• 18/03/2014
  • por redação; fotos Randy Harris / The New York Times
Atualizado em
Casa de plástico (Foto: Randy Harris / The New York Times)

“Não sei se vocês vão gostar”, disse o corretor de imóveis para o arquiteto Alan Orenbuch. “É uma casa moderna e um pouco fora do normal”. Era tudo que ele e seu companheiro, o decorador Bryan O’Rourke, procuravam. Principalmente por se tratar de um pequeno tesouro modernista conhecido como Plastic Tent, construído em 1974 pelo arquiteto John M. Johansen, em Stanfordville, Nova York.

Johansen, falecido em 2012, pertencia ao Harvard Five, um grupo de jovens modernistas da Graduate School of Design, faculdade de arquitetura e design da Universidade de Harvard. Foi o criador das chamadas “Casas Simbólicas”, uma série de cinco residências experimentais desenvolvidas a partir das ideias de Carl Jung; elas incorporavam símbolos de seu pensamento e ajudaram a reinventar a arquitetura norte-americana moderna.

Plastic Tent era a número dois da série e, por 30 anos, foi a morada do arquiteto e de sua esposa Ati, filha de Walter Gropius, fundador da Bauhaus. Com formato de pirâmide truncada (topo reto), tem base quadrada de 81 m² e paredes externas de plástico ligadas a uma estrutura de aço, a partir da qual o segundo e terceiro andares são suspensos. A estrutura de pedra no interior do primeiro andar confere suporte adicional. Vistas por dentro, as paredes translúcidas brilham ao sol, em um jogo harmonioso com a sombra das folhas que caem das árvores ao redor.

Casa de plástico (Foto: Randy Harris / The New York Times)

A casa é repleta de referências psicanalíticas. No primeiro andar, o rodapé foi substituído por pedras, simbolizando o útero, e no lugar do espelho sobre a pia do banheiro, a visão de árvores emolduradas. Sem proteção, a vista do segundo andar sobre a sala de estar é um convite ao perigo, bem como o quarto do terceiro andar, uma caixa com jeito de ninho suspensa por cabos que balançam com o vento.

Porém, com o passar dos anos, o casal de idosos começou a sentir o peso de viver em uma morada isolada e repleta de escadas. Quando decidiram vendê-la, atraíram muitos interessados, e Alan e Bryan foram os escolhidos por conhecerem e apreciarem seu projeto. Moradores de um apartamento pequeno em Manhattan, buscavam um refúgio como aquele havia anos.

A paixão à primeira vista e o preço, cerca de 365 mil dólares, era uma pechinha em uma região conhecida pelas mansões de veraneio. “Assim que vimos, soubemos que era ela”, contou Bryan. Assim, a residência foi vendida em novembro de 2008, com a condição de que o casal Johansen pudesse continuar morando até que encontrassem um novo lar – um chalé no luxuoso balneário de Cape Cod.

Bryan decorou a casa com uma coleção de mobiliário da primeira metade do século 20 que armazenava em um guarda-móveis – como a cadeira Eames arrematada na Internet ou as Lounge Chairs, também dos Eames, garimpadas no Greenwich Village, perto do apartamento do casal.

Embora pensem em pequenas reformas, a dupla se sente responsável pela preservação do projeto, sobretudo após a demolição de dez das 27 casas desenhadas por Johansen no nordeste dos Estados Unidos. Apesar de não ser mais seu proprietário, o arquiteto continuou ligado ao lar que construiu, em boa parte, com as próprias mãos. “No pensamento junguiano, a casa é um símbolo de seu ocupante”, disse. “Não é mais minha, mas há um pouco de mim que ficou lá”.

Casa de plástico (Foto: Randy Harris / The New York Times)
Casa de plástico (Foto: Randy Harris / The New York Times)
Casa de plástico (Foto: Randy Harris / The New York Times)
Casa de plástico (Foto: Randy Harris / The New York Times)
Casa de plástico (Foto: Randy Harris / The New York Times)
Casa de plástico (Foto: Randy Harris / The New York Times)
Casa de plástico (Foto: Randy Harris / The New York Times)
Casa de plástico (Foto: Randy Harris / The New York Times)