Em meio a um caminhão de novos jogadores - a maioria pouco conhecidos -, a aposta que mais surpreendeu no Vasco de 2009 foi Rodrigo Pimpão. Atacante rápido, ousado e sem papas na língua, não sentiu o peso da responsabilidade e logo conquistou a torcida com gols no início da temporada de reconstrução. Cinco anos depois, com outro rebaixamento na conta, a Série B é mais uma vez o desafio do clube, e a tensão da estreia da equipe, neste sábado, contra o América-MG, cresce a cada momento. E foi do hoje destaque do América-RN, futuro rival cruz-maltino, o único gol do confronto com o Brasiliense, em 2009, também em São Januário, abrindo caminho para retorno à elite e garantindo a alegria aos 20 mil presentes no caldeirão lotado e vibrante. Desta vez, no entanto, não haverá público, já que, por punição, o jogo será com portões fechados.
A carreira de Pimpão, porém, ainda não decolou como em seus sonhos. Apesar de experiências positivas no Japão e na Coreia do Sul, o jogador de 26 anos jamais disputou o Brasileirão da Série A - à exceção de três partidas antes de sair da Ponte Preta, em 2012. Paralelamente, lamenta a nova situação difícil do Vasco - com a polêmica perda do título carioca, dentro de campo, e com a crise financeira, fora dele. Mas sem deixar de lado as recordações.
- As lembranças são muito boas. A conquista da Série B foi importante demais para mim e para o momento do clube. Foi uma das melhores fases que vivi e logo no início, superando as expectativas. Tenho um carinho grande aqui no América, vim numa situação difícil ano passado e o torcedor nos acolheu. Mas foram momentos ainda mais felizes no Vasco. Tanto que até hoje recebo mensagens de torcedores pedindo para voltar. É uma pena que não tenha se mantido no topo, mas tenho certeza de que vai voltar - afirmou.
Da vitória sobre o Jacaré, dia 9 de maio, que saiu através de um chute de pé direito perto da metade do segundo tempo, o atacante destaca a atmosfera que envolvia o estádio sob a condução de um lema marcante que foi protagonista durante a redenção do clube: "O sentimento não pode parar", em verso extraído de um dos cantos nas arquibancadas.
- Naquele ano difícil para o Vasco o apoio foi o diferencial. O torcedor
abraçou a causa e tinha aquela coisa do sentimento que não pode parar. O
lema era muito forte e nos empurrava. Tentávamos colocar para dentro de
campo e superar as dificuldades, já que éramos o time a ser batido, o
mais visado. Fomos muito felizes na estreia pela personalidade
e determinação, e os vascaínos, por entenderem que seria
importante comparecer. Sair vencendo é o primeiro passo para atrair o
público e o carinho. A motivação dos jogadores deve estar abalada, mas
tem de esquecer logo e focar na Série B - ensinou o ex-camisa 11, que não demorou para ganhar música em que o chamava de artilheiro e o colocava acima de Obina, do Fla, e Fred, do Flu.
Já há uma nova campanha e que começou às vésperas da competição,
após a divulgação inicial da ideia em fevereiro. Baseado no mote "Sempre
ao teu lado", modelos de camiseta foram distribuídos para quem foi à
Colina assistir ao jogo contra o Resende, na quarta-feira, pela Copa do
Brasil, e passarão a ser vendidos na franquia de lojas oficiais do
clube. Agora, falta pegar entre os torcedores.
Lesões e falta de confiança
No entanto, a trajetória de Pimpão no Rio não teve sequência. Uma lesão muscular e uma luxação no cotovelo o tiraram de ação por meses e seu último gol foi contra o Corinthians, na semifinal da Copa do Brasil, ainda em maio. Depois da moral com Dorival Júnior, a realidade era dura com Vagner Mancini, em 2010, que deixou claro em fevereiro que não contava com ele. A partir de então, foram cinco empréstimos e mais nenhuma oportunidade de provar seu valor.
