Parlamentares de várias regiões do país participaram nesta quinta-feira (13), em Brasília, de um ato político em defesa da reforma agrária popular. O ato foi realizado durante o 6º Congresso Nacional do Movimento Sem Terra, que acontece na capital federal desde o início da semana.
Cerca de 15 mil integrantes do MST estão acampados em Brasília para participar do encontro nacional, que vai até sexta-feira (14), e celebra os 30 anos do movimento. Pela manã, um grupo de 30 representantes do MST foi recebido pela presidente Dilma Rousseff. Em uma carta entregue a ela, os sem-terra reclamaram principalmente do atual ritmo da reforma agrária.
Entre os parlamentares, governadores, deputados e senadores presentes no ato, estiveram os governadores do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), e Camilo Capibaribe, do Amapá; o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho; além do senador Roberto Requião (PMDB), o presidente nacional do PT, Rui Falcão; e o presidente do PSOL, Luis Araújo.
Durante o ato, Tarso Genro afirmou apoiar o movimento que, para ele, está atuando em um momento "particular da vida política nacional". "Esse congresso ocorre para direcionar os novos rumos de um modelo de desenvolvimento que precisa distribuir mais renda e combater ainda mais fortemente as desigualdades sociais e regionais", afirmou.
Tarso Genro afirmou que o MST esteve sempre "na raiz, no impulso e na direção política do país". "Na democracia, os movimentos que têm bandeira, direção, programa e rosto, são os que têm capacidade de mudar e aprofundar a revolução democrática de nosso país."
O senador Roberto Requião defendeu em seu discurso a revolução sem violência. "Não estamos vivendo no que diz respeito a reforma agrária um bom momento", afirmou. "As classes dominantes, no esforço de aterrorizar e coagir especialmente a classe média e os setores mais atrasados, sempre buscam associar revolução com luta armada, violência, anarquia e desmando. Isso está errado."
Além de parlamentares, também participaram do ato representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Greenpeace, além do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinicius Furtado Coêlho.
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O representante da CNBB convidado para o ato Dom Guilherme Werlang, defendeu um limite máximo da propriedade no país. "Ter no Brasil um limite máximo da propriedade ainda é um sonho quase utópico que somente acontecerá por lei de iniciativa popular", afirmou Dom Guilherme.
"Os movimentos sociais são fundamentais para que um dia no Brasil tenhamos um limite máximo de propriedade. A propriedade da terra continua concentrada nas mãos de poucos."
Reunidos desde o início da semana em Brasília, os militantes do MST têm criticado não só o ritmo da reforma agrária, por parte do Executivo, mas também a atuação do Judiciário e do Legislativo nas disputas por terras e em propostas legais em favor do agronegócio.
Nesta quarta-feira (12), uma passeata do MST em Brasília reuniu 15 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, mas acabou em conflito com policiais militares.
Educação
O membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Pedro Stedile afirmou, durante discurso no ato político, que a reforma agrária defendida agora pelo movimento sem terra está ligada principalmente à educação no Brasil.
"Não vamos admitir que o governo feche uma escola no meio rural. Nem que nós tenhamos que repetir a marcha que fizemos ontem", afirmou. "Nós descobrimos que a educação, como um processo de democratização do conhecimento, é mais importante que a terra."
Após o discurso, Stedile explicou que o MST está com um novo programa de reforma agrária, chamado reforma agrária popular, que "prioriza garantir a solução dos problemas do povo, como a fome, a terra e o conhecimento". "Como valor humano, a educação é mais importante que a reforma agrária para o povo, mas para o camponês tem que juntar terra e conhecimento."
Segundo Stedile, muitas escolas são fechadas no interior, o que aumenta o índice de analfabetismo entre os trabalhadores rurais. "Faz parte da reforma agrária democratizar o conhecimento para que nossos trabalhadores terminem o ensino fundamental, médio e depois a universidade", afirmou.