08/12/2013 08h45 - Atualizado em 09/12/2013 10h55

Procura por carne de cordeiro causa aumento na criação de ovinos em SP

Rebanho de ovinos dobrou de tamanho nos últimos 20 anos.
Uma das novas criações fica na propriedade de Morungaba, em SP.

Do Globo Rural

 O consumo de carne de cordeiro ainda é pequeno no Brasil, com menos de um quilo por ano por habitante. Já o consumo de carne de boi é de quase 40 quilos por pessoa.

O mercado é promissor e fez muitas pessoas decidirem investir na criação. Em São Paulo, há três fazendas que se dedicam à atividade.

A procura pela carne de cordeiro tem registrado aumento e a produção brasileira não atende o mercado. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior, até outubro desse ano foram importamos 390 mil quilos de carne. No ano passado, foram 40 mil. Por isso, criadores paulistas aproveitam essa oportunidade. Segundo o IBGE, nos últimos 20 anos o rebanho de ovinos em São Paulo dobrou de tamanho.

Uma das novas criações está na propriedade em Morungaba, São Paulo. As instalações têm três anos e a dona está com apenas 26 anos de idade. A família tem tradição na criação de ovinos. Mas até três anos atrás a atividade era desenvolvida lá na Espanha.

Priscila Quirós, dona da propriedade brasileira, formou-se em administração. Quando pensava sobre o destino profissional, ela se deparou com a história da família. Apesar da experiência familiar, ela teve que aprender tudo do zero.

O pasto da fazenda é formado com capim aruana e irrigado para se manter vistoso. O rebanho tem 1,5 mil animais mestiços. Na propriedade é feita a monta natural, com 20 reprodutores. As ovelhas dão cria no pasto. Todos os dias, pela manhã, os funcionários saem em busca dos filhotes. Os cordeiros são levados nos braços e a mãe, zelosa, segue atrás.

A primeira providência é pesar o filhote. Depois, verifica-se o sexo, fura-se o umbigo e coloca-se o brinco. Feito isso, eles estão prontos para ficar com a mãe dez dias confinados. Então, os filhotes seguem para o piquete.

Enquanto estão no piquete as matrizes recebem silagem e ração. Além do leite da mãe, os cordeiros ganham suplemento à base de milho, soja e trigo. O alimento é servido no creepfeeding, que são cochos cercados onde apenas os filhotes conseguem entrar. “Eles ficam nesse lugar até o cordeiro atingir 60 dias de idade, que á idade média que a gente desmama os nossos animais”, explica Priscila.

O peso, checado no tronco, determina em que baia os animais ficarão até chegar ao ponto de abate. A criação também tem animais puros da raça poll dorset. Eles têm origem anglo-americana e são os responsáveis pelo melhoramento genético do rebanho. Os animais vieram da Austrália e Nova Zelândia, países livres da doença da vaca louca.

O veterinário Sérgio Nadal, consultor na fazenda e que tem experiência de criador no Rio Grande do Sul, avalia o potencial da criação em São Paulo, onde as ovelhas entram no cio durante o ano todo.

Tanto empenho para aumentar o rebanho não pode ser colocado em risco. Animais bonitos soltos no pasto são um prato cheio para predadores. Na região, existem muitas onças e cachorros do mato. A fazenda já chegou a perder 50 ovelhas em um mês por ataque de predadores. A solução foi a importação de cachorros da raça pastor maremano que são colocados novinhos junto com as ovelhas para pensarem que fazem parte do rebanho. A raça é italiana e os filhotes são lindos e muito agitados.

A importação de cachorros, o cuidado com o pasto irrigado, a construção de galpões climatizados e animais de elite para a reprodução tiveram um grande investimento. “O investimento foi em torno de R$ 6 milhões. Hoje, a gente tem um faturamento de R$ 150 mil. Com certeza, em cinco anos a gente vai atingir o retorno”, calcula Priscila.

Em relação a outras regiões do Brasil, o Sudeste ainda está engatinhando. No ano passado, o Nordeste contava com um rebanho de 9,3 milhões de animais. No Sul, eram cinco milhões. No Sudeste, havia 740 mil. A região Sudeste ainda tem alguns problemas extras. O clima úmido do Sudeste é o grande desafio para a sanidade do rebanho.

O veterinário Leandro Rodello é um dos veterinários que dá assistência à propriedade em Itapetininga, São Paulo. “Na região Sudeste, os principais desafios são o controle da verminose e a podridão do casco”, diz.

O dono da propriedade é Eli Alves da Silva. Há 15 anos, o advogado resolveu investir na ovinocultura. O criador começou com os animais de elite. Hoje, a criação tem 70 animais de elite, todos puros da raça santa inês “Naquele momento, até pela fome que estava o mercado, o foco maior era em cima dos animais de elite. Era uma quantidade menor, mas com valor agregado maior”, justifica.

A santa inês é uma raça brasileira desenvolvida no Nordeste através do cruzamento de outras três raças. Essa é uma ovelha sem lã. Mas em ambientes mais frios ela acaba desenvolvendo uma lanugem de proteção.

A capacidade de formar a lanugem e a rusticidade são características que permitiram a adaptação da santa inês à região Sudeste. O veterinário Joselito Barbosa também dá assistência na fazenda. “Ela é oriunda de três outras raças e ganhou no Nordeste duas condições especiais de sobreviver com pouco e adaptação”, explica.

O rebanho conta com 600 ovinos e produz uma média de 50 animais ao mês. O criador está satisfeito com o negócio e pretende fazer mais investimentos para aproveitar o mercado aquecido. “Hoje, se formos considerar, temos faturamento de R$ 40 mil por mês bruto. Nosso objetivo é chegar a um volume de duas mil matrizes para que possamos ter menor sazonalidade de oferta dessa carne para as empresas que comercializam e frigoríficos”, diz Silva.

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