Economia

Procura por proteção contra alta do dólar foi a maior do ano

Empresas protegeram dívidas de US$ 15,6 bilhões no mês de agosto

SÃO PAULO - Os bancos registraram no mês de agosto a maior procura do ano por proteção contra a variação cambial — chamada de hedge no jargão financeiro — por parte de empresas com dívidas em moeda americana. O mês passado foi o período em que o dólar apresentou muita volatilidade e alcançou a maior cotação desde 2008 frente ao real, chegando a R$ 2,45. Os dados são da Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos (Cetip), empresa privada responsável pelo registro dessas operações.

Os dados da Cetip mostram que foram fechados 5.326 contratos para proteger US$ 15,6 bilhões de dívidas em dólar. Foi um crescimento de 44% em relação a janeiro, quando as companhias buscaram nos bancos proteção para US$ 10,8 bilhões em compromissos. No ano, o dólar se valoriza 15,5% em relação ao real.

— São empresas importadoras, com pagamentos em dólar vencendo nos próximos meses, que decidiram fazer hedge depois que o dólar chegou a um nível desconfortável para sua contabilidade — afirma Fábio Zenaro, gerente executivo de novos negócios da Cetip.

Zenaro explica que as companhias que fazem comércio exterior trabalham com limites de quanto podem suportar a variação cambial sem prejudicar sua contabilidade. Quando esses limites são atingidos, elas vão aos bancos para segurar a taxa de câmbio e proteger seu caixa se a moeda americana continuar subindo.

Nos bancos, a proteção cambial é feita por instrumento financeiro chamado de contrato a termo de dólar, que pode ser feito de acordo com os compromissos da empresa, com o volume e o vencimento mais adequados. Já na BM&FBovespa, essas operações são padronizadas, com os contratos vencendo no fim do mês e com lote padrão de US$ 50 mil.

De acordo com analistas, a tendência do dólar continua de alta frente ao real e a outras moedas de países emergentes, depois que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, sinalizou em maio que deverá retirar os estímulos à economia americana.

Moeda mais previsível

Para a corretora Icap Brasil, por exemplo, o dólar deve fechar o ano na casa de R$ 2,40.

— Agosto foi um mês de muita volatilidade. E, ao mesmo tempo em que os importadores buscaram proteção, os exportadores também buscaram ‘travar’ a cotação do dólar. Como eles têm ‘recebíveis’ em dólar, fazem esse tipo de operação para obter o maior valor — explica Zenaro.

De acordo com a Cetip, em agosto, foram fechados 4.451 contratos por exportadores que tinham US$ 14,1 bilhões a receber, maior patamar do ano.

No mês passado, o Banco Central anunciou um programa para frear a escalada da moeda. O BC anunciou leilões diários de moeda americana, no mercado à vista e no futuro.

Para Felipe Salto, da Consultoria Tendências, os leilões diários começam a fazer efeito:

— Com seu plano de ‘ração diária’ de dólar, o BC conseguiu dar mais previsibilidade à cotação da moeda.