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Convocado pela Azzurra, Rômulo diz: "Jogar pelo Brasil seria trair a Itália"

Reserva de Jonathan no Cruzeiro, em 2010, lateral-direito do Hellas Veroona supera compatriota na disputa por uma chance de disputar a Copa do Mundo no país natal

Por Milão, Itália

Enquanto jogava no Cruzeiro, em 2010, Rômulo se via como o reserva imediato de Jonathan na lateral direita do time comandado por Cuca. Mas no futebol italiano sua sorte mudou. O brasileiro, que tem cidadania italiana, foi a surpresa da pré-convocação de Cesare Prandelli, treinador da Azzurra, para a Copa do Mundo. Atuando no Hellas Verona, deixou o ex-companheiro de Cruzeiro e atual camisa 2 do Inter de Milão para trás na disputa e, na última segunda e terça-feira, realizou testes em Coverciano, onde fica o CT da Azzurra, ao lado de outros 41 atletas. E voltou para casa com a convicção de que será convocado para defender os tetracampeões no Brasil.

- Foi a minha primeira experiência numa seleção, foi muito legal. O treinador Prandelli, a comissão técnica e todos os jogadores me fizeram sentir em casa. O treinador deixou claro que vai selecionar jogadores deste grupo, e que o critério de escolha vai ser a forma física. Vou continuar me cuidando, ele pediu para repousarmos e estarmos muito atentos à alimentação. Tenho de controlar um pouco a ansiedade, mas acho que tudo é possível. Com certeza, agora acho que tenho chances de disputar a Copa - disse Rômulo, em entrevista por telefone.

Rômulo do Hellas Verona, na seleção italiana (Foto: Arquivo Pessoal)Rômulo na concentração da seleção italiana: grato à oportunidade e fiel à Azzurra (Foto: Arquivo Pessoal)


O primeiro contato entre Rômulo e Prandelli aconteceu há cerca de três semanas, e o técnico se mostrou preocupado com o sentimento do jogador pela Azzurra. Quis saber se o seu desejo em defender a Itália resistiria a uma sondagem do Brasil no futuro. Diante de uma ocasião única para disputar a Copa de 2014, o atleta nem pestanejou. E garante que recusaria uma convocação para a Seleção no futuro, caso não seja convocado para o próximo Mundial pelo país europeu.

- Quando o Prandelli conversou comigo a primeira vez, ele me perguntou se eu me sentia honrado por vestir a camisa da Itália. Ele me chamou, e eu aceitei, sabendo dessa responsabilidade. Do meu ponto de vista, jogar pelo Brasil no futuro seria trair a seleção italiana. O Prandelli é um treinador que zela muito pelo país, pela cultura, origens. E a partir do momento que eu assumi essa responsabilidade de aceitar a convocação da Itália, eu vou representar este país. Este é o caminho a seguir, acho que vai ser um caminho longo. Tenho a certeza de que vai dar tudo certo, tenho um futuro promissor na Itália e não penso que não vou ser convocado.

Confira a entrevista completa:

Rômulo Hellas Verona (Foto: Agência Getty Images)Rômulo concentrado durante jogo do Verona: chance de ouro para disputar a Copa no país natal, mas não de amarelo (Foto: Getty Images)

GLOBOESPORTE.COM: Como foram esses dois dias de testes na seleção italiana?

Rômulo: Foi uma experiência muito legal. Todos me receberam muito bem, o treinador Prandelli, a comissão técnica. Então, eu me senti honestamente como se estivesse na minha casa com a minha família. Fizemos uma bateria de exames físicos e psicológicos, mas também deu para conviver e conhecer o grupo.

O Prandelli tem elogiado muito você. Ficou com a sensação de que vai disputar a Copa do Mundo?

Ele está observando todos estes atletas, não tem nada certo, mas eu estou muito feliz com esta chance. Para este grupo, acho que está tudo em aberto. Ele frisou que para ele era muito importante a parte física. Então, serão convocados aqueles que ele acha que estão mais preparados fisicamente. Pediu para a gente se cuidar, repousar e ter cuidado com a alimentação, que também é muito importante. A comissão técnica está atenta a todos esses detalhes. Essa fase final do campeonato vai ser fundamental. Com certeza, agora as expectativas aumentaram. Tenho de controlar um pouco a ansiedade, porque tudo é possível.

Ele disse que estava observando você em silêncio. Vocês já tinham conversado sobre a convocação?

Sim, conversamos há 15, 20 dias, quando ele veio assistir ao jogo do Verona. Foi o único jogo do campeonato que eu fiquei fora, porque estava suspenso. Mas a gente se encontrou no estádio, ele me chamou para bater um papo. Foi aí que me disse que estava me observando, e que a federação italiana estava verificando todos os meus documentos. Ele me disse que, se não houvesse nenhum impedimento com a documentação, eu iria ser convocado para estes testes em Coverciano.

Todos foram muito simpáticos. Buffon e Pirlo são os líderes, mais experientes, e me receberam superbem"
Rômulo

E como foi o reencontro com o Prandelli e seus novos colegas, Balotelli, Pirlo, Buffon. Quem é que mais o surpreendeu?

Dessa vez não falei nada em particular com o Prandelli, ele só me deu as boas-vindas. Com o Balotelli, falei pouco, porque ele chegou só na terça-feira, assim como os atletas do Juventus, que jogaram na segunda-feira à noite. Mas todos foram muito simpáticos. Buffon e Pirlo são os líderes, mais experientes, e me receberam superbem. Não esperava uma recepção tão boa. Alguns deles eu já conhecia também da Fiorentina. O grupo é muito unido, é uma verdadeira família.

É a sua primeira experiência em uma seleção, você nunca atuou pelas bases da seleção brasileira?