- Não tenho mágoa de ninguém, até pelo contrário. Fiz amigos no clube, como o Ramon, o Titi, o Carlos Alberto me ajudou muito também, e o Rodrigo Caetano, que sempre me apoiou. Sempre que acabava o contrato com algum time, eu tinha o desejo de ser reintegrado novamente, sabendo que poderia demonstrar mais, ajudar o time. Mas as coisas foram andando da maneira como tinha que ser - disse, conformado.
Antes do período de frustração, o atacante aproveitou para aprender muito em São Januário. Por não ter passado por categorias de base, reconhece que era bastante limitado em certas características. Além da parte física deficiente, não sabia finalizar com a canhota. O pouco tempo no profissional no Paraná, em 2008, depois de sair do futsal, não lhe ofereceu essa variação.
- Ficava treinando no paredão mesmo depois de muitos treinos a pedido da comissão técnica, que me ajudou a vencer essa dificuldade. Aí em abril, contra o Bangu, marquei um gol de esquerda. O Ramon tinha falado que me pagaria um churrasco quando eu fizesse e, na comemoração, rolou até uma dancinha nossa (risos) - diverte-se.
Maturidade e cinco quilos a mais
Pai de Davi, de um ano e cinco meses, e marido de Fernanda, fruto de uma amizade da época da faculdade de odontologia - interrompida por culpa do futebol -, Rodrigo Pimpão está mais amadurecido e, garante, pronto para alçar voos maiores nos planos. A segunda passagem pelo América-RN é uma forma de mostrar isso. Curiosamente, o Vasco pode ser uma das vítimas na Série B. Seria finalmente sua primeira vez contra o clube que o ofereceu a projeção nacional.
- Mudou muita coisa desde aquela época. Era apenas meu segundo ano como profissional. Você é jovem, no Rio de Janeiro e acaba se empolgando um pouco. Joguei em quatro clubes fora do Brasil, em centros diferentes aqui e vejo o futebol de outro jeito. Tenho rendido cada vez mais a cada lugar que eu vou. No começo eu senti muita dificuldade. Tive que aprender a jogar no campo na marra. Agora me sinto 100% adaptado - avisou.
O processo mais importante desta evolução foi o fortalecimento físico. Com 65kg na época do Cruz-Maltino, costumava perder no corpo a corpo com os zagueiros quando a velocidade não resolvia. Segundo o atacante do time potiguar, são "cinco ou seis quilos a mais" para levar a vantagem.
Além da fase no Vasco, Pimpão não esconde sua admiração pelo Japão. Treinado por Levir Culpi, disputou a Liga dos Campeões da Ásia pelo Cerezo Osaka, foi artilheiro, mas um problema entre empresários impediu sua permanência. Depois, ainda em 2011, foi para o Omiya Ardija - que veio buscá-lo assim que pisou no Rio de Janeiro - onde não brilhou tanto e acabou negociado por investidores com a Ponte Preta. De acordo com ele, a nova diretoria afastou cinco atletas mesmo após um bom Paulistão.
Houve ainda o América-MG, em fase crítica, e uma aventura no Irã, pelo qual também viveu dias de destaque na principal competição de clubes do continente. Porém, a falta de pagamento abreviou sua estadia. Não sem antes encarar um perrengue para receber o visto de saída.
- Sofri para voltar porque não queriam liberar meu passaporte. Foram dois meses de negociação até entenderam que eu não podia esperar naquela situação. Por sorte, mantive contato com o pessoal do América-RN, e o presidente quis me contratar de novo em fevereiro. Lamento não ter tido continuidade no oriente, principalmente no Japão, que é um lugar que só coisas boas para falar. Pretendo voltar se tiver chance. Eu e minha esposa já estávamos até falando um pouquinho de japonês (risos).
Depois de tantos obstáculos, promessas não cumpridas e falta de sequência, Pimpão mudou de agente e agora trabalha com Márcio Bittencourt, o mesmo do técnico Muricy Ramalho. E acha que os dias melhores vão voltar. Na reestreia em Natal, na Arena das Dunas, que abrigará a Copa do Mundo, marcou gol. Para dar a volt por cima, estrela ele parece ter de sobra.