Economia

Em dia de otimismo, Bolsa sobe 1,6% e dólar recua a R$ 2,26

Plano de reformas econômicas na China animou investidores

SÃO PAULO - Depois da pausa do feriado de Proclamação da República, na sexta, o mercado financeiro teve uma segunda-feira de otimismo. O dólar comercial fechou em queda de mais de 2%, enquanto o Ibovespa subiu 1,60% e retornou ao patamar dos 54 mil pontos. No fechamento, dólar comercial caiu 2,32% sendo negociado a R$ 2,266 na compra e R$ 2,268 na venda. Foi a maior baixa percentual desde 18 de setembro, quando a moeda americana recuou 2,89%. O mercado repercutiu positivamente o plano de reformas econômicas anunciado pela China. Os investidores também continuaram animados com o discurso da futura presidente do Federal Reserve (FED, o banco central americano), Janet Yellen, na semana passada, que se mostrou favorável à continuidade dos estímulos à economia, enquanto os indicadores, especialmente do mercado de trabalho, não mostrarem força.

Na mínima do dia, o dólar foi negociado a R$ 2,266 (baixa de 2,45%). Na máxima, bateu em R$ 2,303.

- Foi uma conjunção de fatores positivos, como a sinalização de reformas na economia chinesa e a perspectiva de que os estímulos à economia dos EUA podem ser mantidos por mais tempo. No cenário doméstico, a perspectiva de reajuste dos combustíveis impulsionou as ações da Petrobras. Além disso, o Ibovespa também teve uma correção técnica, já que na sexta não houve pregão, e as Bolsas americanas e europeias subiram - diz Gabriel Ribeiro, analista da UM Investimentos.

O dólar recuou no exterior frente a outras divisas, mas a queda no mercado doméstico foi intensificada com os dois leilões de swap cambial tradicional que o Banco Central realizou. É uma operação que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Pela manhã, o BC ofertou 10 mil contratos, o equivalente a US$ 495,8 milhões. À tarde, ocorreu mais um leilão, este de rolagem de contratos que vencem em 2 de dezembro.

Desde a semana passada, o BC vem rolando esses papéis, que são usados como hedge (proteção contra as variações do dólar). No leilão de rolagem, o BC ofertou mais 20 mil contratos, o equivalente a US$ 1 bilhão. Até agora, o BC já rolou quase US$ 4 bilhões dos US$ 10,1 bilhões que vencem em dezembro. O mercado trabalha com a possibilidade de que o BC renove a totalidade dos vencimentos. Operadores de câmbio avaliam que a pressão sobre o dólar poderá aumentar se o BC não rolar todo o volume de contratos

“A rolagem está acontecendo mais cedo do que nos meses passados, uma vez que o Banco Central costumava anunciar os leilões de rolagem só a partir da terceira semana do mês”, lembra o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn.

No boletim Focus, divulgado nesta segunda pelo Banco Central, o mercado elevou a estimativa para o dólar este ano de R$ 2,25 para R$ 2,27.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse, no Chile, que não falta moeda estrangeira no mercado de câmbio à vista, como afirmaram alguns especialistas. Ele apontou que a valorização do dólar era um movimento esperado, já que a economia global está caminhando para um momento de transição, com a redução das medidas de estímulo após a crise de 2008. Segundo ele, a maior pressão sobre o dólar veio de investidores estrangeiros e empresas nacionais e internacionais que tentavam proteger seus portfólios ou obrigações da desvalorização esperada da moeda e de ativos locais.

Juros recuam pelo terceiro dia consecutivo

As taxas dos contratos de Depósitos Interfinanceiros (DIs) recuaram pelo terceiro dia consecutivo, seguindo a baixa do dólar e o movimento de queda das taxas dos títulos do Tesouro americano. Os papéis com vencimento em janeiro de 2015 recuaram de 10,80% para 10,73%, enquanto os DIs para janeiro de 2017 caíram de 11,83% para 11,70%.

Bovespa sobe e acompanha mercado internacionais

Na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, principal índice do mercado, subiu 1,60% aos 54.307 pontos e volume negociado de R$ 10,4 bilhões. Nesta segunda, aconteceu o vencimento de opções sobre ações, que movimentou R$ 3,6 bilhões, inflando o volume financeiro negociado. As ações PNA da Vale subiram 2,06% a R$ 33,10, influenciadas pela sinalização de reformas econômicas na China, que devem dinamizar a economia. A China é a principal cliente da Vale. Os papéis da mineradora tiveram o segundo maior giro financeiro do pregão, totalizando R$ 655 milhões.

