Cultura

Greve dos servidores da Cultura paralisa museus em todo o país

Trabalhadores de órgãos ligados ao setor já estão de braços cruzados desde esta segunda-feira

BRASÍLIA - A um mês da abertura da Copa do Mundo, cerca de 80 servidores do Ministério da Cultura aprovaram a greve em Brasília, que começará na quinta-feira. Em outros estados, como o Rio de Janeiro, os servidores da Cultura já estão em paralisação desde esta segunda. Segundo a organização do movimento grevista, praticamente todos os 30 museus do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) estão fechados, como o Museu Imperial de Petrópolis, o Museu Nacional de Belas Artes e o Museu da República. Os líderes do movimento grevista ainda afirmam que outros servidores federais podem se juntar à greve nos próximos dias.

Além de os museus correrem o risco de ficar de portas fechadas durante a Copa, as grandes festas juninas do Nordeste também podem ser afetadas pela paralisação. Há dez anos, não há atendimentos das reivindicações dos servidores da Cultura, segundo a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef). O Ministério da Cultura (MinC) deve receber os grevistas em uma reunião nesta quinta-feira.

— Não é só a Cultura que pode parar na Copa do Mundo se o governo não agir — alerta o secretário geral da Condsef, Sérgio Ronaldo. Ele conta que no dia 30 de maio haverá uma reunião nacional de vários setores federais, como educação, saúde e transportes, para votar uma greve nacional, que, se aprovada, começará dois dias antes da Copa. Maio está sendo um mês de reuniões locais.

— Vamos jogar tudo no colo da ministra Marta Suplicy. Temos uma tarefa árdua, uma verdadeira via sacra para cumprir — diz Otto Pereira, secretário geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais no DF (Sindsep DF), durante assembleia dos servidores na tarde desta segunda, em frente ao Ministério da Cultura. Os grevistas vestiam coletes negros com os dizeres "SOS Cultura".

A greve veio em um momento crucial para a prestação de serviços nacionais. Além de eventos anuais que ficariam prejudicados, como as grandes festas juninas no Nordeste, a Copa do Mundo pode ficar sem museus, por exemplo. Os grevistas da Cultura, que afirmam não serem recebidos para negociações há anos, utilizam o período para chamar a atenção para os problemas da classe. O grupo negou oportunismo com a Copa, mas falou em "oportunidade", já que há sete anosnão há negociação há sete anos, afirmam, interrompidas ainda no governo Lula.

Paralisação na Semana Nacional dos Museus

Os servidores elencam o Ibram como um dos órgãos mais fortalecidos na greve. Cerca de 30 museus estão paralisados, de acordo com a organização. A paralisação coincide com a Semana Nacional dos Museus, período em que essas instituições fazem programações especiais até o dia 18 de maio, Dia Internacional dos Museus. O Museu de Arte Sacra de Paraty (RJ), Museu da Inconfidência em Ouro Preto (MG) e Museu da Abolição em Recife (PE) são alguns dos que fecharão as portas, de acordo com a Condsef. Segundo pesquisa da Embratur feita na Copa das Confederações, programas culturais vêm logo abaixo do interesse em jogos de futebol, para o turista.

— A ministra (Marta Suplicy) sempre fala que quer mostrar, além do futebol, a cultura brasileira na Copa, os museus. O governo tem todas as oportunidades de atender nossas reivindicações, que são muito antigas e têm muito a ver com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, porque às vezes é só com eles. Imagina o turista da Copa sem museu — afirma Michel Correia, museólogo do Ibram e um dos líderes da assembleia de Brasília. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão foi mais criticado do que o MinC na assembleia.

Recomposição salarial imediata, equiparação salarial para o setor da Cultura, unificação da categoria, garantia de discussões futuras e o fim da contratação de terceirizados são as principais reivindicações. Não há avanços de acordos desde 2004 e nenhuma reunião desde 2010, de acordo com o grupo. A assembleia em frente ao MinC decidiu que cada órgão agirá da forma que julgar mais adequada, mas que haverá atos e caravanas em Brasília. Nacionalmente, cada estado está discutindo os termos da greve, mas é certo que a decisão de Brasília tem um grande peso — e pode culminar em uma greve nacional de vários setores dois dias antes da abertura da Copa.

— É uma grande representatividade, sem dúvida. Mas queremos alertar que não é só a Cultura que pode parar na Copa do Mundo se o governo não agir. A bola está com eles. Até o dia 29 de maio, haverá reuniões locais no país todo. No dia 30 de maio, faremos uma plenária nacional de servidores de todos os setores: educação, saúde, trabalho, todos esses ministérios aí. E se for aprovado, dia 10 de junho começamos uma greve nacional de tudo — explica o secretário geral da Condsef, Sérgio Ronaldo, que questiona o fato de o governo não receber os servidores da Cultura, mas aumentar os cargos comissionados.