• Agência EFE e Estadão Conteúdo
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Gregos precisam responder com um simples 'sim' ou 'não' se aceitam as propostas de austeridade dos credores internacionais (Foto: EFE)

Gregos precisam responder com um simples 'sim' ou 'não' se aceitam as propostas de austeridade dos credores internacionais (Foto: EFE)



Um total de 10.837.118 gregos foram convocados neste domingo (05/07) às urnas para responder a uma só pergunta sobre as condições para renegociação da dívida e manutenção da ajuda da União Europeia - se consideram os termos justos, devem responder "nai" (sim); se querem exigir um novo pacto, assinalam "oxi" (não). Pode parecer simples. No entanto, por trás da decisão do plebiscito - o primeiro na Grécia em 41 anos, desde que a população aboliu formalmente a monarquia, em 1974 -, pode estar o futuro do país como membro da União Europeia.

Os colégios eleitorais abriram à 1h (horário de Brasília) e fecharam às 13h (horário de Brasília). O resultado oficial deve ser divulgado às 15h. As primeiras pesquisas de boca-de-urna divulgadas pelas redes de televisões gregas logo após o encerramento da votação mostram uma vitória apertada do 'não'. A pesquisa da Skai TV mostra o "Não" com uma vitória de 51,5% enquanto o "Sim" com 48,5%. Todas as pesquisas realizadas pelas seis principais redes de televisão a Grécia mostram uma vitória do "Não".

O referendo atraiu a atenção da mídia do mundo todo e o ambiente no país lembra o clima das eleições gerais de janeiro, quando o partido esquerdista Syriza venceu.

Os gregos aguardam com calma e grande expectativa resultado do referendo.  Mesmo com a expectativa com o resultado do referendo e a sensação de que ele determinará o futuro do país, a Grécia vive neste domingo um de calmo com a sensação de completa normalidade. Entre os poucos cartazes eleitorais pelas ruas, o ambiente é como o de qualquer domingo, com menos trânsito e mais gente passeando, embora inevitavelmente a votação esteja em todas as rodas de conversa dos gregos.

+ Perspectiva para Grécia continuará incerta mesmo após plebiscito

A economia se deteriorou ainda mais na última semana. O plebiscito foi anunciado dia 26 e organizado em poucos dias - o site oficial com explicações sobre as regras só entrou no ar na quarta-feira. Diante do iminente calote da dívida de 1,6 bilhão de euros com o Fundo Monetário Internacional (FMI) - que se confirmou -, Tsipras determinou o fechamento dos bancos desde segunda-feira e um limite diário de saques de 60 euros, expondo a fragilidade do sistema bancário.

Homem grego checa sua sala de votação para responder a referendo (Foto: EFE)

Homem grego checa sua sala de votação para responder a referendo (Foto: EFE)

Gregos respondem 

A pergunta da consulta é a seguinte: "Temos que aceitar o projeto de acordo que foi apresentado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional no Eurogrupo de 25/06/2015, que se compõe de duas partes e que constituem sua única proposta?". Após esta questão, a cédula esclarece que as duas partes constam de um primeiro documento intitulado "Reforms for the completion of the Current Program and Beyond" («Reformas para a finalização do programa atual e além") e um segundo chamado «Preliminary Debt sustainability analysis» (Análise preliminar da sustentabilidade da dívida). 

Para que o resultado do referendo seja considerado válido, as normas exigem uma participação de pelo menos 40% do eleitorado.  As últimas pesquisas mostram que a população está indecisa.  Diversos institutos mostram empate técnico. Na maioria dos casos, as pesquisas apontam vantagem entre 0,5 e 1 ponto porcentual para o "sim", enquanto um levantamento mostra leve dianteira do "não". De qualquer maneira, a margem de erro é de 3 pontos porcentuais. 

Gregos em protesto realizado em Atenas um dia antes do referendo (Foto: EFE)

Gregos em protesto realizado em Atenas um dia antes do referendo (Foto: EFE)

O "sim" e o "não" representam apostas distintas no futuro. Aceitar o que a UE propõe significa a continuidade do plano de austeridade financeira implementado nos últimos cinco anos. Os resultados para a economia e para a população, porém, têm sido desastrosos: desde 2010, o Produto Interno Bruto acumula retração de 24% e o desemprego entre os jovens dobrou, chegando a 50%. Apesar disso, quem opta pelo "sim" acredita que, sem o colchão de segurança oferecido pela UE, o desastre será ainda maior.

O voto no "não" é uma aposta de que a situação não pode ficar pior do que está. Segundo o primeiro-ministro Alexis Tsipras, a proposta do plebiscito é mostrar a insatisfação com a intransigência na negociação das dívidas, e não buscar a saída da UE. O objetivo, segundo ele, é conseguir condições mais favoráveis de negociação para que o bem-estar social grego não tenha de ser tão sacrificado. O plebiscito foi convocado porque o governo não conseguiu costurar um acordo melhor sozinho.

Caso optem por rejeitar a receita dos credores para a crise, a decisão pode ser entendida de outra forma: que o país prefere sair do bloco econômico e caminhar com as próprias pernas. Por causa da votação, as negociações com o Eurogrupo estão suspensas desde quarta-feira.

Votação

Alexis Tsipras vota em colègio eleitoral. Ele voltou a pedir que gregos optem pelo não (Foto: EFE)

Alexis Tsipras vota em colègio eleitoral. Ele voltou a pedir que gregos optem pelo não (Foto: EFE)

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras disse hoje, após votar em um colégio eleitoral de Atenas, que se por um lado podem ignorar a vontade do governo, a do povo ninguém pode ignorar. Tsipras defendeu que o referendendo passa a importante mensagem de que o povo grego "tomou em mãos" o seu próprio destino. 

Já o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, afirmou neste domingo que o referendo pode demonstrar que "a moeda única e a democracia são compatíveis entre si".

Vários antigos primeiros-ministros, todos partidários do "sim", votaram no começo deste domingo. Um dos primeiros a votar em Atenas foi o ex-chefe de governo social-democrata Giorgos Papandreou. Ele ressaltou a necessidade de a Grécia permanecer no "coração" da Europa, e sustentou que o país precisa de profundas mudanças para as quais requer o apoio dos parceiros.

"Só quando tiverem sido realizadas estas mudanças, a Grécia poderá dizer'não' aos resgates e poderá ser independente", disse Papandreou.

Entre os primeiros a votar também estava o ex-primeiro-ministro conservador Kostas Karamanlis, que não fez declarações. Entre os madrugadores também esteve aquele que até janeiro passado foi chefe de governo, o conservador Antonis Samaras, que votou em sua circunscrição da cidade de Pilos, no sul do Peloponeso.

"Hoje os gregos estão decidindo o destino de nosso país. Se votarmos 'sim' na Grécia votamos 'sim' para a Europa ", disse o líder de Nova Democracia após votar.