Economia

Dólar fecha em queda de 1,81% cotado a R$ 2,21; Bolsa cai

Ibovespa recua mais de 2%; ações da OGX perdem mais de 20%

SÃO PAULO - A possibilidade de uma paralisação do governo dos Estados Unidos por falta de recursos provocou um sentimento de aversão ao risco nos investidores nesta segunda-feira. Na Europa e nos EUA, as principais Bolsas recuaram com o impasse para a aprovação do orçamento americano. Dados mais fracos da indústria chinesa e a crise política na Itália também pesaram. A Bolsa de Valores de São Paulo seguiu o pessimismo e se desvalorizou mais de 2%, no quinto pregão consecutivo de baixa. Também pesou sobre o Ibovespa, índice de referência do mercado, a desvalorização das ações da OGX.

No mercado de câmbio, o dólar recuou frente ao real. A moeda americana fechou negociada a R$ 2,214 na compra e R$ 2,216 na venda, uma baixa de 1,81%. Na máxima do dia, a divisa foi negociada a R$ 2,262 e na mínima bateu em R$ 2,211 No mês, o dólar comercial se desvalorizou 7,10% frente ao real, mas no ano ainda sobe mais de 10%.

O Banco Central (BC) realizou, pela manhã, o leilão diário de contratos de swap cambial tradicional e vendeu todos os dez mil papéis oferecidos, totalizando US$ 497,7 milhões. O leilão contribuiu para manter a queda da divisa. Os contratos têm vencimento em 3 de fevereiro de 2014.

Segundo um operador de câmbio, o dólar se desvalorizou influenciado pela formação da Ptax de setembro, taxa média do dólar que liquidará contratos futuros com vencimento nesta terça. Ele disse que bancos venderam a moeda na tentativa de melhorar os ganhos com suas posições vendidas de quase US$ 30 bilhões no mercado futuro de dólar. A Ptax acabou ficando em R$ 2,23, taxa mais baixa do que a vista na semana passada, o que beneficiou os ‘vendidos’ nesta disputa

- As instituições bancárias venderam moeda e pressionaram o dólar para baixo para que a Ptax ficasse mais baixa - disse o profissional de câmbio.

À tarde, o dólar manteve o movimento de baixa, principalmente frente a divisas de países exportadores de commodities, com os investidores acompanhando o impasse sobre o orçamento nos Estados Unidos.

OGX volta a pressionar o Ibovespa

O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, se desvalorizou 2,61% aos 52.338 pontos, com volume negociado de R$ 7,1 bilhões. Foi a maior queda percentual desde o dia 2 de julho, quando o índice recuou 4,24%. No mês, entretanto, o Ibovespa apresenta ganho de 4,65%.

As ações ON da petrolífera OGX voltaram a pressionar o índice, com desvalorização de 25%, a maior queda do pregão, negociadas a R$ 0,22, nova mínima histórica. A queda da OGX arrastou outras ações do grupo. Os papéis ON da MMX Mineração caíram 8,82% a R$ 1,55, a segunda maior queda do pregão, e as ações ON da LLX, de logística, perderam 7,30% a R$ 1,65, a terceira maior baixa. As ações ON da OSX, de construção naval, que não fazem parte do índice, recuaram 14,49% a R$ 0,59, já que a empresa é bastante dependente da OGX.

A companhia do empresário Eike Batista confirmou que não efetuou o pagamento dos juros de uma emissão de debêntures, previsto para o dia 25. Com isso, cresce a possibilidade de a empresa não honrar com o cupom de uma emissão de bônus no exterior que vence amanhã, informa o jornal Valor Econômico. As operações estão vinculadas porque a emissão de debêntures foi o meio usado pela companhia para trazer os recursos para o país. O total a ser pago aos investidores do bônus com vencimento em 2022 é de US$ 45 milhões.

No mercado, analistas ouvidos pelo GLOBO avaliaram que o risco de a OGX dar calote nos investidores existe.

- Como a empresa está prestes a pedir recuperação judicial esta possibilidade (do calote) é real - diz um analista que prefere não se identificar.

O pedido de recuperação judicial poderia acontecer em duas semanas, segundo informações que circularam no mercado. Ainda de acordo com a matéria do Valor, a OGX pretende negociar com a Petronas, petroleira da Malásia Petronas a transferência total do campo Tubarão Martelo para atenuar os efeitos de uma possível recuperação judicial da companhia.

A OGX tem um contrato de parceria com a Malásia, e a ideia é revisar este acordo e transferir integralmente o campo à empresa malasiana, no lugar dos 40% inicialmente previstos. Outra alternativa seria conseguir recursos adicionais com os atuais credores, os donos dos bônus emitidos pela OGX, num total de US$ 3,6 bilhões, ou com novos investidores.

Nesta segunda, o ministro da Fazenda Guido Mantega disse que a situação das empresas do Grupo EBX já causou problemas para a imagem do país no exterior e para a própria Bolsa de Valores, que teve uma desvalorização de 10% em função da queda das ações dessas companhias. Ele disse também que não é o governo que vai solucionar o problema dessas empresas, mas sim o mercado.

