Bola na mão ou mão na bola? A discussão sobre esse polêmico
momento no futebol ganhou força após a Copa do Mundo no ano passado. O rigor
dos árbitros brasileiros criou o debate, e vários lances geraram dúvidas. A
Fifa enviou um instrutor para tentar esclarecer suas orientações. Mas ainda não
há unanimidade. O último fim de semana provou isso. Seja na Série A ou B,
juízes têm interpretações diferentes em jogadas parecidas.
O GloboEsporte.com separou seis lances. Em dois, o árbitro
apitou e deu pênalti. Os outros quatro
foram dentro da área, mas a arbitragem nada marcou, para a revolta de Botafogo,
Corinthians, Flamengo e Cruzeiro. A Fifa fala em marcar todos os lances em que
houver “mão deliberada”, ou seja, o toque, mesmo que involuntário, deve ser
marcado quando o atleta que cometeu a infração assume o risco ao se jogar na bola.
No entanto, ainda há espaço para interpretação. E para
polêmica.
Para o ex-árbitro e comentarista da TV Globo, Leonardo Gaciba, o saldo não foi bom. Para ele, dos seis lances, os árbitros só acertaram em suas decisões em dois dos seis lances.
- Respeitando conclusões contrárias, creio que não foi uma rodada legal se tratando deste conceito. Quatro erros e dois acertos, uma média ruim - analisa Gaciba.
Confira todas as jogadas e a opinião do comentarista em cada lance:
botafogo x boa esporte - nada marcado
No empate por 1 a 1 entre Botafogo e Boa Esporte no Nilton
Santos, Elvis, do Bota, tentou um cruzamento para a área no fim da primeira
etapa. A bola explodiu no braço de Alê. Os jogadores do Botafogo pediram pênalti,
mas o árbitro Alisson Sidnei Furtado (TO) não marcou. Viu o lance como normal e
mandou o jogo seguir. Os botafoguenses ficaram na bronca. Para Leonardo Gaciba, foi pênalti.
- Pênalti. O jogador do Boa se atira para bloquear o cruzamento e o faz com os braços abertos. Ele assume o risco que a bola bata no seu braço - analisou o comentarista.
américa-mg x atlético-go - pênalti
O gol da vitória do
América-MG diante do Atlético-GO nasceu a partir de um lance de mão na bola. Logo
no primeiro ataque do Coelho, Sávio recebeu
cruzamento de Robertinho pela esquerda e chutou em cima de Éder Sciola, do
Dragão goiano. O árbitro alagoano José Ricardo Vasconcellos Laranjeira não
hesitou em dar o pênalti. Leonardo Gaciba concordou com a decisão do juiz.
- Pênalti. A decisão mais polêmica é essa. Pequena distância, mas um detalhe importante torna a jogada faltosa. O defensor se atira de forma atabalhoada para bloquear o cruzamento. Ao se jogar desta forma, ele corre o risco de a bola bater no seu braço que, se não estiver na frente ou junto ao corpo caracteriza a infração - analisa Gaciba.
ceará x santa cruz - pênalti
O jogão no Castelão também entra na lista com o pênalti que
originou o segundo gol do Ceará contra o Santa Cruz. Aos 28 minutos do segundo
tempo, Fabinho tentou um voleio pelo canto esquerdo, e a bola bateu no braço de
Nininho, lateral do time pernambucano. O paraense Wasley do Couto Leão marcou a
penalidade e deu cartão amarelo para o jogador do Santa. Marinho cobrou o
pênalti e marcou. No entanto, para Leonardo Gaciba, o juiz não devia ter sinalizado a penalidade.
- Não foi pênalti. Este não é um erro de interpretação e sim de visão. Tenho a sensação de que o árbitro viu o braço aberto, e claramente isso não ocorreu - comentou o ex-árbitro.
santos x corinthians - nada marcado
O lance que causou polêmica no clássico paulista na Vila
Belmiro aconteceu aos 38 minutos da etapa final. O lateral corintiano Uendel
cruzou, e a bola bateu na mão do santista Daniel Guedes. Os jogadores do
Corinthians pediram a penalidade, mas Luiz Flávio de Oliveira deixou a partida
seguir e marcou apenas escanteio. Para Gaciba, Luiz Flávio deveria ter apitado o pênalti.
- Pênalti. Dificílimo de ser observado dentro do campo de jogo pelo fato do corpo do defensor estar à frente do campo de visão do árbitro. O defensor cola o cotovelo no corpo mas com o antebraço aberto bloqueia a bola com a mão.
flamengo x atlético-mg - nada marcado
O Atlético-MG foi imponente contra o Flamengo no Maracanã,
mas os rubro-negros ficaram com a sensação de que poderiam ter amenizado a
derrota. Aos 17 minutos do segundo tempo, Sheik tentou
cruzar pela esquerda, mas a bola bateu no braço do lateral atleticano Patric.
Thiago Duarte Peixoto estava no apito e não marcou nada no lance. Os donos da
casa pediram pênalti, mas para Gaciba, o juiz acertou em não apitar.
- Não foi pênalti. Uma das orientações da regra é que o árbitro observe se a bola bateu na mão ou a mão bateu na bola. Neste caso, o defensor claramente visa tirar a bola do atacante com o pé, não com o corpo, somente com o pé. Ação contínua, com uma curta distância, o atacante chuta a bola na mão do defensor. Bola na mão - opina o comentarista da TV Globo.
cruzeiro x chapecoense - nada marcado
O Cruzeiro foi
surpreendido no Mineirão e viu sua boa sequência ser interrompida pela
Chapecoense. Perdeu por 1 a 0. No entanto, a Raposa saiu de campo revoltada.
Reclamou muito de um lance que ocorreu aos 46 minutos do primeiro tempo. Allano
cruzou pela esquerda, e a bola bateu na mão de Bruno, da Chapecoense. Péricles
Bassols Cortez nada marcou. O juiz é o mesmo que deu pênalti para o São Paulo
contra o Grêmio na sexta rodada em lance parecido. Gaciba crê que a penalidade deveria ser sinalizada.
- Pênalti. Jogada muito semelhante a do jogo do Botafogo e Boa. O cruzamento é feito para a área e o defensor se joga para bloqueá-lo conseguindo seu intuito com as mãos que estão fora do eixo do corpo.