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Dilma Rousseff (Foto: Lula Marques/ Agência PT/ Fotos Públicas)

Dilma Rousseff (Foto: Lula Marques/ Agência PT/ Fotos Públicas)

Com a crise política dando sinais de trégua, o governo avalia que as manifestações contra a presidente Dilma Rousseff hoje serão menores que os protestos de março e abril, mas nem por isso menos preocupantes. Embora as ameaças de impeachment tenham esfriado nesta semana, após ações do Palácio do Planalto, do Senado e até do Judiciário, o temor é de que haja confronto nas ruas, provocando um clima de instabilidade no País. Os movimentos que lideram os protestos fazem outra aposta. Avaliam que as manifestações subirão de patamar e serão mais incisivas. Segundo eles, 251 cidades serão palco dos atos.

Números à parte, a percepção do Planalto é que a nova leva de passeatas virou uma prova de fogo para Dilma e o PT. Se o movimento for incipiente, o governo poderá respirar mais aliviado, tentar virar a página da crise e do ajuste fiscal e montar uma "agenda positiva", apesar da Operação Lava Jato, que desvendou um esquema de corrupção na Petrobrás. Se a temperatura das ruas for mais alta, porém, o diagnóstico pode ser perigoso. Dilma desautorizou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, que na quinta-feira convocou um "exército" de "armas na mão" contra tentativas de se afastar a presidente, em ato no Planalto.

Duas horas depois, foi cobrado pela presidente, que considerou a declaração "desastrosa", por incitar a violência e atear fogo na crise na semana em que a tese da ruptura perdeu força. O sindicalista disse que havia usado uma "figura de linguagem". No dia seguinte, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Freitas "errou" de forma involuntária. Apesar do fôlego obtido no Tribunal de Contas da União (TCU), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da parceria com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para driblar ações que podem culminar em impeachment, o governo segue apreensivo. Nos últimos sete dias, Dilma fez seis discursos com menções à democracia.
 

Aconselhada por Lula, admitiu erros na condução do governo e adotou o termo "travessia" para se referir ao cenário de turbulências, com a intenção de mostrar uma luz no fim do túnel. "Estamos suando a camisa", disse o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva. "Independentemente do tamanho, as manifestações são importantes e temos de lidar com essa situação com naturalidade." Levantamento que chegou à cúpula do PT e do Planalto mostra que, embora as redes sociais indiquem mobilizações menores, a insatisfação com o governo é crescente. A popularidade de Dilma está em queda livre, seus eleitores querem que ela cumpra promessas de campanha e há desencanto.

A esperança, para os petistas, é que o desgaste não significou, até agora, o fortalecimento da oposição. O PSDB, presidido pelo senador e candidato derrotado ao Planalto Aécio Neves (MG), desta vez incentivou formalmente as convocações para os protestos e rechaça a tentativa do Planalto de carimbar a iniciativa como "golpe". O partido, porém, se divide no apoio ao impeachment ou na tentativa de se impugnar a chapa vencedora de 2014. O tamanho e alcance dos protestos são vistos como determinantes pela oposição.

"Serão o xeque-mate: se forem um sucesso, vão dar musculatura aos políticos favoráveis ao impeachment", disse o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO). Depois de isolar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao se aliar a Renan, Dilma ganhou tempo no TCU. Com a ajuda do senador, influente no tribunal, e do vice Michel Temer, o Planalto conseguiu adiar a votação das contas de 2014 para um momento de menor conturbação política. Além disso, o Supremo Tribunal Federal decidiu que as contas precisam ser votadas em sessão conjunta do Congresso, formada por deputados e senadores.

A medida enfraqueceu Cunha, que rompeu com Dilma após o cerco se fechar contra ele na Lava Jato. "Terminamos a semana marcando um gol e queremos continuar assim", resumiu o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). Mas Dilma ainda terá de se acertar com os movimentos sociais. "A saída que defendemos não é com Cunha nem com Renan. É com o povo", disse Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).