15/09/2013 09h00 - Atualizado em 15/09/2013 09h00

Técnicos ajudam produtores na recuperação do solo de Nova Friburgo

Região foi atingida por fortes chuvas, que causaram destruição em 2011. Cidade teve 1200 famílias prejudicadas e 750 hectares devastados.

Do Globo Rural

Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, é uma região marcada pela tragédia e pela destruição. Em janeiro de 2011, a cidade sofreu com deslizamentos e enchentes provocados pela chuva, que atingiu toda a região serrana. A zona rural da cidade, a 140 quilômetros da capital do estado, foi uma das mais atingidas: 1200 famílias foram prejudicadas e 750 hectares foram devastados. Em toda a região, são quase 200 pessoas desaparecidas e 918 que perderam suas vidas.

Passado o primeiro choque, muitos agricultores ficaram perdidos, sem saber por onde começar a reconstrução de suas propriedades. Neste momento, o trabalho de vários órgãos, entre eles a Pesagro, a Emater e a Embrapa, foi essencial. O processo de ajuda, porém, foi lento já que dependia de levantamentos, projetos e liberação de verbas.

Nesse tempo, muita coisa foi feita, porém, ainda há muitas pendências. O supervisor regional da Emater, Afonso Henrique Albuquerque Júnior, fala sobre a ajuda aos moradores da zona rural: “As famílias afetadas tinham direito a receber até R$ 8 mil com perda de lavoura, R$ 12 mil com perdas de equipamentos e máquinas e mais R$ 16 mi em moradia. No início, os técnicos não estavam tão bem treinados e não atenderam a população de maneira eficiente. Nós pedimos desculpas às famílias que não receberam o auxílio necessário, cerca de 40 famílias, que nós não conseguimos atender. A gente atendeu 1100 famílias em Nova Friburgo”.

O agricultor Carlos Vidal perdeu 90% da lavoura e foi um dos que não receberam a verba. Junto com dois filhos, ele decidiu trabalhar para recuperar seu sítio. Fez o plantio como sempre, cuidou da terra e, no final, o resultado não veio. “Nós começamos a plantar como se tivesse passado a enchente, só que não conseguimos produzir. Arranjamos gente para trabalhar, eles vieram, aumentava o custo para tratar da lavoura e não dava resultado. A gente perdia de 40% a 50% do que a gente plantava”, relata.

Atualmente, Carlos tem apenas produção feita nas estufas. No sistema de hidroponia, onde o plantio é feito sem terra, ele cultiva alface e morangos. “A minha produção antes da tragédia era na faixa de 2,5 mil, três mil pés de alface por dia. Hoje estamos na faixa de 1,5 mil por dia”.

Ao lado das estufas de hidroponia, Carlos até já começou a plantar um pouco direto no solo, mas ele é muito arenoso. “A gente consegue produzir rúcula, porque tem um ciclo mais rápido. A gente tem que tirar rápido, pois completa o ciclo vegetativo e, se não for assim, ela amarela toda e acaba rapidinho”, conta.

Só no meio deste ano, Carlos decidiu buscar ajuda. Junto com funcionários da Embrapa, o agricultor está aprendendo a trabalhar a terra de um jeito diferente, reconstruindo o solo. “Ele usou muitos insumos aqui e do ponto de vista de fertilidade química, se a gente faz uma análise do que tem de fósforo, potássio, cálcio, magnésio, os níveis estavam bem elevados. Ele não conseguia produzir, porque o solo precisava restabelecer suas funções, a fertilidade em toda a sua plenitude”, explica a bióloga Adriana Maria de Aquino.

Para recompor o solo, toda a área foi plantada com um coquetel de sementes: aveia, nabo forrageiro, ervilhaca e tremoço. “A minha expectativa é que em dois anos a gente consiga restabelecer as condições físicas do solo”, estima a especialista.

Trabalho de prevenção

Além da reconstrução do solo depois da tragédia, outro desafio é como impedir deslizamentos futuros. Uma das armas usadas para a contenção de encostas na zona rural é o capim vetiver, de origem asiática. Por cima da terra, é um capim comum, mas por baixo, sua raiz é grande e pode chegar a seis metros de profundidade.

Alexandre Guaraná produz mudas deste capim. Ele já conhecia a planta desde criança, mas com outro uso. “Há muitos anos, meu avô conseguiu algumas mudas, só que com o intuito de aproveitar a raiz para colocar nas gavetas, para dar um cheirinho nas roupas. Só que depois de janeiro, quando a gente sofreu com as chuvas, eu comecei a buscar uma alternativa mais viável pra tentar resolver meu problema aqui. A princípio, teria que ser feito a construção de um muro de arrimo, que custaria mais caro que a casa. Comecei a pesquisar e vi que esse capim seria viável para o que eu precisava”, relata.

O agricultor compara o morro plantado com outro onde ainda não fez o trabalho de contenção: “A gente tem duas áreas: um onde eu consegui fazer a intervenção com o capim e as pedras estão limpas, sem nenhum tipo de erosão, e onde eu não consegui mexer, que continua cedendo material e criando problema”.

Aos poucos, o capim vetiver vai sendo plantado na região. Alexandre vende duas mil mudas por mês e, mesmo sendo um capim exótico, de fora do Brasil, ele não representa risco à natureza. “É uma planta que você não encontra mais no ambiente natural, só trabalhada pelo ser humano, e não produz semente. Então, ela só se multiplica de forma vegetativa. Onde você plantou, ela vai produzir mudinhas, mas não sai desse lugar. É muito interessante para trabalhar em áreas de preservação permanente, em beira de rio, topos de morros. Na medida em que a mata for se recompondo, ela vai sombrear e o vetiver tem a tendência de ir desaparecendo do ambiente”, explica o agrônomo Renato Linhares de Assis.

Renato e a bióloga Adriana também desenvolvem um trabalho de recuperação na propriedade do casal Margarete e Lyndon Johnson. No local, a aveia preta já está no ponto de corte. A massa verde não é incorporada ao solo, mas sim triturada e deixada sobre a terra para depois ser feito o plantio direto. “A aveia preta produz bastante massa de uma forma rápida, que tem um processo de decomposição interessante do ponto de vista de manter esse solo coberto mais tempo”, afirma o agrônomo.

Com as enchentes de 2011, o morro ao lado da casa do casal desmoronou e mudou o curso do rio. Eles logo buscaram ajuda com os técnicos da Embrapa e foram um dos primeiros a plantar aveia na tentativa de recuperar o solo. Eles tiveram que mudar o foco da produção e passaram a plantar vegetais menos comuns, como o nirá, usado na culinária japonesa, e fornecer direto para restaurantes no Rio de Janeiro.

Hoje, eles já colhem os resultados. “A gente ficou seis meses trabalhando esse solo, sem produção, só trabalhando a qualidade do solo, com adubação verde, fazendo a correção de acidez. Tem parte ainda com bastante areia, mesmo com o solo próximo do padrão ideal, a gente continua tendo que trabalhar sempre, porque a gente faz um cultivo intensivo”, relata Lyndon.

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