Economia

Apagão: Para especialistas, falta de reservatórios amplia fragilidade

Acionamento de térmicas é mais lento que o de usinas hidrelétricas

RIO - O apagão desta quarta-feira no Nordeste — e sua ampla abrangência em todos os nove estados da região — pode ter sido agravado por uma série de fatores, além do incêndio na linha de transmissão causado pela queimada. O baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas da região, a demora natural para a ligação das termelétricas, a falta de investimentos e o excesso de empresas no sistema elétrico brasileiro podem ter contribuído para a falta de energia, segundo especialistas do setor.

O engenheiro e diretor do Instituto de Desenvolvimentos Estratégico do Setor de Energético (Ilumina), Roberto D'Araújo, é enfático: faltou planejamento.

— O governo, no ano passado, não ligou as termelétricas no momento adequado para não pressionar as tarifas, uma vez que essa energia é mais cara. Mas isso fez com que o nível dos rios ficasse ainda mais baixo. Em um problema como este, de ontem, a reação é mais lenta, pois o Nordeste está sem reservatórios para suprir a demanda e, assim, depende agora das térmicas, que não geram energia de forma instantânea, algumas demoram um dia para começar a produzir — disse o engenheiro, afirmando que, desta vez, a culpa não foi da Chesf, que simplesmente não poderia socorrer o sistema elétrico.

Nível baixo do São Francisco

Ele lembra que o sistema interligado comprova a dependência do Nordeste. O Sul está passando 2.600 Megawatts (MW) para o Sudeste, que, por sua vez, transfere 3.300 MW para o Norte. Já o Norte repassa quase que integralmente a mesma quantidade para o Nordeste. Isso ocorre, segundo ele, pelas faltas de chuvas históricas na região:

— O nível do Rio São Francisco está abaixo da média nos últimos dez anos.

Djalma Falcão, professor de Engenharia Elétrica da Coppe/UFRJ, lembra que a existência de mais um blecaute na região Nordeste não deve ser encarada como coincidência. Para ele, pode ter havido falta de investimentos e de planejamento:

— Antes, as térmicas eram utilizadas de forma pontual no sistema elétrico brasileiro, agora são estruturais, relevantes. Assim, é preciso planejar bem quando utilizá-las e quando priorizar as hidrelétricas .

Ele não descarta que a falta de investimentos tenha piorado a situação.

— Pode ter havido falta de manutenção. Hoje em dia, há diversas empresas no setor, algumas destas dirigidas por bancos, com equipamentos nas subestações, há muitas empresas em todo o sistema — afirmou Galvão.

Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), lembra que o governo tem incentivado o consumo, com a redução das tarifas de energia, sem ampliar os investimentos, o que satura o sistema e o torna mais vulnerável aos apagões:

— O problema chega à fiscalização, não temos informações de que a Aneel está acompanhando como deve o setor.

Leilões serão de térmicas

Mas, para o professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da UFRJ, o apagão de ontem foi uma casualidade. Segundo ele, a rapidez com que a energia foi retomada em toda a região mostra a eficiência do país no setor. Ele, contudo, critica a opção por novas hidrelétricas sem reservatórios, para atender ao pleito dos ambientalistas, o que eleva a dependência por termelétricas — que serão maioria no leilão previsto para hoje:

— Essa decisão é sem racionalidade, estamos reféns de ONGgs estrangeiras. Mas o leilão terá uma preocupação espacial, priorizando térmicas no Nordeste.