22/11/2013 07h46 - Atualizado em 22/11/2013 07h46

Aeroporto é base da economia da pequena cidade de Confins

Grande parte da pequena população tem ligação com o terminal.
Poucos moradores e alta receita fazem PIB per capita o maior do estado.

Raquel FreitasDo G1 MG

População de Confins é mais de quatro vezes menor que a capacidade diária do Aeroporto Internacional Tancredo Neves (Foto: Raquel Freitas/G1)População de Confins é menos de um quarto da capacidade diária do Aeroporto Internacional Tancredo Neves (Foto: Raquel Freitas/G1)

Maior aeroporto de Minas Gerais, Confins é a base da economia da pequena cidade da qual empresta o nome, na região metropolitana de Belo Horizonte. O aeroporto – que oficialmente leva o nome de Aeroporto Internacional Tancredo Neves – tem capacidade para aproximadamente 28 mil passageiros por dia, mais de quatro vezes o total da população de Confins, de 5.936 habitantes, boa parte deles com alguma relação com o aeroporto.

Com tanto movimento e a pequena população, Confins tem o maior PIB per capita – medida do quanto, do total produzido em uma localidade, “cabe” a cada cidadão, se todos tivessem acesso a partes iguais – entre os 853 municípios de Minas Gerais. O PIB per capita do município é de R$ 240 mil, enquanto o de Belo Horizonte é de cerca de R$ 22 mil. No Brasil, ele ocupa a quarta posição.

De acordo com a pesquisadora da Fundação João Pinheiro, Maria Aparecida Sales, a presença do aeroporto impacta positivamente as contas confinenses. “Confins, desde 2005, com a transferência dos principais voos para o aeroporto, começou a se destacar, aumentou consideravelmente o PIB [Produto Interno Bruto]”, avalia. Em 2010, o valor foi estimado em mais de R$ 1,4 bilhão.

Segundo a pesquisadora, cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) de Confins vem de impostos, o que equivale a pouco mais de R$ 1 bilhão. Ainda conforme a especialista, o restante do PIB é composto pela receita de três setores: aproximadamente R$ 360 mil são oriundos da área de serviços, “concentrados no transporte aéreo”, e “uma parte ínfima”, dos setores da agropecuária e da indústria.

A partir de 2005, movimento do Aeroporto de Confins e da cidade de Confins decolaram (Foto: Raquel Freitas/G1)A partir de 2005, movimento do Aeroporto de Confins e da cidade de Confins decolou (Foto: Raquel Freitas/G1)

O chefe de gabinete da prefeitura confirma que o aeroporto é a principal fonte de arrecadação do município, com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) e Imposto Sobre Serviço (ISS). “Toda cidade quer ter um aeroporto. O ICMS é 40% da arrecadação, sendo que o montante maior vem do aeroporto”, pontua Ribeiro. Ele diz que o ISS representa 15% e ressalta que o valor arrecadado com este imposto cresceu desde que começaram as intervenções no sítio aeroportuário e arredores por causa da Copa do Mundo de 2014.

Os cinco quilômetros que separam o terminal de passageiros do Centro do município se transformaram em um grande canteiro de obras. Apesar do aumento do trânsito e da poeira que toma conta do caminho, os transtornos parecem ser minimizados quando levado em conta o crescimento orçamentário do município. Em 2012, este valor era de R$ 15 milhões – neste ano, pulou para R$ 22 milhões e o previsto para 2014 é de R$ 29 milhões.

Segundo a Prefeitura de Confins, 67% da área do aeroporto está em Confins; o restante está situado na vizinha Lagoa Santa (Foto: Raquel Freitas/G1)Segundo a Prefeitura de Confins, 67% da área do aeroporto está em Confins; o restante está situado na vizinha Lagoa Santa (Foto: Raquel Freitas/G1)

Cidade pequena
A baixa densidade demográfica da região foi um dos fatores que levaram à escolha do local para a instalação, na década de 1980, do sítio aeroportuário com 15 km² , segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). De acordo com a prefeitura, Confins concentra 67% do território do aeroporto; o restante está situado na vizinha Lagoa Santa.

Assim como a população, que não chega a 0,25% do número de moradores de Belo Horizonte, a estrutura do município é modesta. Em uma área de 42 km², os habitantes contam com quatro escolas – duas municipais, uma estadual e uma particular –, uma policlínica – que ainda não funciona durante a noite –, duas equipes do Programa Saúde da Família (PSF), uma delegacia da Polícia Civil e um pelotão da Polícia Militar (PM). Já os turistas dispõem de apenas duas hospedagens: um hotel fazenda e um hotel de instalações simples.

