o líder de todas as três turmas do Copom. Ele não é um fraldinha comum. É visto pelos colegas como um "fraldinha parrudo”. O adjetivo nada tem a ver com alguns quilinhos que o presidente do BC possa ter adquirido na estrada do serviço público. Refere-se, sim, ao currículo dele, considerado invejável por alguns colegas.