Os dois dias de paralisação dos rodoviários do Rio de Janeiro terminaram à 0h desta quinta-feira (15). Hélio Afonso, líder do grupo de rodoviários dissidentes do Sindicato, por não concordarem com o aumento dado à categoria, diz que os ônibus voltarão a circular normalmente nesta quinta. Às 16h, os rodoviários que não trabalharam desde o início da greve, na última terça-feira(13) vão avaliar as ações tomadas durante a greve e possiveis atos futuros. Ele classificou a greve como "altamente positiva":
" Vamos avaliar tudo o que foi feito, mas estou satisfeito. Conseguimos uma mobilização que poucas categorias haviam conseguido", disse ele, que diz que os rodoviários estão abertos a negociações. Eles discordam do aumento de 10% conseguido em março entre o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano (Sintraturb) e a Rio Ônibus.
" Queremos conversar com o sindicato, mas até agora eles não vieram conversar conosco para negociar nada", reclamou ele, que não confirmou se há a possibilidade do protesto com catracas livres, quando os passageiros não pagam passagem, ser utilizado em uma nova paralisação:
"Isso tem que ser discutido com todos os rodoviários e depois votado. Vamos conversar também sobre possíveis abusos cometidos pelas empresas durante a greve ou se companheiros foram demitidos", disse.
(Foto: G1)
Prejuízos
Em três dias de paralisação de rodoviários no Rio — quinta-feira (8), terça (13) e esta quarta (14) — pelo menos 708 ônibus foram danificados, segundo a Rio Ônibus. Ainda de acordo como sindicato das empresas, o serviço de transporte coletivo está sendo normalizado com a volta ao trabalho e, até as 18h, 44% da frota municipal estava em circulação. Dezenove ônibus haviam sido depredados, sendo 18 só na Zona Oeste.
Os principais danos são em retrovisores, parabrisas e vidros. Na Baixada Fluminense, que teve paralisação pela manhã e início da tarde, 26 ônibus haviam sido depredados até 17h. A circulação em Nova Iguaçu, São João de Meriti, Belford Roxo, Nilópolis, Japeri e Queimados foi normalizada no fim da manhã desta quarta-feira (14), informou o Transônibus, sindicato que representa 36 empresas de ônibus dos seis municípios. A greve na região acabou devido à baixa adesão.
Nesta terça-feira, durante entrevista, o grupo de rodoviários dissidentes afirmou que a greve no município do Rio seria realizada até o horário previsto, à 0h desta quinta. Os representantes dos grevistas disseram também que empresas de ônibus estão financiando pessoas armadas para ameaçar os adeptos da paralisação, como forma de represália.
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De acordo com Hélio Teodoro, um dos porta-vozes do movimento grevista, um motorista foi ameaçado com uma arma de fogo na porta da garagem da empresa Campo Grande, na Zona Oeste, na noite de segunda (12), após o anúncio da paralisação. "As empresas têm dinheiro para pagar essas pessoas mas não para aumentar nosso salário. Soubemos que houve demissões de motoristas por parte dos patrões. A solução é o sindicato e as empresas sentarem com a gente para negociar", disse Hélio.
A Rio Ônibus afirmou que a acusação é "absurda". Segundo a empresa, há apenas policiais militares nas garagens das empresas de ônibus, como determinado pela Prefeitura do Rio, e também fiscais das empresas atuando em alguns pontos da cidade.
A categoria convocou uma nova assembleia para quinta-feira (15) após o término da greve para decidir o rumo da paralisação e se a decisão da Justiça de recolocar a parte da frota na rua será acatada.
No entanto, o grupo afirmou que não tem como garantir que essa parcela volte a trabalhar se não houver negociação.
Perdas no comércio e liminar
A Fecomércio estima que 977,8 mil trabalhadores do setor do comércio tenham sido afetados pela greve dos ônibus de hoje, com a adesão de alguns municípios da Baixada. O contingente corresponde a 44% dos cerca de 2,2 milhões de passageiros que sofreram consequências da interrupção da circulação dos coletivos.
Na terça-feira (13), a vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos, concedeu liminar determinando que pelo menos 70% do efetivo total de rodoviários do Rio estejam em serviço sob pena de multa diária de R$ 50 mil, em caso de descumprimento, contra o Sindicato Municipal dos Trabalhadores Empregados em Empresas de Transporte Urbano de Passageiros (Sintraturb). Até as 17h, 158 ônibus haviam sido depredados durante a paralisação, segundo a Rio Ônibus.
Segundo a desembargadora, o transporte rodoviário de passageiros é atividade essencial. A assessoria de imprensa do TRT-RJ explicou que, caso a decisão seja descumprida, o sindicato terá de pagar a multa mesmo sendo contra a greve.
O advogado Aderson Bussinger, um dos representantes dos motoristas de ônibus que estão paralisados desde 0h de terça-feira(13), disse que entrou durante a tarde com um pedido por uma nova audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho. Segundo ele, a força da greve faria o sindicato patronal poder pensar em um acordo.
"Acredito em uma conciliação neste caso. É só aceitarem o pedido para uma nova audiência", disse Aderson, que pediu ainda um reposicionamento da decisão da vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região a respeito da obrigação de 70% de ônibus nas ruas.
De acordo com Sintraturb, o sindicato é o legítimo representante dos rodoviários e, portanto, os dissidentes que fazem a paralisação não representam oficialmente a categoria. O grupo decidiu entrar em greve por rejeitar o acordo de reajuste salarial firmado entre o sindicato e o Rio Ônibus, que representa as empresas de ônibus. De acordo com o TRT, o sindicato poderá alegar que é contra a greve como forma de defesa quando o processo for julgado.
A direção do Sintraturb diz que foi pega de surpresa. De acordo com o vice-presidente Sebastião José, a paralisação é organizada por grupo dissidente de rodoviários e o acordo foi debatido em assembleia e aprovado pela maioria presente.
Justiça indica líderes
A juíza Andreia Florencio Berto, do plantão judiciário, concedeu, nesta terça-feira, antecipação de tutela pedida pelo Rio Ônibus contra Helio Alfredo Teodoro, Maura Lúcia Gonçalves, Luiz Cláudio da Rocha Silva e Luiz Fernando Mariano, que seriam os líderes do movimento grevista. A decisão determina que eles devem "se abster de promover, participar, incitar greve ou paralisação, em desacordo com o disposto na Lei 7.783/89, que trata do exercício de greve, bem como de praticar atos que impeçam, ameacem ou dificultem o bom, adequado e contínuo funcionamento do serviço de transporte público".
Na ação em que os quatro rodoviários são réus, o Rio Ônibus alegou que a paralisação ocorrida na quinta-feira (8) causou às empresas de ônibus grande prejuízo. O Rio Ônibus pediu ainda à Justiça que os réus mantivessem distância das garagens das empresas. No entanto, o pedido não foi atendido porque a juíza entendeu que a medida violaria o direito constitucional de ir e vir.