22/11/2013 14h02 - Atualizado em 22/11/2013 15h30

Passageiro vai ter aeroportos de melhor qualidade, dizem especialistas

Especialistas apontam qualidade de aeroportos de operadores vencedores.
Professor da Dom Cabral diz que preços das passagens podem cair.

Anay Cury e Simone CunhaDo G1, em São Paulo

Os consórcios que ganharam o leilão de Galeão e Confins, arrematado por um total de R$ 20,8 bilhões, devem melhorar a qualidade dos serviços nos aeroportos e podem até reduzir o preço das passagens, segundo especialistas ouvidos pelo G1.

A terceira rodada de concessões de aeroportos brasileiros, nesta sexta-feira (22), teve ágio de 251,74% em relação ao mínimo fixado pelo governo, de R$ 5,9 bilhões. O Galeão, no Rio de Janeiro, foi arrematado por R$ 19 bilhões (ágio de 293,91%) pelo consórcio Aeroportos do Futuro; e Confins, em Minas Gerais, foi arrematado por R$ 1,82 bilhão (ágio de 66%), pelo consórcio AeroBrasil.

“(Os operadores que venceram a disputa) pensam como gestor: 'quando o passageiro estiver na fila, não estou ganhando com ele'. Eles não gostam de gente na fila, ao contrário da Infraero”, diz o professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende.

Segundo ele, os operadores dos aeroportos de Cingapura, Munique e Zurique diversificam as fontes de receita para além das tarifas cobradas das empresas aéreas, investindo em lojas e outros serviços em que o passageiro possa gastar, o que pode levar a uma redução desse custo também para os passageiros.

A expectativa é que a oferta e a qualidade dos serviços dos aeroportos mude “da água para o vinho”, de acordo com o professor da Dom Cabral, já que as operadoras envolvidas nos consórcios “são referencias mundiais em priorizar passageiros”. Entre as melhorias que os passageiros devem ver estão a maior velocidade e rastreamento da movimentação de bagagens, maiores e melhores espaços de acomodação dos passageiros e redução de filas de check-in.

A qualidade das operadoras que venceram o leilão foi destacada também pelo especialista em infraestrutura Adriano Pires. “As duas operadoras que venceram o leilão são cinco estrelas. Isso foi um grande avanço, precisa de elogios. As duas operadoras que venceram o leilão são cinco estrelas, operam os melhores aeroportos do mundo. É importante porque vai trazer benefícios para o usuário, garantir qualidade para quem usa os dois aeroportos”, diz.

As mudanças, no entanto, só devem surtir efeito em cerca de cinco anos e devem trazer transtornos num primeiro momento, na avaliação do diretor da Associação Nacional dos Analistas e Especialistas em Infraestrutura (Aneinfra), Rodolfo Salomão. “No primeiro momento o passageiro encontra estorvo porque quem assume começa a fazer obra no aeroporto, há problemas com setores fechados e obras de melhoria”, afirma.

É possível que os aeroportos estejam em obras durante a Copa do Mundo, já que não deve haver tempo hábil para terminar as obras previstas para antes do mundial. “Acho que deve haver discussão para adiar início de algumas obras para depois da Copa. E o resultado é que provavelmente não teremos melhoria alguma durante a copa do mundo”, acredita Salomão.

(Os operadores que venceram a disputa) pensam como gestor: 'quando o passageiro estiver na fila, não estou ganhando com ele'. Eles não gostam de gente na fila, ao contrário da Infraero"
Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral

Resultado
A avaliação dos especialistas é que o leilão teve um bom resultado, tanto em relação ao ágio alcançado quanto ao nível dos operadores que ganharam a disputa. Um dos pontos destacados é que a arrecadação com os aeroportos foi 25% maior que a do campo de Libra, o primeiro do pré-sal leiloado em regime de partilha, que repassará ao governo R$ 15 bilhões, além de 41,65% do excedente em óleo extraído do campo.

Para o especialista em infraestrutura Adriano Pires, o resultado do leilão foi positivo, mas não surpreendente. “Era mais ou menos o esperado. Ágio menor que esse não apareceria. Então, nesse sentido, não houve nenhuma surpresa", afirmou.

Resende, da Dom Cabral, aponta o leilão como o primeiro desde os de telecomunicações, ocorridos no governo de Fernando Henrique Cardoso, em que o ágio foi tão alto. O resultado se explica pela existência de demanda alta e risco baixo – com obras listadas e conhecidas.

O professor viu como positiva a exigência em relação ao número de passageiros atendidos nos aeroportos dos operadores concorrentes, o que elevou o nível da disputa. “O leilão anterior teve 11 consórcios, esse teve cinco, mas a diferença é gritante porque temos operadores em nível mundial e os dois que ganharam são referencia mundial ou europeia em qualidade de serviço”, diz.

As duas operadoras que venceram o leilão são cinco estrelas, operam os melhores aeroportos do mundo. É importante porque vai trazer benefícios para o usuário, garantir qualidade para quem usa os dois aeroportos"
Adriano Pires, especialista em infraestrutura

Já Adriano Pires questiona, no entanto, o financiamento público que os aeroportos terão, com 70% do investimento nos dois aeroportos sendo financiados pelo BNDES, “com taxas de juros baixíssimas, de pai para filho” e participação de 49% da Infraero. “O governo não tinha que envolver BNDES, Infraero, tinha que deixar as empresas buscarem financiamento no mercado. É uma falsa iniciativa privada. Quanto vai custar essa obra para o governo”, questiona.

Confins x Galeão
Os especialistas destacaram a menor concorrência de Confins, o que Adrino Pires atribui ao tamanho do aeroporto e, talvez, à exigência da operadora de um fluxo de "passageiros muito alto [de 20 milhões de passageiros ao ano] em relação à realidade”.

Já para Salomão, da Aneinfra, o menor ágio oferecido por Confins  (de 66%), está de acordo com o esperado, por conta dos problemas de acesso ao aeroporto e o pequeno número de chegadas e saídas tanto domésticas quando internacionais. “Desde o começo sabia-se que não era atraente. Pelo menos se conseguiu alguém interessado e por um valor maior. Houve até certo alívio porque pensou-se que podia ser arrematado pelo valor mínimo”, diz.

Eles destaca que o governo não ofereceu "um negócio da China" para os investidores, mas conseguiu tornar o investimento "minimamente atrativo".

Já o aeroporto do Galeão é visto como “a joia da coroa”, como diz Pires, por conta do grande potencial de crescimento. A atratividade dos aeroportos leiloados – principalmente o Galeão – é vista como a razão de o governo ter conseguido um ágio considerado alto (de 293,91% para o aeroporto do Rio) e mostra que as disputas têm de ser estruturadas para atrair grandes empresas, segundo Resende, da Dom Cabral.

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