Economia

Nova política de preços da Petrobras prevê reajustes automáticos

Diretor financeiro diz que estatal vai trabalhar para que metodologia proposta esteja implementada até 22 de novembro

RIO E SÃO PAULO - Após executivos da Petrobras afirmarem que o Conselho de Administração da estatal pode aprovar uma nova metodologia de reajuste de preços para a gasolina e o diesel até o dia 22 de novembro, as ações da companhia dispararam nesta segunda-feira na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis preferencias (PN, sem direito a voto) subiram 7,57% e os ordinários (ON, com direito a voto), 9,82% - as maiores altas do Ibovespa. Com o avanço, a Petrobras ganhou R$ 20 bilhões de valor de mercado em relação ao fechamento de sexta-feira, um salto de R$ 232,3 bilhões para R$ 252,8 bilhões, e passou a russa Gazprom no ranking de maiores petroleiras do mundo, ocupando agora nona posição. A possibilidade de uma nova política de reajuste dos combustíveis - que o governo costuma restringir para segurar a inflação -, deixou em segundo plano o resultado ruim do balanço trimestral da empresa, divulgado na sexta-feira. O lucro de R$ 3,39 bilhões ficou abaixo do esperado e foi 39% menor que o do mesmo período de 2012.

De acordo com um integrante do Conselho de Administração ouvido pelo GLOBO, o novo cálculo do reajuste - já aprovado pela diretoria - consiste em uma média ponderada da cotação do barril de petróleo tipo Brent relacionada a fatores internos da empresa, como produção e refino. O método, desta forma, seria aplicado automaticamente em prazos preestabelecidos, sem interferências políticas.

- A diretoria da Petrobras fez uma apresentação ao Conselho de Administração na última sexta-feira. O objetivo desse novo cálculo é não afetar o caixa da empresa, mas também não penalizar a população brasileira com o aumento dos preços. A metodologia retira as maiores e as menores oscilações do preço do barril. Por isso, (o reflexo para o consumidor) será algo perene. Essa conta leva em consideração fatores como a expectativa da produção e a capacidade de refino. Não é só a cotação internacional. Agora, os detalhes serão avaliados pelo Conselho - disse essa fonte.

No dia 29 de setembro, em entrevista ao GLOBO, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou que a estatal estudava uma nova política de aumentos dos preços dos combustíveis, desde que “a volatilidade dos preços internacionais não fosse repassada ao mercado interno”. Nesta segunda, Almir Barbassa, diretor financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre, evitou dar detalhes da mudança, mas destacou que, uma vez aprovado, o cálculo será automático. Segundo Barbassa, o objetivo é alinhar os preços dos derivados comprados no mercado internacional com os vendidos no país. Isso, afirmou, vai permitir maior geração de caixa e a redução do nível de alavancagem para níveis aceitáveis - compatível com o plano de investimento de US$ 236,7 bilhões até 2017, que inclui o desenvolvimento das áreas do pré-sal.

- A diretoria da Petrobras aprovou essa nova metodologia de reajuste. O principal produto é a maior previsibilidade, e que é compatível com o plano de negócios. A metodologia foi levada ao Conselho. Eles pediram que fizéssemos novas análises e foi estabelecido o prazo de 22 de novembro para considerar o que foi colocado. São vários parâmetros importantes, como o percentual de reajuste e a periodicidade desses reajustes. Depois de aprovada, e uma vez definida (a metodologia), o reajuste é automático e passa a ser empregado. A metodologia leva a aumentos ou reduções. É aderência aos preços internacionais - afirmou Barbassa.

Analista: ‘Alta em cima de especulação’

Indagado por analistas sobre a necessidade de aprovação pelo Conselho, Barbassa disse que é preciso adequar a empresa à nova realidade. Ele citou o nível de alavancagem, de 36% no fim de setembro - quando o “aceitável” pela companhia é 35%:

- É preciso ressaltar o peso relativo de cada derivado. Diesel e gasolina representam algo próximo a 50% da receita. Quando se fala de previsibilidade e de reduzir a alavancagem, tudo será colocado na conta. É essencial olhar caso a caso.

O diretor afirmou não ser o momento de especular se a metodologia será ou não aprovada. E disse que, uma vez alinhados os preços, o fluxo de caixa estará positivo em 2015. Até agosto, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), a empresa perdeu cerca de R$ 3,4 bilhões com a defasagem de preço dos combustíveis. Segundo Graça Foster, a gasolina apresentava diferença de 6,5% e o diesel, de 19%, na última quarta-feira.

O especialista Adriano Pires, do CBIE, disse que, não fosse o anúncio dessa nova metodologia, as ações da empresas teriam fechado a segunda em forte queda.

- O resultado operacional veio ruim, com redução no nível do caixa e maior alavancagem. É muito cômodo divulgar essa metodologia no dia do resultado, pois o foco passa a ser outro. Não sabemos como será essa metodologia e nem se será aprovada. E onde está a CVM (Comissão de Valores Mobiliários)? Foi uma alta em cima de especulação, de uma suposição, alimentando os especuladores. O ideal seria estudar e divulgar já o resultado final.

Procurada, a CVM disse que “acompanha e analisa as informações e movimentações envolvendo às companhias abertas e o mercado bursátil, tomando as medidas cabíveis, quando necessário”.

David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), lembra que a nova metodologia trará mais previsibilidade, o que é positivo. Ele lembra que, na década passada, a companhia já usou uma fórmula parametrizada - que tinha como base a cotação média do barril e limitava os aumentos e reduções nos preços.

Segundo Luana Helsinger, analista sênior da corretora GBM, o mercado começa lentamente a especular sobre o modelo adotado. O Goldman Sachs aponta um modelo de reajustes automáticos de combustíveis baseado na defasagem média de preços dos 12 meses anteriores. Mas acredita que essa política poderia esbarrar no “monitoramento do impacto de preços de combustíveis que o governo fez nos últimos três anos”. O Deutsche Bank lembra que, nos últimos meses, o mercado voltou a comentar uma possível volta da chamada “conta petróleo”. No Itaú BBA, os analistas preferiram a cautela. “A nova metodologia ainda não foi aprovada e nós não sabemos o tamanho do alívio que poderia oferecer para o apertado balanço da companhia”.

José Formigli, diretor de Exploração & Produção da Petrobras, disse que a Petrobras trabalha para fechar o ano de 2013 com uma queda de 2% em sua produção. José Cosenza, diretor de Abastecimento, lembrou que estão sendo feito estudos para que a Refinaria Abreu e Lima (PE) - incorporada pela Petrobras, já que a venezuelana PDVSA não investiu no projeto - passe a processar óleo leve e não só óleo pesado, como previsto. A refinaria está orçada em US$ 18 bilhões, ante os US$ 17,3 bilhões previstos em março.

Com ajuda da Petrobras, a Bolsa fechou nesta segunda em alta de 1,70% aos 55.073 pontos. O dólar caiu 0,41%, a R$ 2,180.