10/11/2013 08h45 - Atualizado em 11/11/2013 11h22

Ribeirinhos de RO exploram couro e carne de jacaré de forma sustentável

Reserva do Lago do Cuniã tem autorização para captura do animal.
Além de melhorar a renda, eles ajudam na recuperação da espécie.

Do Globo Rural

O Lago do Cuniã, em Rondônia, é uma reserva extrativista, onde vivem cerca de 80 famílias de pescadores e agricultores. O trabalho de captura e abate de jacaré se tornou uma fonte de renda para a comunidade, que hoje vê a carne do animal sendo vendida no comércio de Porto Velho.

Faz 40 anos que a caça de jacaré é proibida na Amazônia. Com a criação da reserva extrativista do Lago do Cuniã, a fiscalização e o controle passaram a ser mais rigorosos, o que aumentou significativamente o número de animais. O Instituto Chico Mendes calcula que na área existam algo em torno de 36 mil jacarés.

Houve um tempo em que a caça sem controle fez diminuir bastante a quantidade de jacaré no lago.

Ednaldo de Souza, presidente da Coopcuniã, Cooperativa dos Agricultores e Pescadores do Lago do Cuniã, diz que antes era tão difícil encontrar jacaré que ele nadava no lago quando tinha 10 anos. “Veio a proibição e a partir disso foi só aumentando. É um um animal que reproduz muito. Depois de 20 anos, começou a ter uma quantidade muito grande de jacaré e a ter ataques.”

Lago do Cuniã (Foto: reprodução)Lago do Cuniã (reprodução)

Dez anos atrás, a família da Lucineide da Silva ficou menor depois que um jacaré avançou no seu filho de cinco anos. Ela estava lavando roupa na beira do lago, quando o menino Felipe foi puxado de repente. A dor da Lucineide deu forças para que a comunidade do Cuniã se unisse e criasse um projeto de manejo junto ao ICMBIO, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do Ministério do Meio Ambiente que fiscaliza a reserva.

“Foi todo um processo de amadurecimento. Não só nos princípios do manejo, mas também na questão de pesquisa que a vigilância exige e que o próprio mercado exige para que a carne tenha boa qualidade, de procedência garantida até o consumidor final”, explica Cristiano Andrey Souza do Vale, biólogo do ICMBIO. Mudou inclusive a maneira como a comunidade enxergou o jacaré. “Eles viam o jacaré como uma ameaça, hoje já é um recurso. Eles cuidam dos jacarés e dos ninhos também. Eles conservam esse lugar tão bonito como é o Cuniã”.
 

O manejo funciona assim: todo ano é feita uma contagem visual dos jacarés do lago e a partir daí se define a quantidade de animais que podem ser abatidos e comercializados. A cota de 2013 foi estipulada em 900 jacarés.

Um jacaré pode chegar a 90 anos e quando adulto ele é considerado um animal do topo da cadeia alimentar, assim como a onça e a sucuri. Ana Delanir Flores é a bióloga que acompanha o trabalho na comunidade. “No Lago do Cuniã tem tanto jacaré como tem outras espécies. Tem uma grande variedade de animais aqui dentro. Peixes, aves, vários mamíferos. Por isso o jacaré achou um berçário, um paraíso aqui no Cuniã”, diz.

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