Economia

Economia brasileira fica estagnada em agosto, aponta índice do Banco Central

Analistas consultados esperavam alta mensal de 0,20% em agosto

BRASÍLIA e RIO - A produção industrial com altos e baixos, a inflação persistente, o câmbio em disparada e as incertezas do cenário internacional mostram seus impactos sobre a economia brasileira. Em agosto, a expansão da economia brasileira ficou praticamente estável. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado nesta quarta-feira, mostrou uma leve alta de 0,08% em relação ao mês anterior. O desempenho frustrou as expectativas dos especialistas do mercado financeiro.

A mediana das previsões de 25 analistas ouvidos pela agência Bloomberg era de uma alta de 0,2% em agosto. As projeções mais otimistas eram baseadas no resultado das vendas no varejo. Ontem o IBGE divulgou que houve um crescimento de 0,9% em agosto na comparação com julho. Foi o sexto resultado positivo consecutivo, mas mostra desaceleração. Em julho, o crescimento foi de 2,1%.

Já o IBC-Br vai no caminho contrário: mostrou uma aceleração frente a julho, quando o indicador mostrou uma retração da economia brasileira de 0,34%. O desempenho do apelidado “PIB do BC” tem oscilado bastante neste ano e já ficou negativo em três meses: fevereiro, maio e julho.

- O indicador de hoje vai confirmando as expectativas do mercado de forte desaceleração da economia na virada do semestre. Após um PIB vigoroso de +1,47% no segundo trimestre, devemos apresentar uma estabilidade no terceiro trimestre e não podemos descartar, por ora, uma ligeira contração, marcando uma desaceleração de +1,47% para algo próximo de 0%. - afirma Daniel Cunha, analista da XP Investimentos.

Para Eduardo Velho, economista-chefe do INVX Global Partners, o número do IBC-Br reforça a expectativa de uma queda da economia no terceiro trimestre, frente ao segundo trimestre.

— O IBC-Br fraco corrobora a ideia de que os estoques permanecem elevados e que o processo de desova dos estoques está em curso, sugerindo uma recuperação mais lenta da indústria. E talvez a recuperação da economia esperada para o quarto trimestre não seja tão forte quanto a do segundo trimestre — disse Velho.

Mesmo assim, o IBC-Br acumula um crescimento de 2,92% neste ano (na série que desconta todos os ajustes sazonais) e de 2,31% nos últimos 12 meses. A previsão dos economistas ouvidos semanalmente em uma pesquisa do Banco Central é que o Brasil crescerá 2,48% neste ano.

- Com o resultado apontado pelo indicador, mantemos, por ora, a expectativa de ligeira retração na margem da economia brasileira no terceiro trimestre, após forte expansão no segundo trimestre - afirmou diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, em comunicado divulgado aos clientes e ao mercado financeiro.

A expectativa de uma retração da economia no terceiro trimestre é compartilhada pelas consultorias LCA Consultores e Rosenberg & Associados. O resultado de agosto sugere um recuo de 0,2% e 0,1% no terceiro trimestre, respectivamente. O desempenho da indústria é que deve ajudar a guiar o resultado do PIB no terceiro trimestre.

“Por enquanto, permanecemos com a expectativa de um desempenho pífio do PIB no terceiro trimestre, com leve retração, podendo até ficar estável, a depender, fundamentalmente, dos dados de indústria”, diz relatório da Rosenberg&Associados.

A estimativa preliminar da LCA Consultores é que o IBC-Br avance 0,3% em setembro, frente a agosto, descontando os efeitos sazonais. Para o terceiro trimestre, a expectativa é que PIB agropecuário e indústria de transformação registrem queda, em contraponto a uma alta da indústria extrativa mineral, com a recuperação da produção da Petrobras. Já pelo lado da demanda, a consultoria espera queda da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, indicador de investimento) e aceleração do consumo das famílias. Isso por causa da inflação mais moderada de alimentos e do programa Minha Casa Melhor.

O IBC-Br foi criado pela autoridade monetária para balizar a política de controle de inflação no Brasil. Como o dado oficial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto de todos os bens e serviços produzidos pelo país e divulgado pelo IBGE) é muito defasado, o cálculo do BC tenta dar um norte em relação ao comportamento da atividade econômica.