Economia

OGX deve entrar com pedido de recuperação judicial nesta quarta-feira

Petrolífera de Eike Batista não conseguiu acordo com credores. OSX deve pedir recuperação judicial em uma semana
O empresário Eike Batista, em foto de arquivo Foto:
FRED PROUSER
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REUTERS
O empresário Eike Batista, em foto de arquivo Foto: FRED PROUSER / REUTERS

RIO E SÃO PAULO - A OGX, petroleira de Eike Batista, deve entrar nesta quarta-feira com pedido de recuperação judicial, pondo fim a meses de negociações com credores e dando início a uma nova etapa na curta trajetória do Império X. A empresa admitiu na madrugada de terça-feira que as conversas chegaram a um impasse e organizava até o fim do dia os últimos detalhes do processo. O pedido deve ser protocolado no Tribunal de Justiça do Estado do Rio no fim do expediente, provavelmente após o fechamento do mercado. A OSX (empresa do grupo para construção naval) deve trilhar o mesmo caminho. Segundo advogados que acompanham o caso, a companhia entra com o pedido em até uma semana.

Nesta terça, a OGX revelou em seu site as propostas apresentadas aos credores internacionais, até então confidenciais. São fundos e gestoras, como os americanos Pimco e BlackRock, que têm em mãos US$ 3,6 bilhões em bônus, o equivalente a R$ 8 bilhões. Por meses, a empresa de Eike tentou convencê-los a injetar capital novo na companhia, para viabilizar a operação do campo de Tubarão Martelo, na Bacia de Campos. Os valores solicitados variaram de US$ 500 milhões a US$ 250 milhões, dependendo da data. Mas os credores demostraram pouca disposição para assumir mais riscos e rejeitaram a oferta. Com isso, a expectativa da empresa é ficar sem caixa em dezembro, chegando a um saldo negativo de US$ 13 milhões na última semana do ano, segundo apresentação feita para a Rothschild, em 23 de outubro.

Na quinta-feira, acaba o prazo para que a OGX se declare oficialmente inadimplente, após não honrar, em 1º de outubro, o pagamento de US$ 45 milhões, referente aos juros sobre bônus emitido no exterior. A empresa tinha 30 dias para acertar as contas com os credores. Como não conseguiu, as duas parcelas de bônus que totalizam US$ 3,6 bilhões, com vencimento em 2018 e 2022, são automaticamente antecipadas. Diante do cenário sombrio e para se proteger de ações dos credores, a empresa decidiu recorrer à recuperação judicial.

‘Circo e bagunça’

Além da dívida com os credores internacionais, a OGX deve cerca de R$ 660 milhões aos bancos Morgan Stanley, Itaú BBA e Santander. Há débitos ainda com fornecedores (cerca de R$ 1,2 bilhão) e com a OSX (ao menos R$ 2 bilhões), o que eleva a dívida da companhia a aproximadamente R$ 11,8 bilhões e torna o processo de recuperação da OGX o maior da América Latina desde 1990, segundo relatório da agência de classificação de risco Moody´s. Os ativos da companhia valem US$ 2,7 bilhões, segundo a própria OGX.

As ações ON (com voto) da OGX despencaram 20,69%, negociadas a R$ 0,23, a maior perda do pregão, o que puxou para baixo o Ibovespa.

A proposta feita pela petroleira de Eike Batista aos credores teve o pomposo nome de “Projeto Olímpico”. Além da solicitação de capital novo, a empresa previa a conversão da dívida de parte de seus credores (os que se enquadram na categoria sem garantia, que reúne credores internacionais, OSX e fornecedores) em participação acionária. Os atuais acionistas da empresa ficariam com 10% da companhia. Os 90% restantes ficariam nas mãos dessa classe de credores. Hoje, Eike controla a OGX, com 50,14%. Os demais acionistas têm 49,86%. Com a diluição, a fatia dos minoritários cairia para 5%.

Apesar de a negociação não ter sido bem-sucedida, os termos da proposta são um indicativo do que a empresa pode propor em seu plano de recuperação judicial. Segundo fontes, o estilo intempestivo de Eike foi um dos entraves ao consenso com credores, que tiveram encontros frequentes com executivos do grupo na ponte aérea Rio-NY. Segundo a agência de notícias Reuters, as conversas eram classificadas como “circo” e “bagunça” por pessoas nelas envolvidas.

Participaram das negociações os assessores financeiros Blackstone e Lazard e o todo-poderoso Ricardo Knoepfelmacher (Ricardo K), sócio da Angra Partners. A Angra Partners foi contratada inicialmente como conselheira de Eike para reestruturar o grupo EBX - desbancando o BTGPactual - e, mais tarde, também assumiu as negociações da OGX. Nas últimas semanas, o pai do empresário, Eliezer Batista, também esteve envolvido e muitas cabeças rolaram, entre elas as do ex-presidente da OGX Luiz Eduardo Guimarães e a do ex-diretor financeiro Roberto Monteiro, que tiveram forte desgaste com Ricardo K.

O duelo travado entre OGX e OSX - pelo valor que a petroleira deve à sua “empresa-irmã” - atrapalhou as conversas. A OSX avalia que a OGX deve US$ 2,6 bilhões pelos contratos de três plataformas. A OGX alega que o valor é de US$ 900 milhões. Desde que a crise por que passa o grupo estourou, em junho de 2012, quando a petroleira anunciou que sua produção seria um quarto do previsto, a relação entre as duas se tornou conflituosa. O clima foi agravado com a decisão da OGX, em julho, de cancelar uma série de plataformas contratadas por ela junto à OSX.

- O clima é tão tenso que as duas empresas do mesmo grupo não conseguem nem chegar a um acordo sobre quanto uma deve a outra - disse uma fonte.

Adriano Mezzomo, minoritário da OGX, lembra que os acionistas minoritários são os últimos da lista para receber algo da empresa - após trabalhadores, credores com garantias e credores sem garantias, no processo de recuperação judicial:

- Queremos entrar com uma ação contra a pessoa física de Eike Batista e seus gestores, para que respondam com seus patrimônios pessoais pelo excesso de poder e pouca prudência na condução dos negócios. (Colaboraram Henrique Gomes Batista e João Sorima Neto)