24/03/2014 13h43 - Atualizado em 24/03/2014 13h43

Goiânia é a 28ª colocada em ranking das cidades mais violentas do mundo

ONG mexicana analisou dados de homicídios registrados no ano passado.
Na comparação com cidades brasileiras citadas, capital ocupa o 10º lugar.

Fernanda BorgesDo G1 GO

A cidade de Goiânia aparece na 28ª posição em um ranking, elaborado pela ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, das cidades com as maiores taxas de homicídio no mundo. No total, o Brasil aparece com 16 cidades na lista, sendo que a capital goiana fica na 10ª colocação entre os estados da federação.

Segundo a ONG, o ranking é elaborado baseado no cálculo do número de homicídios registrados em cada cidade, dividido pelo número de habitantes e multiplicado por 100 mil. Para ser estudada, a cidade precisa ter uma unidade urbana definida e ter mais de 300 mil habitantes.

No caso de Goiânia, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no ano passado ficou em 44,56. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a partir da taxa de 10 para 100 mil habitantes já é considerado que há uma epidemia de violência na cidade.

De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), 589 homicídios foram registrados na capital no ano passado. Com o resultado, Goiânia liderou o ranking das cidades goianas, que registraram 2.576 assassinatos no total de 2013.

O secretário de Segurança Pública de Goiás, Joaquim Mesquita, informou, em nota, que desconhece a metodologia usada na pesquisa da ONG e que, por isso, prefere não se pronunciar sobre o assunto.

Vítimas
Quem foi vítima da violência sente na pele como é viver em uma cidade com uma alta taxa de homicídios. A comerciante Hilma Ramos de Oliveira, mãe de Luan Vitor de Oliveira e Sousa, 20 anos, assassinado em maio do ano passado durante um show na Pecuária de Goiânia, diz que a vida da família nunca mais foi a mesma. “É um sofrimento dia após dia", afirma.

Luan Vitor foi morto por um policial durante um show na Pecuária de Goiânia (Foto: Fernanda Borges/G1)Mãe de Luan diz que dor não passa: 'Sofrimento
dia após dia' (Foto: Fernanda Borges/G1)

O acusado pela morte do jovem é o policial civil Levy Moura, que chegou a ser preso na época do crime, mas agora responde em liberdade. Ele já foi denunciado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) e aguarda do julgamento.

Imagens gravadas por um cinegrafista amador, que não quis se identificar, mostram como o crime aconteceu. No vídeo, três homens aparecem em luta, no meio da arena do Parque de Exposições. Segundo Levy relatou à polícia, ele e o filho tentavam imobilizar um homem, apontado como amigo de Luan, que teria roubado a câmera fotográfica da namorada do policial. A vítima só aparece nas imagens pouco antes de ser baleada com um tiro no peito. O jovem chegou a ser socorrido, mas morreu no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo).

Para Hilma, dez meses após o crime, a dor da família permanece a mesma. “Até hoje não consegui me desfazer das coisas dele e o quarto permanece intacto. Entro lá apenas para fazer a limpeza e sei que não faz sentido manter tudo ali. Mas ao mesmo tempo também não consigo tirar nada. O buraco no peito é grande demais”, ressaltou a mãe, que pede Justiça: “Sei que nada vai trazer o Luan de volta, mas vê-lo condenado será um alívio”, afirmou.

Solução para os assassinatos deve ser pensada de maneira global"
Henrique Tibúrcio, presidente da OAB-GO

Tráfico de drogas
Indo além do sofrimento das pessoas que perderam entes queridos, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO), Henrique Tibúrcio, ressalta que o problema dos homicídios nas grandes cidades está, na maioria das vezes, ligado ao tráfico de drogas.

“Não vejo como podemos encontrar uma solução para os assassinatos se ela não for pensada de maneira global, pois grande parte das mortes está diretamente ligada ao tráfico. Mesmo quando ela ocorreu em função de um roubo, quando você analisa a fundo, muitas vezes descobre que aquele ato criminoso foi cometido para financiar o vício. E daí por diante”, afirmou em entrevista ao G1.

Tibúrcio diz que as autoridades de Goiânia devem realizar ações de combate a violência, mas que não adianta que essas medidas não sejam compartilhadas por outras cidades brasileiras. “É preciso que seja criado no Brasil um sistema para que as Secretarias de Segurança Pública de todo o país trabalhem com um único meio de inteligência, pois quando o cerco aos criminosos é feito em um estado, eles migram para outra área. Sendo assim, é um círculo vicioso que não tem fim”, destacou.

O presidente da OAB-GO afirma não ter dúvidas de que a repressão ao tráfico de drogas vai ajudar a reduzir o índice de homicídios em Goiânia e no país como um todo. “Claro que existem outros fatores, como a necessidade de investimentos em educação, saúde e em capacitação profissional, mas se o governo federal endurecer o combate às drogas nas fronteiras, essa realidade poderá mudar a longo prazo”, concluiu Tibúrcio.
 

Assessora parlamentar Ana Maria Victor Duarte é assassinada em frente a lanchonete em Goiânia, Goiás (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)Assessora parlamentar, Ana Maria Duarte foi morta
em Goiânia (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)

Casos recentes
Neste ano, a situação dos homicídios continua a preocupar os moradores de Goiânia. De acordo com dados da SSP-GO, nos dois primeiros meses, 86 pessoas foram assassinadas na capital. O número ficou acima do registrado no mesmo período do ano passado, quando foram 81 mortes.

Um deles ocorreu no último dia 19 de fevereiro, no centro da capital. Câmeras de segurança de um prédio mostraram o assassinato da estudante Wanessa de Almeida Ramos, 19 anos. Ela saia de um colégio, quando levou um tiro nas costas ao tentar fugir de um assalto.

Os responsáveis pelo crime foram presos no início de março e uma mulher, apontada como autora do tiro, tem a mesma idade da vítima. Ela já responde por outros seis homicídios, segundo a polícia. “Ela é uma das pessoas com mais periculosidade das quais eu já investiguei”, afirmou o delegado Maurício Massanobu.

Cerca de um mês depois outro crime chocou os goianienses. Foi o assassinato da assessora parlamentar Ana Maria Duarte, 26 anos, que estava em uma lanchonete no Setor Bela Vista com o namorado e uma amiga, quando um suposto assaltante os abordou. O homem recolheu os celulares das vítimas e Ana Maria disse que não portava o equipamento. Ele disparou no peito da jovem e fugiu sem levar nada.

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