Economia

Crise global provocou alta nos suicídios em 2009

Estudo com dados de 54 países apontou que países da Europa e das Américas registraram 5 mil mortes a mais do que o esperado

RIO - Além de jogar as principais economias do mundo em recessão, a crise econômica global que começou há cinco anos provocou um surto de suicídios em 2009, segundo estudo publicado no British Medical Journal. A pesquisa mostra que o número de suicídios em 27 países europeus e 18 países americanos onde as taxas de desemprego aumentaram significativamente por causa da turbulência ficou acima da tendência apontada pelos sete anos anteriores em quase 5 mil casos.

Os pesquisadores David Stuckler (Oxford), David Gunnell (universidade de Bristol), Paul Yip e Shu-Sen Chang (Universidade de Hong Kong) observaram que a maior parte das mortes ocorreram entre homens, e a alta foi maior na Europa (5,4% a 7% a mais no número de casos em relação à tendência) que nas Américas (3,4% a 5,1% a mais).

"As altas em taxas de suicídios em 2009 parecem estar associadas à magnitude de aumentos em desemprego, particularmente para homens, e em países com baixos nível de desemprego antes da crise", escreveram.

Foram pesquisados dados de 54 países que repassaram informações "completas e atualizadas" à Organização Mundial de Saúde (OMS) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O desemprego foi usado como principal indicador, já que estudos anteriores apontaram que mudanças nesta taxa estão mais ligadas a efeitos de curto prazo na mortalidade do que PIB per capita, e suas elevações responderam por parte dos aumentos dos suicídios em recessões passadas.

Eles destacam, no entanto, que o resultado apresentado é subestimado, e não representa o verdadeiro impacto da crise global nos suicídios. Além de alguns países afetados, como Austrália e Itália, não terem sido incluídos na contagem, o estudo desconsiderou tentativas de suicídio e outras situações de stress emocional grave.

"O aumento no número de suicídios é apenas uma pequena parte da perturbação emocional provocada pelo recuo da economia. Tentativas não-fatais de suicídio podem ser 40 vezes mais comuns do que suicídios efetivos, e para cada tentativa de suicídio, 10 pessoas experimentaram pensamentos suicidas", explicaram os pesquisadores, no documento.