Economia

Crise faz 1.280 lojas fecharem as portas no Rio

Caso mais emblemático, segundo levantamento do Clube de Diretores Lojistas do Rio, é a Rua da Carioca, onde 33 dos 60 estabelecimentos comerciais encerraram atividades
Loja fechada na Avenida Nossa Senhora de Copacabana
Foto: Fernando Lemos / Agência O globo
Loja fechada na Avenida Nossa Senhora de Copacabana Foto: Fernando Lemos / Agência O globo

RIO - Aluga-se, passo o ponto, liquidação para entrega de chaves, as placas são um indicativo da temperatura baixa pela qual passa o comércio varejista. De acordo com pesquisa do Centro de Estudos do Clube de Diretores Lojistas do Rio (CDLRio), baseado em dados da Junta Comercial do Estado, entre janeiro e maio deste ano mais de 1.280 estabelecimentos comerciais do município fecharam as suas portas. O número é 33% superior ao mesmo período do ano passado. Em todo o estado, foram extintas mais de 3.290 empresas, um aumento de 31% em relação ao mesmo período de 2014.

O aumento do preço dos alugueis aliado à queda das vendas e da atividade econômica, com inflação alta e desemprego, são, segundo o CDLRio, os principais fatores ligados ao fechamento dos pontos comerciais. Para Aldo Gonçalves, presidente da instituição, o quadro econômico tem afetado o comportamento do consumidor:

— A causa imediata do fechamento são os aluguéis muito altos. Mas, dentro de um cenário econômico, a situação não está nada favorável para as empresas, em especial o comércio. A inflação alta e o desemprego aumentando impacto o trabalhador, que não pode comprar. O crédito escasso é ruim para o comerciante na hora de comprar mercadoria e para o consumidor. No caso do Rio, há ainda as obras na cidade que têm afetado o público flutuante das lojas — apontou.

Do total de estabelecimentos fechados, 449 foram na Zona Norte, 363 na Zona Oeste, 239 na Zona Sul e 233 no Centro. O caso mais emblemático, de acordo com o levantamento, é a Rua da Carioca, onde 33 dos 60 estabelecimentos comerciais cerraram suas portas em menos de um ano devido a preços do aluguel, obras, mudanças de trânsito e falta de estacionamento.

— Estamos sentindo um pouco menos porque o Saara tem uma característica diferente de comércio de bairro. Mas algumas lojas sentiram mudanças nas vendas e fecharam. Desde 2009, os reajustes de imóveis tem sido leoninos. Muita gente não aguentou — afirma Denys Darzi, presidente do Polo Centro Rio, formado por 11 ruas onde se situam mais de 1,2 mil lojas e 600 escritórios em torno da Rua da Alfândega.

LOJAS DO CENTRO TIVERAM PREJUÍZO DE 35% NO CARNAVAL

Pesquisa do Polo Novo Rio Antigo, cuja abrangência inclui Lapa, Passeio Público, Cinelândia, Rua da Carioca, Largo de São Francisco, Largo Albino Pinheiro, Praça Tiradentes e Rua do Lavradio, mostra que nem mesmo o carnaval deste ano trouxe alívio ao comércio. O levantamento em parceria com a Uerj realizou consulta a 150 estabelecimentos e concluiu que 51% das casas apresentaram redução de faturamento em relação aos anos anteriores, com um prejuízo de 35%, em média.

— A Lapa não oferece a qualidade de negócios da Zona Sul, onde tudo é mais limpo e a segurança é maior. Aqui o empresário tem que gastar para suprir com a ausência do poder público. E ainda temos que lidar com a sazonalidade. Quam vende almoço no Centro, qualquer feriado mata — afirma Carlos Thiago Cesário Alvim, dono do Carioca da Gema e presidente do Polo. — Os vilões desde carnaval foram o comércio informal, a falta de mobilidade e a falta de informação sobre o roteiro do que ia acontecer nas ruas.


