Economia

Naouri: após fim de disputa com Abílio, Grupo Pão de Açúcar investirá em lojas pequenas

Planos da varejista francesa Casino, que controla a empresa brasileira, incluem abertura de 50 a 100 unidades por ano nos próximos anos

Jean-Charles Naouri
Foto: Divulgação
Jean-Charles Naouri Foto: Divulgação

PARIS, França – O presidente do grupo francês Casino, Jean-Charles Naouri, disse nesta quinta-feira, em Paris, que depois de resolvida a disputa pelo controle do Grupo Pão de Açúcar (maior rede varejista do país, com lojas do Pão de Açúcar, Extra, Assaí, Ponto Frio e Casas Bahia) com o ex-sócio brasileiro, Abílio Diniz, a empresa começará uma nova fase no Brasil, marcada pela estratégia de segmentação do varejo, pequenos mercados de vizinhança e preços baixos.

- É uma nova etapa que se abre. Desde setembro, estamos acelerando nosso desenvolvimento no Brasil e no mundo. Não estamos pensando nas dificuldades passadas - disse o executivo, referindo-se aos desentendimentos que se arrastaram de meados de 2011 até 6 de setembro deste ano. Foi quando Diniz renunciou à presidência do conselho de administração, vendeu suas ações para a Wilkes (holding do grupo) e abriu espaço que o Casino assumisse efetivamente o controle.

À frente do Casino desde 1998, Naouri comanda a segunda maior rede de varejo da França, dona de um faturamento de mais de € 50 bilhões no mundo (a maior parte deles no Brasil), mas costuma ser questionado por ter vindo do mundo das finanças e do varejo.

- Assumi o grupo com faturamento de € 5 bilhões de euros e hoje são € 55 bilhões. Isso já responde por si só. Não respondo críticas, não olho para trás. Não sou um herdeiro do varejo, comecei minha carreira sem um tostão, talvez isso seja um defeito, mas hoje estou à frente de um grande grupo – afirmou.

Perguntado se haveria alguma política para amenizar a imagem do empresário brasileiro na empresa, Naouri respondeu:

- A gente não se questiona em torno disso. Somos um grupo mundial, queremos ser os melhores em técnicas, em desempenho, na excelência dos colaboradores que contratamos. Um grupo não se constrói com oposição ou hostilidade. Olhamos de forma positiva, para frente – afirmou.

Proximidade do consumidor e preços baixos

E o que ele vê à frente no Brasil é o chamado varejo de vizinhança, baseado em pequenos mercados próximos do consumidor. O país já conta com 155 mini extras em São Paulo, além de lojas de rede atacadista Assaí, que se enquadram nesse modelo.

Ele não dá números, mas diz a meta para esse tipo de loja para o Brasil está na casa dos milhares. Os projetos do grupo incluem a abertura de 50 a 100 novas lojas por ano, durante os próximos anos.

A idéia segundo o executivo é dar à maior rede de varejo brasileira uma estrutura multiformato, que faz sucesso na França, com espaço para hipermercado, comércio de vizinhança, e-commerce, lojas de descontos.

- Essa proximidade para nós é prioridade e vamos implementar isso da melhor forma possível. A outra estratégia é preço baixo. Queremos ser os mais baratos em cada formato, porque ser o mais barato em hipermercado não é o mesmo que ser na loja premium - afirmou.

Só na França, o Casino tem 6 mil lojas "de proximidade". As lojas de cerca de 250 m2 são alternativas aos hiper e supermercados, com cerca de 6 mil m2 – localizados mais longe do centro – em cidades onde falta tempo, sobram dificuldades de trânsito e a população envelhece.

O que há de comum e intrigante em quase todas elas é o pequeno número de funcionários e o controle rígido de estoques e abastecimentos. O custo de permanecer na região central de Paris é ter lojas sem estoque, já que o preço proibitivo do metro quadrado reduz o espaço disponível.

Uma loja do Casino Shop, por exemplo, com 260 m2 na região central de Paris, funciona todos os das 7 da manhã às 21h, com apenas três empregados, dois gerentes e um estagiários, num país onde jornada semanal de trabalho de 35 horas.

Já a Franprix, rede de 900 lojas especializada em delicatessen tem uma unidade de 410 m2 funcionando com apenas nove funcionários e sem filas no caixa. A receita, segundo o gerente, é serem todos polivalentes e encarregados de todas as tarefas. Assim, quando o número de cliente aumenta, o de funcionários no caixa também aumenta.

* A repórter viajou a convite do grupo Casino