Sem mencionar a petroleira, a Bovespa enviou comunicado a agentes do mercado informando que a negociação de ativos no mercado a vista será interrompida caso seu emissor apresente pedido de recuperação judicial ou extrajudicial, ou ainda que ocorra "decretação de intervenção, liquidação extrajudicial ou administração especial temporária no emissor".

Entre as demais ações mais negociadas do Ibovespa, Vale PNA se desvalorizou 1,86% a R$ 31,55, com o dado mais fraco da produção industrial chinesa; Petrobras PN caiu 0,75% a R$ 18,40; Itaú Unibanco PN teve baixa de 2,35% a R$ 31,46 e Bradesco PN caiu 4,16% a R$ 30,40. A maior alta foi apresentada pelos papéis PNB da Eletrobras, com ganho de 2,65% a R$ 10,47.

Na BM&F, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) subiram refletindo a piora nas projeções de inflação para 2014 divulgadas pelo relatório de inflação do Banco Central, a despeito da queda do dólar O papel com vencimento em janeiro 2017 tinha taxa subindo para 11,42%, contra 11,41% de sexta-feira; o DI para janeiro de 2015 tinha taxa de 10,24% frente aos 10,15% do último fechamento. E o contrato com vencimento em 2014 subiu de 9,31% para 9,36%. A projeção para o IPCA ano que vem, segundo o Banco Central, subiu de 5,4% para 5,7%.

Impasse para aprovação de orçamento nos EUA traz tensão às Bolsas

Nos Estados Unidos, os principais índices acionários fecharam em queda. O S&P500 teve baixa de 0,60%; o Dow Jones se desvalorizou 0,84% e o Nasdaq perdeu 0,27%. A atenção dos investidores esteve concentrada nas negociações entre democratas e republicanos para evitar a paralisação do governo dos Estados Unidos a partir de amanhã, quando começa o ano fiscal 2014 no país. Como o orçamento não foi aprovado, serviços federais poderiam ser prejudicados. A última vez que isso aconteceu foi no governo de Bill Clinton, também democrata, entre novembro de 2005 e janeiro de 2006.

- O mais provável é que a tensão permaneça até o último instante, mas se chegue a um acordo no apagar das luzes. Já vimos esse impasse antes. Historicamente as negociações se alongam até a última hora. Os mercados financeiros seriam impactados negativamente sem um acordo - avalia o economista-chefe do banco BNP Paripas para a América Latina, Marcelo Carvalho, em teleconferência com jornalistas.

Um projeto de lei foi aprovado pela Câmara dos Representantes neste fim de semana garante recursos para que o governo não pare, mas precisará ser revisado pelo Senado. O orçamento foi rejeitado pelo Senado por 54 a 46 votos, e devolvido à Câmara. A Câmara dos Representantes tem maioria republicana, de oposição, enquanto o Senado tem maioria democrata, mesmo partido do presidente Barack Obama.

A reforma do sistema de Saúde levada à frente pelo presidente Barak Obama é um dos grandes entraves à aprovação do orçamento, já que várias emendas liberando recursos para este programa estão recebendo o veto dos republicanos. Tudo deve ser resolvido até meia-noite de hoje para evitar a paralisia do governo. A discussão para a elevação do teto da dívida pública dos Estados Unidos também preocupa o mercado.

Crise na Itália preocupa Europa

Na Itália, é concreta a possibilidade do governo do primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, se desfazer. Ministros do partido de Silvio Berlusconi anunciaram sua saída da coalizão governista, no fim de semana. Letta vai submeter seu governo a um voto de confiança no Parlamento na quarta-feira. A agência de classificação de risco Fitch divulgou nesta segunda-feira que a nota de crédito da Itália corre risco de ser rebaixada, já que os problemas políticos podem afetar a capacidade do país em alcançar suas metas orçamentárias.

“A saída dos ministros resultou do fracasso do primeiro ministro Letta em negociar os ajustes fiscais no orçamento do próximo ano”, analisa o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, em relatório divulgado nesta segunda-feira.

Entre os principais índices acionários na Europa, o Dax, da Bolsa de Frankfurt, perdeu 0,78%; o Cac, de Paris, recuou 1,04% e o FTSE, da Bolsa de Londres, caiu 0,77%.

Na China, foram divulgados dados que mexeram novamente com as ações de empresas de commodities. Os dados revisados do índice dos gerentes de compras (PMI,na sigla em inglês). O PMI sobre a atividade industrial da China subiu para 50,2 pontos em setembro, de 50,1 pontos em agosto, de acordo com o instituto de pesquisas Markit Economics em parceria com o banco HSBC. A produção no setor industrial chinês cresceu pelo segundo mês consecutivo, mas o ritmo desacelerou. As Bolsas asiáticas caíram com o impasse do orçamento nos EUA. O dado veio abaixo do esperado, o que está afetou negativamente ações de siderurgia e os papéis da Vale.