Galeria comercial no Leblon sofre com lojas fechadas
Foto: Fernando Lemos
Galeria comercial no Leblon sofre com lojas fechadas Foto: Fernando Lemos

Proprietária da loja de utensílios e objetos para casa “Toque”, Odete Carvalho fechou a unidade instalada há 41 anos no Leblon em janeiro passado depois que o movimento caiu de 80 clientes por dia para 20.

— Tentamos que a loja ficasse adimplente durante dois anos, mas não deu. Não foi só o metrô, mas também a alta do aluguel e a questão da segurança. O público passou a ter medo de andar na rua e com o surgimento do Shopping Leblon, migrou. Outra questão foi o mercado de noivas, que passou a optar mais por cotas de viagem em vez de lista de presentes — explica. — Foi difícil passar o ponto, inclusive. Lojista precisa de gente na rua para vender e o Leblon sofre com isso. Quem consegue sobreviver assim é farmácia e banco.

O economista e ex-presidente do IBGE Sergio Besserman Vianna avalia que o passo lento da economia tem mais peso na crise do varejo carioca. Ele lembra que a maior parte da economia do estado do Rio está centrada em serviços que agora se ressentem da crise no comércio varejista.

— Aqui tem uma concentração de funcionalismo público e aposentados que, em outros tempos, conseguiram pegar crédito consignado, mais fácil, e agora as famílias estão mais endividadas — afirma Besserman Vianna.

Besserman Vianna acha que no Rio o comércio varejista pode ter sido pego no contrapé com as expectativas excessivas em torno dos Jogos Olímpicos:

— Alguns lojistas podem ter aberto negócios, aberto uma franquia, achando que o Rio estava na moda, que vinham os Jogos Olímpicos e acabou sendo pego no contrapé, enquanto que no Brasil o contexto era mais volátil. Foi uma perspectiva não realista da economia.

O Barzinho, bar na Lapa do chef Fábio Battistella e do dj Rodrigo Penna, idealizador da festa Bailinho, foi fechado em 2013, no meio da Copa do Mundo, um “ato simbólico”, segundo Penna.

— Tive gás lacrimogêneo no bar, turista esfaqueado no quarteirão, enchentes constantes na Rua do Lavradio. Por dois anos deu certo, mas depois não teve como sustentar. Fechamos antes de aumentar o rombo e cair de qualidade. A falência do bar não foi empresarial, foi como cidadão — lamenta.

NO BRASIL, 3,2% DAS LOJAS FECHARAM ATÉ MAIO

Para o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas, chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o comércio varejista passa por um processo contínuo de piora nos indicadores que deve continuar até o fim do ano. O ano pode fechar com queda perto de 3%, pior resultado desde 2003.

Um número chama particular atenção da entidade. Houve o fechamento ou entrada para informalidade de 3,2% de lojas em todo o país nos 12 meses terminados em maio, a primeira queda desde 2005, segundo levantamento a partir de dados do Ministério do Trabalho. Os segmentos mais atingidos não por acaso são aqueles que mais têm apanhado com as vendas: em primeiro lugar concessionárias de carro, seguidas por lojas de móveis e eletrodomésticos.

Os estabelecimentos fechados acompanham a desaceleração das vendas. No mesmo período, as vendas no varejo ampliado, que inclui empresas de vestuário, material de construção, móveis e eletrodomésticos, caíram 5%.

No caso do Rio, cerca de 1,5% das lojas pararam de funcionar no mesmo período. É um movimento ainda mais intenso que o fechamento de 2014, quando 0,5% já tinham fechado as portas.

— As datas-âncoras têm sido um fracasso. As pessoas estão pagando juros mais altos, mais pela conta de luz, a inadimplência da Serasa está subindo muito. Só a conta de luz, quando é aumentada é como se tivesse subido o imposto. O comércio era um dos últimos bastiões e está jogando a toalha — afirma Freitas.