Isailma se lembra de quando o aeroporto era, segundo ela, "deserto" (Foto: Raquel Freitas/G1)Isailma se lembra de quando o aeroporto era,
segundo ela, 'deserto' (Foto: Raquel Freitas/G1)

Ao circular pelas ruas da tranquila cidade – daquelas em que se dá para ouvir o canto dos passarinhos em plena hora do rush de dia útil –, é fácil encontrar alguém que trabalha, já trabalhou ou que more com alguém que trabalhe no aeroporto.

“É raro uma família que não tenha ligação com o aeroporto”, diz o chefe de gabinete da prefeitura, Claudinei Elton Ribeiro. Ele próprio começou a vida profissional prestando serviço para Infraero. Depois, por mais de dez anos, foi funcionário de uma companhia aérea.

A relação de Isailma Gomes Ferreira, de 43 anos, com o Aeroporto de Confins também já ultrapassa uma década. Há 14 anos, ela se mudou para o município e, há 12, está diariamente no terminal, onde hoje é auxiliar de limpeza de aeronave, assim como o filho. Ela se lembra da época em que o aeroporto esteve “deserto”. “Era como um elefante branco, era morto, mas trabalhava lá assim mesmo. Mas hoje a movimentação é bem grande”, afirma Isailma.

Arredores de Confins, foram tomados por obras, aumentando posto de emprego e arrecadação de impostos (Foto: Raquel Freitas/G1)Arredores de Confins foram tomados por obras, aumentando postos de emprego e arrecadação de impostos (Foto: Raquel Freitas/G1)
Nilo da Silva se tornou vigia há 9 meses e reclama que tranquilidade está indo embora (Foto: Raquel Freitas/G1)Nilo da Silva se tornou vigia há 9 meses e reclama
que tranquilidade está indo embora (Foto: Raquel
Freitas/G1)

Tranquilidade ameaçada?
Com obras para “tudo quanto é canto”, como se diz na região, Nilo Gomes da Silva, de 56 anos, aproveitou o momento para conseguir um novo emprego. Depois de trabalhar 25 anos em um haras, ele estava desempregado no início deste ano. Mas, há nove meses, trocou a lida com animais por um posto como vigia na construtora responsável pelas obras na rodovia que liga o aeroporto à cidade.

O chefe de gabinete da prefeitura avalia que todo avanço tem vantagens e desvantagens. Para Silva, o ônus do crescimento é a redução da tranquilidade. “Antigamente aqui era muito bom, agora está tendo roubo”, diz.

A desempregada Rosane da Silva Dias, de 31 anos, concorda com o vigia e diz que mudou sua rotina. A jovem mãe de dois filhos, que já foi balconista no aeroporto, cumprimenta todos que passam pelo Centro. Ela conta que roda, agora até certo horário, a cidade na companhia de sua bicicleta. Se os aviões cortam o céu de Confins a todo tempo, por terra o transporte sobre duas rodas é um dos preferidos. “A cidade cresceu, mas cresceu nos roubos também. Era tranquila, não tinha isso, não. Podia ir embora sozinha às 4h. Hoje em dia, não tenho coragem”, reclama.

Se aviões cortam os céus de Confins a todo tempo, por terra a bicicleta é um dos meios de transportes preferidos dos moradores (Foto: Raquel Freitas/G1)Se aviões cortam os céus de Confins a todo tempo, por terra a bicicleta é um dos meios de transportes preferidos dos moradores (Foto: Raquel Freitas/G1)

Apesar dessa constatação do vigia e da ex-balconista do aeroporto, quem está acostumado com o ritmo da cidade grande tem outra percepção. Lívia Xavier, de 36 anos, está em Confins há três e diz já ter visto uma explosão de caixa eletrônico e assaltos a estabelecimentos comercias – em um deles os suspeitos estavam de bicicleta. Ela se mudou da capital para a cidade da Região Metropolitana porque o marido trabalhava no terminal aéreo, mas, hoje, o casal se dedica a uma loja que vende “de tudo e mais um pouquinho”, de material de papelaria a peças hidráulicas. Ela reconhece que se preocupa com a segurança, mas sem “aquela neura”. “Acho que não conseguiria voltar para Belo Horizonte”, diz a comerciante.

O chefe de gabinete da prefeitura reconhece a ocorrência de assaltos no Centro, mas diz, orgulhoso, não se lembrar de quando a cidade registrou o último homicídio.

Shopping
    busca de produtoscompare preços de