27/11/2013 20h14 - Atualizado em 27/11/2013 20h56

Copom sobe juros, que voltam ao nível de 10% ao ano após 20 meses

Na 6ª elevação consecutiva, juro sobe 0,5 ponto, de 9,5% para 10% ao ano.
Mercado financeiro prevê taxa de juros em dois dígitos nos próximos anos.

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília

selic-10-materia (Foto: Arte/G1)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central subiu nesta quarta-feira (27), pela sexta vez seguida, a taxa básica de juros da economia brasileira. Com isso, a Selic passou de 9,5% para 10% ao ano – uma alta de 0,5 ponto percentual – confirmando assim a expectativa do mercado financeiro.

Apesar de ter subido os juros na proporção esperada pelo mercado, o Copom alterou o comunicado divulgado após o encontro. Nesta quarta-feira, divulgou a seguinte explicação: "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,00% ao ano, sem viés".

No comunicado anterior, divulgado após a reunião do Copom de outubro, há 45 dias atrás, o BC informava também que a alta dos juros contribuiria para "colocar a inflação em declínio" e "assegurar que essa tendência" persistiria em 2014. Novas avaliações serão divulgadas pelo Copom na próxima semana, quando sai a ata da reunião desta quarta-feira.

Dois dígitos
Com a decisão, a taxa retornou ao patamar de dois dígitos, algo que não acontecia há 20 meses (desde março de 2012), e, segundo as estimativas do mercado financeiro, assim deve ficar por alguns anos. A previsão dos economistas dos bancos, captada por uma pesquisa realizada na semana passada com mais de 100 instituições financeiras pelo BC, é que os juros básicos deverão voltar a ficar abaixo de 10% ao ano somente em 2017.

Segundo o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, essa previsão embute um "prêmio de risco". "Tem muito a ver com a situação atual, com a desconfiança em relação ao fiscal [contas públicas]. Mas dificilmente até 2015 a gente vai ver os juros em um dígito de novo. Daí pra frente, vai depender muito do que vai ser feito no novo governo. Se vai ter ajuste fiscal, como vão avançar as reformas e a construção da política econômica", avaliou.

Dificuldade em manter juro abaixo de 10% ao ano
A discussão sobre a capacidade de o Brasil ter uma taxa de juros abaixo de 10% ao ano permeou o debate econômico nas últimas décadas e ainda continua em foco. De acordo com Luis Otávio de Souza Leal, a dificuldade em manter a taxa de juros em um dígito no país é um reflexo, também, do que ocorreu no passado.

"A gente ainda paga pelo passado inflacionário. Há vários mecanismos de indexação, como, por exemplo, a correção do salário mínimo [PIB mais inflação], que considerado um 'preço farol' da economia. Quando você tem vários mecanismos formais e informais de indexação, resquício de várias décadas de inflação alta, há uma resistência maior da economia em crescer sem gerar impactos inflacionários", avaliou ele.

De acordo com o economista, o Brasil tem o chamado "PIB potencial" (quanto é possível crescer sem gerar desequilíbrios, como inflação) menor do que o desejado. "Uma agenda de reformas trabalhistas, da previdência e tributária aumentariam a competitividade, a produtividade das empresas e conseguiríamos ter juros mais baixos. Pensando em prazos mais longos, também é preciso investir em educação. São coisas que demandam tempo. Não é voluntarismo. Tem de ter condições para ter juros mais baixos", afirmou Leal.

Juros reais mais altos do mundo
Com a decisão desta quarta-feira do Copom de subir os juros básicos para 10% ao ano, o Brasil disparou na primeira posição no ranking mundial de juros reais (com 4,1% ao ano) feito pelo MoneYou. Os juros reais são calculados após o abatimento da inflação prevista para os próximos doze meses. Em segundo e terceiro lugares, aparecem a China (3,1% ao ano) e o Chile (2,8% ao ano). A taxa média de juros real em 40 países pesquisados está negativa em 0,6% ao ano.

Discurso da presidente Dilma
A subida dos juros e o retorno ao patamar de dois dígitos não está em consonância com uma das principais marcas, até então, do governo Dilma Rousseff na área econômica. Mesmo defendendo o controle da inflação, a presidente da República destacou, por diversas oportunidades nos últimos anos, a queda dos juros básicos e também pressionou os bancos a reduzirem suas taxas ao consumidor.

Metas de inflação
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para 2013 e 2014, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, tem afirmado, porém, que a inflação teria queda neste ano frente ao patamar registrado em 2012 (5,84%) e novo recuo no ano de 2014. O mercado prevê um IPCA de 5,82% para este ano e de 5,92% para 2015.

A expectativa dos economistas dos bancos de que a alta dos juros de hoje não seja a última do governo Dilma Rousseff. A previsão é de que aconteçam dois novos aumentos em 2014, quando os juros subiriam para 10,25% ao ano (em janeiro)  e depois para 10,50% ao ano (em dezembro do ano que vem).

Fatores que pressionam a inflação
De acordo com economistas, alguns fatores seguem pressionando a inflação, apesar de o Banco Central já ter subido os juros básicos em cinco oportunidades entre abril, quando a taxa estava em 7,25% ao ano, e outubro deste ano.

Segundo o gestor de investimentos da Lecca, Carlos Haber, a alta do dólar registrada neste ano vai ser cada vez mais sentida em 2014 nos preços (importados mais caros terão seus preços elevados), além da expectativa de crescimento dos preços administrados (como gasolina e transporte urbano) - que foram contidos neste ano por conta das manifestações populares.

"O governo não promoveu um forte ajuste fiscal [conteção de gastos]. Dificilmente isso vai se concretizar [em 2014] tendo em vista a eleição no próximo ano. O BC não vai ter muita opção e vai ter de continuar subindo os juros. A política fiscal [de gastos públicos] não vai ajudar muito. Ano de eleição tem muito gasto público. O governo não vai conseguir fazer um ajuste fiscal [nas despesas] da forma como deveria", avaliou Carlos Haber.

A corretora Concórdia avaliou que o BC deve considerar em seus modelos, ainda que veladamente, a perspectiva de um iminente reajuste nos preços dos combustíveis - que pode ser postergado para dezembro, com impacto relevante sobre a inflação somente em 2014.

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