Rio

Jovem que entregou rojão que atingiu cinegrafista aceita colaborar com a polícia

Fábio Raposo ajudará na confecção do retrato falado do homem acusado de ter detonado o explosivo; ele foi preso neste domingo, após Justiça decretar a sua prisão preventiva, a pedido do delegado Maurício Luciano de Almeida

RIO - O tatuador Fábio Raposo, preso no início deste domingo na casa dos pais no Recreio dos Bandeirantes, aceitou colaborar com a polícia e ajudará na confecção do retrato falado do homem acusado de ter detonado o rojão que atingiu a cabeça do cinegrafista da Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, durante manifestação no Centro, na última quinta-feira. Segundo o delegado titular da 17ª DP (São Cristóvão), Maurício Luciano de Almeida, o jovem diz que não tem contato nem sabe o nome do suspeito, mas afirmou na delegacia já tê-lo visto em outros protestos realizados na cidade e ser capaz de descrever suas características físicas.

A polícia explicou que o acusado poderá receber o benefício da deleção premiada caso a Justiça entenda que a colaboração dele foi efetiva. Só depois será decidido que tipo de benefício será concedido a ele em troca. Neste domingo, após a prisão pela manhã, Fábio Raposo foi levado para a delegacia para prestar novo depoimento e, à tarde, foi transferido para a Cadeia Pública Juíza Patrícia Lourival Acioli, em São Gonçalo.

— Ele aceitou a delação premiada e, a princípio, concordou em colaborar e vai ver se há possibilidade de identificar a pessoa, porque ele diz não conhecer o nome, mas que pode reconhecê-lo. Isso ele disse que pode envidar esforços no sentido de auxiliar. Ele diz que já viu o rapaz em manifestações, mas que ele não faz parte do círculo de amizade dele - disse o delegado.

Fábio Raposo foi localizado pela manhã. Segundo a polícia, ele não esboçou reação e parecia estar esperando ser preso. No momento da prisão, estava com a mãe e o padrasto, que ficaram bastante abatidos. Assim que prendeu Raposo, os policiais levaram o jovem até seu apartamento no Méier, na Zona Norte, onde a equipe cumpriu um mandado de busca e apreensão no imóvel. Lá, foram recolhidas a blusa e a bermuda que o jovem usava no dia do protesto, três aparelhos celulares e o HD de um computador. A polícia vai pedir a quebra de sigilo telefônico e de e-mails para tentar encontrar informações que ajudem ligar Raposo ao Black Bloc. Um vizinho de Fábio, que mora sozinho no Méier, teria dito à polícia que viu o tatuador pichando uma parede com as palavras: “Black Bloc" e “Fuck the police”.

— O objetivo era verificar se havia ainda artefatos explosivos ou alguma coisa que o ligasse a algum tipo de organização Black Bloc. O que nós obtivemos foi a informação de um morador do prédio de que ele teria pichado o nome Black Blocs no play. Tiramos fotos. E a gente vai investigar se ele efetivamente integra esta organização — afirmou o titular da 17ª DP.

Segundo o delegado, se comprovada a ligação de Fábio com o Black Bloc, ele também poderá ser indiciado por associação à organização criminosa.

No fim da noite de sábado, a pedido do delegado, a Justiça havia decretado a prisão temporária, por 30 dias, do jovem. Na tarde deste domingo, quando seu cliente foi enviado para a unidade prisional, o advogado de Fábio Raposo, Jonas Tadeu Nunes, disse que vai tentar reduzir o tempo da prisão preventiva de 30 para 5 dias. Ele acredita que o período de detenção concedido pelo juiz de plantão foi “exagerado”, já que Raposo havia se apresentado à polícia e se colocado à disposição para novos depoimentos. O advogado discorda também do indiciamento por homicídio qualificado:

— Ele deve ser indiciado por lesão corporal gravíssima já que não passou uma arma para outra pessoa. Passou um rojão, que é vendido livremente por aí — disse o advogado, que tentará conseguir junto à Justiça algum benefício de redução de pena para o cliente por ele estar colaborando com a polícia.

Fábio se apresentou na 16ª DP (Barra) na madrugada de sábado. Ele, que aparece em imagens feitas pela imprensa usando bermuda preta, disse que encontrou o artefato no chão e repassou para o outro homem que aparece em fotografias usando calça jeans e camisa cinza suada nas costas. O suspeito está sendo procurado pela polícia, que está verificando imagens de câmeras de segurança da região que possam ajudar a identificação.

Neste domingo, Fábio chegou à delegacia com o advogado Jonas Tadeu Nunes, que tentou convencer o jovem a aceitar um acordo de delação premiada.

Pedido de prisão preventiva saiu no fim da noite de sábado

O pedido de prisão foi analisado e concedido pouco antes da meia-noite de sábado, pelo juiz do plantão judiciário do TJ. Em entrevista coletiva na tarde de sábado, Maurício Luciano afirmou que, para a lei, pouco importa quem efetivamente efetuou a ação. As penas aplicadas serão as mesmas. Fábio foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado com uso de explosivo e por crime de explosão e já responde como coautor do crime. Mas, se ele confessar participação no crime, poderá ser beneficiado por delação premiada. Segundo o delegado, num primeiro momento ele está negando participação, mas pode ser que, ao longo das investigações, ele não tenha mais alternativas e colabore. Se o homicídio for consumado, o tatuador pode pegar até 35 anos de prisão.

Rádio pede doação de sangue para cinegrafista ferido

A rádio Bandnews FM publicou neste sábado, em sua conta no Twitter, um pedido de doação de sangue para o cinegrafista Santiago Ilídio Andrade. Ele foi ferido por um rojão durante manifestação contra o reajuste das passagens, próximo à Central do Brasil, no Centro do Rio, na última quinta-feira.

A publicação informa que o tipo sanguínio de Andrade é O+ e que as doações podem ser feitas no Hemorio, na Rua Frei Caneca, 8, no Centro.

Boletim médico divulgado neste sábado pela Secretaria municipal de Saúde informa ainda que Santiago continua internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro.

Ele está em coma induzido e passou uma neurocirurgia. O cinegrafista teve afundamento do crânio e perdeu parte da orelha esquerda. A cirurgia durou cerca de quatro horas e terminou por volta de meia-noite e meia.

Fotógrafo flagrou rapazes no Centro

Um fotógrafo da Agência O GLOBO viu e registrou o homem que acendeu o artefato que atingiu a cabeça do cinegrafista. Na imagem, ele está de camisa cinza e aparece correndo, segundos após a ativação do explosivo. A imagem também mostra um jovem de bermuda preta, que teria envolvimento na ação.

— Eu estava acompanhando o protesto, quando vi um homem de calça jeans, camisa cinza e com lenço preto no rosto, abaixando e acendendo o fogo de artifício que estava no chão. Logo após, ele sai correndo. Consegui fazer a sequência do artefato atingindo o cinegrafista. A intenção de quem disparou era acertar os policiais que corriam na direção do grupo de manifestantes — disse o fotógrafo da Agência O GLOBO.

O cinegrafista foi atingido durante um protesto contra o reajuste das passagens na Central do Brasil, no fim da tarde desta quinta-feira. O estado de saúde dele é muito grave, segundo a Secretaria municipal de Saúde informou na manhã desta sexta-feira.

Imagens da agência de notícias russa Ruptly mostram o cinegrafista atingido por artefato. Veja no site do G1 .