Não, nunca fui chamado, nem nunca houve um contato, uma aproximação, foi a primeira experiência da minha vida em uma seleção. O pessoal comenta um pouco, porque sou brasileiro. E é verdade, sou brasileiro, mas uma parte da minha família é italiana. Então, eu me considero meio-meio, tenho sangue italiano não só no lado profissional, mas também pessoal. A minha esposa também tem descendência italiana. Ficamos muito felizes. Sonhava com essa convocação.

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ascendência ITALIANA


Mas, afinal, você nasceu em Pelotas. Quem é o italiano da sua família?

É da parte do meu pai, os bisavós dele eram italianos da cidade de Mogliano (perto de Veneza) e no período da Segunda Guerra Mundial eles emigraram para o Rio Grande do Sul, para uma cidade pertinho de Pelota, onde eu cresci.

Rômulo Hellas Verona (Foto: Agência Getty Images)Rômulo joga mais como volante no Verona: brasileiro reconhece que precisa melhorar o italiano (Foto: Getty Images)


Mas, como só a quarta geração da família era italiana, não foi difícil conseguir o passaporte?

Na verdade, foi bem fácil conseguir o passaporte, porque, se a pessoa pesquisar e for até ao fim com a sua vontade, é possível. Eu não tenho só o passaporte, mas recebi inclusive um documento dizendo que sou um cidadão italiano desde o dia em que eu nasci. Isso me deixa muito orgulhoso.

Caso você não seja convocado para a Copa do Mundo, aceitaria no futuro uma convocação do Brasil?

Não. Quando o Prandelli conversou comigo a primeira vez, ele me perguntou exatamente isso, se eu me sentia honrado por vestir a camisa da Itália. Ele me chamou, e eu aceitei sabendo dessa responsabilidade. Então, do meu ponto de vista, jogar pelo Brasil seria trair a seleção italiana. O Prandelli é um treinador que zela muito pelo país, pela cultura, origens. A partir do momento que eu assumi essa responsabilidade de aceitar a convocação da Itália, eu vou representar este país. Este é o caminho a seguir, acho que vai ser um caminho longo. Tenho a certeza de que vai dar tudo certo. Tenho um futuro promissor pela Itália. Não penso que não vou ser mais convocado.

Já sei o hino italiano, que tem uma melodia linda. Sei a história do hino também, o contexto em que foi escrito e a história dos antepassados italianos, que é também a minha"
Rômulo

Se você for convocado para a Copa, vai ser estranho disputar o torneio no seu país, no Brasil?

Acho que não vai ter problema nenhum. Vai ser uma motivação a mais.

E como está o seu italiano? Já sabe cantar hino?

Eu falo bem o italiano, mas tenho de melhorar. É uma língua difícil em relação a pronomes, artigos e verbos, que são supercomplicados. Mas eu já consigo me comunicar superbem. Gosto da cultura, da comida. Eu e a minha esposa somos muito felizes em Verona. E também já sei o hino italiano, que tem uma melodia linda. Sei a história do hino também, o contexto em que foi escrito e a história dos antepassados italianos, que é também a minha.

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DISPUTA COM JONATHAN


No Brasil, você atuava como lateral-direito, aqui na Itália você joga quase sempre como volante. Como é que surgiu essa mudança de posição?

Na verdade, a Fiorentina me comprou como lateral-direito, mas eu sempre atuei em várias posições no Brasil, no Santo André, Cruzeiro, Atlético-PR. Aqui tenho atuado tanto como lateral-direito como no meio de campo, também já joguei em uma posição de ala-atacante do lado direito. Eu posso fazer duas ou três funções numa equipe.

E, curiosamente, você foi para o Cruzeiro brigar pela vaga de lateral-direito com o Jonathan. Ele também esperava uma convocação da Itália...

É verdade, o Jonathan é um grande jogador, pode ser que tenha pesado um pouco na decisão do Prandelli o fato de eu jogar em várias posições. De repente, ele não quer levar um jogador só para uma posição.

Você está emprestado pela Fiorentina ao Verona, mas tem vários times do campeonato interessados em você, Juventus é um deles.

Quando sai alguma coisa na mídia, não é só especulação, algum fundo de verdade tem. Mas eu não sei de nada, estou focado em terminar bem o campeonato com o Verona e depois analisar e conversar com Verona e a Fiorentina. Vamos sentar, discutir e ver o que é melhor para o meu futuro, porque o Verona tem uma opção de compra do meu passe, mas a Fiorentina ainda não sabe o que quer fazer. Eu só vou pensar nesses dois clubes.

Rômulo Hellas Verona (Foto: Agência Getty Images)Rômulo em ação pelo Hellas Verona: à espera da decisão da Fiorentina para a próxima temporada (Foto: Getty Images)


Quem é que vai ser o craque da Copa, Balotelli ou Neymar?

Vai depender dos dois primeiros jogos. Nesse momento, o Neymar está melhor que o Balotelli, mas tudo vai depender do que vai acontecer lá. O Messi também tem muitas chances de se destacar nesta Copa.

A Itália corre o risco de pegar o Brasil já nas quartas de final, e aí?

Não é nenhuma novidade, acho que é o jogo mais sentido de um Mundial, porque já disputaram várias Copas entre si, finais inclusive. Então, é um jogo que todo mundo espera durante uma Copa do Mundo. A Itália é candidata ao título, porque em 2006 a Itália não era favorita e venceu. Em outros anos, era favorita e não foi assim tão bem. É uma seleção muito forte e experiente. Eu aposto as minhas fichas na Itália.

Qual é o ponto de força desta seleção?

A união dos jogadores e a parte tática. Os jogadores italianos são muito obedientes taticamente e trabalhamos rigorosamente essa parte.