- São muito bem-vindas as reformas na China porque dessa vez são mais pró-mercado do que no passado. Ainda mais nesse momento de aproximação dos mercados europeus e americanos via tratado comercial, a China não tem como ficar atrás e ficar na dependência de empresas estatais ineficientes. É verdade que o discurso vai muito no sentido de aumentar a eficiência dessas empresas, não privatizá-las num primeiro momento, mas o sentido geral é de maior aproximação do setor privado - diz o economista Sergio Vale, da consultoria MB Associados.

Os papéis PN da Petrobras também se valorizaram com força e subiram 4,84% a R$ 21,44, o terceiro maior ganho do pregão. As ações PN da petrolífera movimentaram R$ 942 milhões, o maior giro financeiro do pregão. A informação de que o governo deve anunciar na sexta-feira um reajuste de 5% nos combustíveis, que entraria em vigor em dezembro, impulsionou os papéis da petrolífera. A informação foi publicada pela coluna Radar, da revista Veja.

Entre as demais ações mais negociadas do Ibovespa, Itaú PN subiu 1,36% a R$ 34,06, enquanto as ações PN do Bradesco ganharam 0,57% a R$ 31,71.

A maior alta foi apresentada pelos papéis ON da B2W Digital, com ganho de 7,07% a R$ 15,74, enquanto as ações ON da Marfrig apresentaram a maior queda, com baixa de 3% a R$ 4,20.

Ainda no cenário doméstico, o boletim Focus, elaborado pelo banco Central trouxe uma redução das expectativas do IPCA para 2013, de 5,85% para 5,84%, e também para o ano que vem, de 5,93% para 5,91%. Para o PIB, os analistas ouvidos pelo BC mantiveram a expectativa para este ano em 2,5% e queda no ano que vem, de 2,11% para 2,10%.

China detalha reformas econômicas

Do exterior, a influência positiva vem da China, que detalhou mais seu plano de reformas econômicas. Pequim quer tornar o país mais receptivo ao investimento estrangeiro e melhorar a gestão pública. Segundo informações divulgadas pela agência estatal de notícias da China, a Xinhua, uma das reformas planejadas pelo Partido Comunista é permitir que empresas privadas abram bancos de pequeno e médio porte no país, algo que deve vir acompanhado da criação de um fundo garantidor de depósitos.

Segundo a agência, a China também anunciou que permitirá mais investimentos privados em projetos desenvolvidos por empresas estatais e que os funcionários de companhias com capital misto poderão comprar ações da empresa em que trabalham. Também está prevista a redução dos controles estatais sobre as taxas de juros. As Bolsas chinesas subiram e as europeias seguem o otimismo e também apresentam ganhos. O índice Dax, da bolsa de Frankfurt, atingiu nova máxima ao bater nos 9.226 pontos. Ajudou na valorização das Bolsas na Europa a notícia de que a zona do euro apresentou um superávit comercial de 13,1 bilhões de euros em setembro, o maior para o mês desde 1999, o ano de surgimento da área de moeda comum.

O Dow Jones e o S&P 500, dois dos mais importantes índices do mercado acionários americano, também atingiram na abertura de hoje novas máximas históricas. Pouco depois das 12h40, o Dow Jones ultrapassou os 16.000 pontos, enquanto o S&P chegou a 1.801,83 pontos. Os últimos recordes foram no último dia 15 de novembro, com o Dow chegando aos 15.885 pontos e o S&P atingindo 1.798,22 pontos. À tarde, porém, os índices perderam força.

Nos Estados Unidos, outro índice mostrou que a economia ainda não cresce de forma sustentada, o que pode adiar a redução dos estímulos para 2014. O índice de confiança das construtoras, medido pela Associação Nacional das Construtoras de Imóveis (NAHB), permaneceu em 54 em novembro, nível igual ao registrado em outubro e o menor em quatro meses. O presidente do Federal Reserve de Nova York, William Dudley, afirmou que o mercado deve ‘relaxar’ pois a diminuição da compra dos bônus virá no momento certo. Ele disse que os juros nos EUA não devem subir até que a taxa de desemprego caia a 6,5% - atualmente está em 7,3%.

"O apetite por risco está forte após os detalhes sobre as reformas econômicas da China mostrarem que elas são mais dramáticas que o esperado, sugerindo um foco na liberalização do mercado e mudanças tanto no papel do governo quanto na estrutura corporativa", disseram analistas do Scotiabank em nota.