Saúde Ciência

Formigas têm equilíbrio matemático perfeito entre ‘olheiros’ e ‘levantadores’, diz estudo

Equipe grande faz trabalho pesado, enquanto grupo pequeno traça o caminho a ser seguido

Formigas-loucas parecem ter a quantidade certa de individualismo errático
Foto: Reprodução/Pixabay
Formigas-loucas parecem ter a quantidade certa de individualismo errático Foto: Reprodução/Pixabay

RIO - Depois de quatro anos de análise cientistas israelenses descobriram como as formigas carregam uma grande quantidade de alimentos, maiores que elas, por grandes distâncias: enquanto uma grande equipe faz o trabalho pesado, mas sem direção, um pequeno número de “olheiros” intervém e orienta por curtos períodos, num equilíbiro matematicamente perfeito entre individualidade e conformismo.

Tudo começou quando, ao mudar-se para um novo apartamento, um cientista viu a comida de seu gato cruzar a sala carregada por formigas. A descoberta, inspirada pelo acontecimento rotineiro, foi alcançada com experimentos com formigas que levam alimentos de grandes dimensões, incluindo cereal matinal. Publicado na revista “Nature Communications”, o estudo utilizou uma espécie muito comum conhecida como a formiga-louca. O nome refere-se à maneira como as pequenas criaturas se movimentam, frequentemente mudando de direção, aparentemente sem rumo. Mas as novas descobertas sugerem que o nível de falta de objetivos no comportamento dessas formigas é, na verdade, muito afinado.

“Quando as formigas estão movendo objetos enormes, uma das coisas que as pessoas têm notado é quão caótico pode parecer, com formigas aleatoriamente se juntando a um grupo e, em seguida, o abandonando”, Nigel Franks, pesquisador da Universidade de Bristol, na Inglaterra, e um dos autores do estudo, disse à “BBC”. “O que este estudo mostra lindamente é que essas formigas que se juntam em breve podem ser as que informam o caminho que o objeto deve ir - então elas dão um pouco de rumo periodicamente, e mantêm as coisas mais ou menos no caminho certo. Esta abordagem quantitativa e muito bonita ilumina um pouco da curiosa história natural que anteriormente não entendíamos.”

As formigas parecem ter a quantidade certa de individualismo errático, segundo o texto. Cerca de 90% do tempo elas vão “com o fluxo” e puxam na mesma direção, como todos as outras; os outros 10% do tempo elas agem por conta própria.

Isso significa que, no conjunto, cada equipe de transporte de formiga trabalha em conjunto e evita um cabo de guerra infrutífero. Mas, fundamentalmente, sua nuance errática deixa um grau de instabilidade - e isso permite que uma única formiga com novas informações participe e mude a direção.

“Este líder que vem junto não tem que se apresentar, não tem que ser mais forte do que o resto - só tem que puxar na direção correta”, Ofer Feinerman, um físico do Instituto Weizmann de Ciência em Rehovot, em Israel, disse à emissora inglesa. “A única comunicação no sistema são as forças que são sentidas através do objeto.”

Assim, embora seja o grande número de formigas na equipe que determine o quão rápido o objeto é transportado, a direção é fornecida por esses “olheiros”. Para testar o seu modelo, Feinerman e seus colegas colocaram as formigas em algumas situações extremas - dando-lhes objetos muito maiores do que qualquer coisa que normalmente transportam.

“A previsão de que o modelo nos deu é que podemos jogar com essa mistura de conformismo e não-conformismo”, disse ele. “Se você mover algo enorme, você precisa de muito mais formigas. E então a força que cada formiga sente através do objeto é muito mais forte. Então todas as formigas sentem um impulso mais forte para agir como conformistas.”

Quando as formigas foram apresentadas a discos de silício de oito centímetros, ou mesmo 16 centímetros de diâmetro, elas perderam seu equilíbrio matemático e todas empurraram na mesma direção. Os discos se moveram em linhas retas muito suaves, mas contornar obstáculos tornou-se impossível.

Seu sistema funciona melhor, Feinerman explicou, para objetos de tamanho médio (para uma formiga) de cerca de um centímetro, ou “para o tamanho que permitir a entrada em seu ninho”.